Patrícia Parenza: Nada é por acaso

Jornalista de Caxias do Sul, que se tornou influenciadora digital, desbrava as redes sociais apostando no conteúdo 50+

Patrícia Parenza, jornalista, influenciadora e empreendedora - Arquivo Pessoal

Natural de Caxias do Sul, interior do Rio Grande do Sul, Patrícia Parenza começou cedo a carreira na Comunicação, muito antes de ser, de fato, jornalista. Aos 18 anos, tornou-se apresentadora do Jornal do Almoço da TV Caxias, vaga que surgiu inesperadamente em seu caminho, enquanto estava de passagem pela emissora. E não seria aquela a única vez que a força do destino traria acontecimentos súbitos para a vida dela. Hoje, aos 51 anos, a profissional se aventura pelas redes sociais como influenciadora digital, algo que também ocorreu sem planejamento.

Dona de uma fala honesta, leve e bem-humorada, Patrícia não mirava o estrelato quando começou a produzir conteúdo para o perfil no Instagram. Contudo, os mais de 60 mil seguidores que hoje acumula na rede social não permitem negar o sucesso que tem. Com fotos, vídeos, lives e textos, a jornalista se direciona para o público feminino com mais de 50 anos, trazendo assuntos pertinentes a esse nicho. Menopausa, autoestima, moda, beleza, viagens e demais questões, todas abordadas com a naturalidade de uma mulher satisfeita consigo e em paz com a trajetória.

O instinto de ser um porto seguro e uma mão amiga para quem está à sua volta faz parte da personalidade da profissional. Amante de filmes lentos do cinema europeu, em sua generosidade, coragem, humildade e perseverança, Patrícia é uma Amélie Poulain tropical. Assim como a personagem dirigida pelo francês Jean-Pierre Jeunet - um dos diretores favoritos - em 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain', a jornalista sente prazer em ajudar os outros a florescerem, principalmente com o trabalho como influenciadora. "Temos que ter em mente que nunca é tarde pra começar nada. Não existe velho demais. Tudo é uma questão de espírito, desejo, alma", acredita.

De Caxias para o Oriente

Nascida em 23 de setembro de 1970, a filha caçula do policial federal Germano e da dona de casa Olides teve uma infância humilde na tranquilidade da cidade serrana que, naquela época, era muito mais interiorana do que hoje em dia. Irmã da Beatriz, da Stelamaris e do Germano, Patrícia recorda com carinho os momentos que compartilharam. Entre as memórias favoritas, costuma reviver a aventura das brincadeiras noturnas na rua. "A gente brincava de pega, esconde-esconde e andávamos de carrinho de rolimã. Essas lembranças eu vou ter pra sempre", relata. 

Essas recordações voltam à jornalista não apenas pela memória, mas também pelos sabores da culinária italiana. "Na minha casa, não tinha feijão com arroz, tinha polenta e galeto", comenta a influencer que, além do tempero europeu, também aprecia muito a culinária oriental: "Tailandesa, vietinamita, essas comidas mais exóticas". E a ligação com o outro lado do mundo não ficou apenas limitada à comida, visto que construiu uma relação muito próxima com o budismo, após realizar um retiro no templo de Três Coroas, interior gaúcho, no final dos anos 1990. Com o aumento do interesse, optou por frequentar o templo de Viamão, na região metropolitana, onde aprendeu os ensinamentos do Lama Padma Semten.

Patrícia chegou a se dedicar diariamente às orações e aos rituais do budismo. Contudo, o ritmo acelerado da vida ordinária acabou afastando-a da religião. "A prática tradicional precisa de uma dedicação muito grande. Tu tens um tempo por dia para as orações e eu fui perdendo isso, infelizmente", lamenta, embora ainda traga para a vida vários preceitos da cultura. "Acredito na ação e reação, no karma, nesses conceitos básicos do budismo e isso rege a minha vida", comenta.

Desbravadora

A carreira na Comunicação começou cedo. Aos 18 anos, se estabeleceu por um breve período na Studio Uno, uma das mais prestigiadas agências de publicidade da época, onde atuou ao lado do publicitário, já falecido, Michele Caetano como RTVC. Entre as atribuições, costumava virar noites gravando comerciais e, pela manhã, embarcava no Expresso Caxiense rumo a Porto Alegre. A missão era simples: entregar as fitas nas emissoras para que o conteúdo fosse ao ar no dia seguinte. O mesmo trabalho, ela realizava na TV Caxias, até o dia em que a entrega foi interrompida pelo chefe de Jornalismo que, elogiando sua aparência e voz, fez a proposta que traria o primeiro grande desafio da carreira: que ela participasse dos testes para ser a nova apresentadora do Jornal do Almoço da emissora.

E munida daquele tipo de coragem que a pouca idade pode garantir a alguém, Patrícia topou a provocação. O resultado foi observado uma semana depois, quando já estava sentada em frente às câmeras, ao vivo, sem teleprompter e sem conhecer nada sobre Jornalismo. Olhando para trás, hoje, ela afirma com convicção que "aquilo foi uma loucura!". E relembra as dificuldades que enfrentou: "Eu fiz tanta porcaria, escrevi tanta coisa errada e falei tanta bobagem".

Entre trancos e barrancos, a experiência na emissora caxiense seguiu até a influencer se mudar para São Paulo, a convite de Michele. E sem perder a mesma bravura que a havia trazido até ali, largou tudo e desembarcou em solo paulista, onde, além de trabalhar com o publicitário, conseguiu estágios na Editora Abril e TV Cultura. No entanto, o que por um momento parecia ser o suficiente, logo começou a gerar dúvidas em uma jovem Patrícia, que seguia jornada pela Comunicação sem formação nenhuma. "Não sou jornalista, o que eu tô fazendo aqui?", perguntava-se diversas vezes.

Comunicadora nata

Foi guiada pelo ímpeto de se profissionalizar que Patrícia retornou aos braços da terra natal para ingressar na Universidade de Caxias do Sul, lugar onde encontrou dois grandes parceiros da profissão e da vida: Rene Goya e Patrícia Pontalti. Sem estar graduada ainda, tornou-se colunista do jornal O Pioneiro, dando razão a uma unanimidade entre aqueles que tiveram contato com seu trabalho: "Todos os chefes sempre me disseram: 'Tu tens muita facilidade em se comunicar, isso é uma coisa natural em ti'. E eu sempre entendi isso como um grande valor", orgulha-se a jornalista, que hoje acredita que o grande diferencial como influenciadora são os vídeos.

E foi motivada pela segurança em seu talento que, em 1997, começou a erguer a Estação Filmes ao lado de Rene, empreendimento que proporcionou o momento de maior satisfação na carreira ao produzir a série 'Criadores do Brasil' para o canal GNT. Em quatro episódios, Patrícia construiu um retrato da Moda do País em 2002, a partir de entrevistas com estilistas e compradores na São Paulo Fashion Week. "Foi muito legal e foi a primeira coprodução da Estação Filmes com um canal nacional. Nós fomos pioneiros no Estado", festeja. E a relação com o grande evento de moda paulista não se limitou à produtora.

Em 2003, a jornalista abraçou uma nova aventura como apresentadora do programa Estilo, na TV Com, e as semanas de moda viraram parada obrigatória. Editora de moda na Zero Hora, Patrícia Pontalti fazia o mesmo percurso que a xará, o que gerou maior aproximação entre as duas. "A gente andava juntas e todo mundo dizia: 'Olha lá, as Patrícias do Sul'", brincou. E foi na inocência do apelido que a influencer teve uma ideia: "Um dia, olhei pra ela e disse: 'A gente tem que aproveitar isso e fazer uma empresa'". E em 2005 surgiu a consultoria de moda para empresas 'As Patrícias', que atua na produção de desfiles, conteúdo, eventos, desenvolvimento e edição de coleções.

Quem acolhe aquela que acolhe?

Quem vê Patrícia gerindo duas empresas e ainda arranjando tempo e disposição para orientar outras mulheres nas redes sociais, sequer imagina que ela mesma já esteve em alguns abismos. O primeiro deles ocorreu ainda na TV Caxias, onde foi vítima constante de assédio por um colega de bancada. Sempre segundos antes de entrar no ar, era obrigada a ouvir "alguma bobagem relacionada ao meu visual ou ele colocava a mão na minha perna", o que a fazia começar o programa "tremendo de pavor". Devido à proeminência do colega na emissora, a jornalista sofreu calada até o dia em que teve que juntar coragem para dizer: "Chega!". Esse momento, ela acredita que nenhuma jovem de 18 anos deve passar.

Entretanto, o maior baque sofrido foi na vida pessoal, quando, em 1997, envolveu-se em um acidente de carro, que resultou na morte de um ciclista. Havia saído de Caxias do Sul e dirigia em direção a Farroupilha quando a bicicleta surgiu na sua frente, conduzida por um homem embriagado. Apesar de inocentada no decorrer da ação judicial, Patrícia não conseguia superar o acontecido. "O chão abre, tu cai lá embaixo e pensa: Quem eu sou? O que eu quero da minha vida? Qual o significado?", relembra. Sofrendo de ataques de pânico e sem forças para se recuperar sozinha, foi nesse período que surgiu o primeiro contato com a prática budista. A espiritualização foi o caminho que ela encontrou para se reerguer em um processo interno, o qual durou cerca de oito anos. "O ideal seria aprendermos com coisas boas, mas, às vezes, só acontece na pior das hipóteses", pondera.

Em suas próprias palavras, Patrícia se define como "uma mulher forte, potente e realizadora", atribuições que ajudaram a moldar sua história e superar as dificuldades. Porém, mesmo com tanta garra, a jornalista ainda garante que é uma "manteiga derretida", uma pessoa emocionada, de coração gigante e que se toca com facilidade. "A gente não é só uma coisa. Assim como sou capaz, também sou um bebê que pede colo", brinca. Colo esse que ela encontrou no publicitário Marcelo Pires, com quem já se relaciona há dois anos. "É um amor pandêmico", brinca, ao explicar que o namoro começou em janeiro de 2020, pouco antes da pandemia se agravar ao redor do mundo.

O outro companheiro da jornalista é o filho, Lorenzo, de 13 anos, fruto do relacionamento de oito anos com o consultor Alexandre Bitar, que conheceu em suas idas ao templo budista de Viamão. Ao primogênito, ela gosta de dedicar seu tempo livre para viajar à praia ou à serra, passear, andar de bicicleta ou ir ao cinema. "Eu tento a cada dois ou três meses dar uma escapadinha do trabalho por uns quatro ou cinco dias", revela. Outra atividade que costuma realizar com o filho é acompanhá-lo aos treinos e campeonatos da escolinha de futebol. Apesar de, pessoalmente, não se interessar muito, Patrícia reconhece o amor de Lorenzo pelo esporte e nutre um grande carinho pelo Internacional e pelo Caxias, clubes com os quais têm uma maior afinidade, herança de seu Germano.

Envelhecendo sem pirar

Mulher, mãe, filha, irmã, namorada, amiga, jornalista, empreendedora, sócia, influencer? Patrícia se multiplicou em mil e uma faces durante a vida. E para o futuro, espera poder voltar a dançar e ganhar mais prática na patinação, um sonho que cultiva desde a adolescência. Profissionalmente, a expectativa é estar cada vez mais ocupada com o trabalho nas redes sociais que, apesar de ter surgido de forma inesperada, caiu como uma luva na realidade dela. "É uma coisa nova, que veio meio sem querer, mas faço com prazer, porque sei que ajudo muita mulher", explica.

Ao abraçar com carinho o papel de influencer, Patrícia corrobora uma das filosofias que carrega no coração e na mente. A entrada prematura na TV Caxias, as idas e vindas da sua cidade natal, as relações firmadas com seus sócios e até mesmo o triste acidente de carro, que a levou a se tornar praticante do budismo e possibilitou que conhecesse o pai de seu filho, tudo isso é justificado nas palavras simples e diretas do seu lema: "Nada é por acaso".

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