Marco Antônio Pereira da Silva: Narrador boa-praça

Marco Antônio Pereira da Silva traz para o futebol frases, bordões e humor

Por Alexandre Pinto - 13/12/2013
O homem que veio 'balançar o barraco' do Coletiva.net é Marco Antônio Pereira da Silva. Na Rádio Gaúcha desde 1991, o locutor esportivo é conhecido pelos ouvintes por lançar diversos bordões e frases, que caem no gosto de todas as torcidas. Nascido em São Leopoldo em 25 de outubro de 1956, o escorpiano se considera um cara ansioso, amigo boa-praça e de coração enorme.
O filho de Adão Pereira da Silva e de Verena Lanfermann da Silva é amante do Rock and Roll e tem três filhos, Mariana, Eder e Henrique, sendo que este é pagodeiro e pai de Amanda e do recém-chegado Marco Antônio. Atualmente separado, mas namorando, Marco Antônio já foi casado mais de uma vez. Católico, se diz devoto de todos os santos, mas credita à timidez o fato de não participar de atividades religiosas com muita frequência.
Iniciou sua carreira em 1981 na Rádio Progresso, em Novo Hamburgo, cidade onde foi criado e, consequentemente, virou florianista (torcedor do Esporte Clube Novo Hamburgo). Depois de um período no Paraná, na Rádio União de Toledo, voltou a trabalhar no Estado pela Rádio Difusora. Em 1986 chegou aos estúdios da Rádio Guaíba, conquistando, quatro anos depois, a sua primeira participação em uma Copa do Mundo.
O locutor de seis Mundiais mantém uma rotina tranquila, realizando sempre uma política de boa vizinhança pelo bairro onde mora, o Centro, e com os colegas de profissão. Recentemente, deixou a presidência da Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg), depois de quatro anos no cargo. Apesar de não ser político, o comunicador gosta de fazer um trabalho direto nas bases, conversando com amigos e ouvintes, verificando as opiniões positivas e negativas dos principais assuntos.
Apresentador do programa noturno da Rádio Gaúcha Dose Dupla, e responsável por narrar jogos com muito humor, não quer nem pensar em fazer outra coisa. "Eu não me imagino em outra profissão. Só se eu fosse o guitarrista dos Rolling Stones ou do The Who", brinca Marco Antônio, que não sabe tocar instrumento nenhum, muito menos guitarra.
O humor no esporte
A forma brincalhona de ser é algo que está no DNA deste locutor, que acredita que fazer a alegria das pessoas e rir das mais variadas bobagens não pode fazer mal a ninguém. A televisão, o rádio e as conversas do cotidiano são as fontes de pesquisa que criam o repertório de frases, bordões e vocabulário utilizado em suas narrações. "Sempre gostei muito de ver programas humorísticos e tento trazer as características dessas atrações para a rádio. Seguidamente, estou analisando um ou outro artista, pois me chama a atenção o improviso e a descontração que existe no humor", conta.
'Caiu o Barraco', 'Mas que Peninha!', 'Que lance coisa querida'. Essas e outras expressões são conhecidas pelos ouvintes da Rádio Gaúcha. "O 'Mas que Peninha!', quando eu ouvi outra pessoa repetindo eu pensei: isso ficou bom, pegou, vou continuar usando", exemplifica. Muitas destas frases e bordões são momentâneas. De um campeonato para o outro essas expressões perdem sentido, mas continuam sendo lembradas. "De vez enquanto, os caras me cobram um 'É do Goiás', por exemplo. Algo que marcou muito, pois foi uma inflexão usada para lamentar os gols que o Goiás fazia na dupla Grenal", explica o episódio lembrado até hoje, por torcedores até de outros times. "Outro dia, um entrevistado de Goiânia disse que queria que eu narrasse o jogo lá para poder falar para a torcida 'É do Atlético Goianiense'".
Mas o que ficou como uma marca é o 'Caiu o Barraco', e consequentemente, outras frases fruto deste bordão surgiram. 'Quase desabou o barraco do time' e 'Balançou o barraco, mas não caiu' são algumas das expressões que não envelhecem e que são sempre lembradas.
Esta característica de misturar humor e informação esportiva transforma o comunicador em uma figura popular. Todos sabem quando Marco Antônio se aproxima da redação da Rádio Gaúcha. A voz alta pelos corredores da RBS é sempre reconhecida. "Meus colegas já estão acostumados comigo e as broncas que eu dou, às vezes, é só para que tudo vá bem. Eu sempre brinco que esta redação sem minha presença não existe", diz.
É ao vivo que o talento de transformar o jornalismo esportivo em uma atração radiofônica acontece. "Se eu vou lá e faço meu trabalho de narração extremamente profissional e técnica, sem um pouco de humor, certamente ninguém irá gostar", avalia. Esta forma de trabalhar, que mistura técnica com o humor, é fruto do que aprendeu com vários amigos. Como Wianey Carlet, que lhe disse certa vez: "Narre cada gol como se fosse um momento raro, para que nenhum gol seja igual ao outro", dica que sempre é levada para o microfone.
Junto com Wianey, os parceiros Luciano Périco, o Lucianinho, e Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, formam um time de profissionais que acabam se completando nas transmissões. "Muitas vezes o jogo requer muita seriedade, em uma decisão, por exemplo. Mas há aqueles momentos em que cabe uma sacanagem, um humorzinho, e de maneira muito natural acabamos fazendo isso sem programar", salienta.
Sonhos, gostos e desejos
Foi na infância que se descobriu comunicador. "Aos 10 anos eu já era o locutor do colégio, pois meus professores achavam que eu tinha capacidade", relembra. A voz bonita é uma herança familiar. "Minha mãe tem 85 anos e canta na igreja e a voz dela sempre se sobressai", orgulha-se. Sem pensar muito, entrou na Rádio Progresso em Novo Hamburgo e se formou no curso de locutor. Na época, seu maior desejo era trabalhar na Rádio Globo. Mas isso foi até um determinado tempo. Ao chegar à Rádio Gaúcha, percebeu que deveria formar uma carreira na emissora e dedicou-se ao máximo para construir uma trajetória profissional satisfatória e feliz.
Uma das maiores decepções de Marco Antônio é não ter talento para tocar guitarra. "Eu até tentei. Na minha família alguns parentes eram músicos. Brinco que na minha família sempre há alguém, em alguma geração, que não consegue escutar bem. Meu pai, eu e meu filho Henrique não nascemos para a música. Eu não consigo pegar as notas de maneira alguma", lamenta. Mas o seu lema nunca deixará de ser "Eu sempre fui, sou e serei Rock and Roll".
Fã de The Who, é colecionador de tudo sobre a banda, incluindo camiseta, bóton, chaveiro, caneca, blusão, touca, mochila, livros. Tudo muito bem guardado para nunca estragar. Seu principal hobby é pesquisar sobre o The Who e também sobre o Rock and Roll, desde coisas antigas, Rock clássico, anos 60 e 70 a bandas novas. Gosta de ler a biografia dos roqueiros e tem como filmes favoritos 'Tommy' e 'Quase famosos'.
Outro desejo é escrever um livro e até já possui dois temas que gostaria de abordar. Além de querer escrever sobre Rock and Roll, Marco Antônio gostaria de se dedicar à produção de histórias engraçadas, encantadoras e emocionantes do rádio esportivo. São tantas histórias para contar que, às vezes, considera-se um Forrest Gump.
Rumo à sétima Copa
Marco Antônio se autoavalia como um homem privilegiado, por ter tido a oportunidade de participar de seis Copas do Mundo até agora. Em 1990, ainda na Rádio Guaíba, ficou conhecido internacionalmente pela narração do jogo entre Brasil e Argentina durante o Mundial na Itália. "Um momento ruim para a história do futebol brasileiro, mas algo importante para mim", relembra. A classificação dos hermanos (por 1 a 0) tirou a seleção favorita do campeonato e decepcionou uma nação inteira amante do futebol.
A Fifa, como de costume, divulgou em vídeo os melhores momentos e a narração do estreante em Copas do Mundo ilustrou a tristeza do povo brasileiro. "'A Argentina está ganhando do Brasil. Estamos ficando de fora da Copa do Mundo' - narrava eu mais novo, bem magro e decepcionado junto com os torcedores. O vídeo é fantástico e eu fiquei marcado por isso. Na Argentina os caras me entrevistaram por muito tempo".
A sétima participação no Mundial de 2014 será algo sensacional para o narrador, que já esteve na Itália, Estados Unidos, França, Japão e África do Sul. Desta vez, Marco Antônio sentirá o prazer de transmitir um jogo de Copa do Mundo no Beira-Rio.
E desde agora já tem a Copa do Mundo de 2018 na Rússia como o próximo projeto de vida para conseguir atingir a marca de oito participações em Mundiais. "Depois disso, eu tenho que ter a responsabilidade e a sensibilidade de deixar para outra pessoa que esteja vindo por aí", anuncia. Mas a intenção não é abandonar o rádio. Marco Antônio Pereira da Silva ainda pretende alegrar muito as torcidas com suas histórias, frases e bordões por longos anos.
 
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