Políbio Braga: Polêmica nos Pampas

Ele já passou por todas as redações de Porto Alegre e responde hoje a 12 processos por crime de opinião. Escreveu quatro livros, pretende ter uma TV na web. Assim é o polêmico Políbio Braga.

Políbio Adolfo Braga nasceu em Blumenau e, aos seis meses, mudou-se com a família para Jaraguá do Sul, no interior de Santa Catarina, onde viveu até completar o ginásio. De origem pobre, começou a trabalhar ainda adolescente fazendo capina e carregando mercadorias, para, segundo o próprio conta, obter o primeiro sonho de consumo: uma bola de futebol. "Éramos muito humildes. Só fui tomar banho de chuveiro  mesmo aos 17 anos", relembra ele.

Com apenas 16 anos, teve a primeira experiência como jornalista no jornal Correio do Povo, de Jaraguá do Sul, onde escrevia sobre situações cotidianas, sobre os amigos e o time de futebol da cidade. Apesar do jornalismo ter surgido bem cedo em sua vida, até o segundo ano da faculdade de Direito ele sempre quis ser advogado. Acabou se formando pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em 1975, mas só exerce a profissão para defesa própria, principalmente nos processos por crime de imprensa. Atualmente, responde a 12 ações contra opiniões e informações publicadas na coluna online diária que leva seu nome, da qual é diretor há quatro anos.

Após concluir o Ensino Médio em Joinville, passou por Florianópolis e pelo Rio de Janeiro, até chegar em Porto Alegre, fugindo da ditadura militar, com 24 anos. Nesta época, Políbio já carregava um amplo currículo de "contestador" do regime. Foi presidente da União dos Estudantes de Joinville, da União dos Estudantes de Santa Catarina e da União Brasileira. "Também era diretor do jornal Folha Catarinense, do Partido Comunista, e assessor de um parlamentar de extrema esquerda, além de atuar como colunista em jornais como A Notícia, que hoje é um dos principais de Santa Catarina", lembra. Porém, Políbio enfatiza que não era filiado ao Partido Comunista, pois considerava as visões "ainda conservadoras", se declarando apenas um simpatizante das causas do grupo político.

Em 1964, se refugiou em Porto Alegre para escapar das punições dos órgãos de repressão. Foi então que trabalhou no jornal Zero Hora e na Rádio Gaúcha, com um nome parcialmente falso - Adolfo Braga, ocultando o "Políbio" -, até ser preso por suas posições políticas, em 1966, e transferido para uma prisão no Paraná, a famosa "Ahú". Ao voltar, seis meses depois, "Adolfo Braga" atuou na Revista do Globo e dirigiu a redação da Sucursal do Correio da Manhã em Porto Alegre - o veículo contava com uma equipe jornalística de primeira linha (faziam parte Paulo Francis, Washington Novaes e Carlos Heitor Cony, entre outros) e foi decisivo para a queda de João Goulart, presidente do país, na época. "Nem me lembro de quantas vezes fui preso. Só em um dia, cheguei a ser preso quatro. No total, deve ser umas 10, 12 vezes", conta. No ano passado, o jornalista publicou um livro que narra duas de suas principais prisões, nos períodos de 1966 e 1969: Ahú - Diários de uma prisão política.

Não há nenhum veículo de comunicação da Capital no qual Políbio não tenha atuado durante a carreira jornalística de mais de 40 anos. Com muito orgulho, o jornalista faz questão de frisar que as passagens por todos os veículos de Porto Alegre contribuíram muito para sua formação, tanto pessoal quanto profissional. "Na verdade, eu iniciei no jornalismo como colunista e estou terminando minha trajetória como tal", brinca Políbio, ao revelar sua predileção pelo colunismo. Em 2000, o jornalista deixou suas atividades no jornal Correio do Povo, no qual atuou por 10 anos, e decidiu montar o seu próprio veículo, o site Políbio Braga Online. "O jornalismo digital foi minha última trincheira. Saí de diversos veículos de comunicação, exclusivamente por pressões do Governo", afirma. O site e a newsletter, que conta com 70 mil assinantes, abastecem uma coluna do jornal O Sul e de outros veículos do Estado. "Sofri mais com o cerceamento à imprensa no governo Olívio Dutra do que na ditadura militar", acusa.

As iniciativas de empreendedorismo de Políbio não são de hoje. O jornalista já foi proprietário de editora, jornais, revistas, gráficas e assessoria de imprensa. Além do Ahú, escreveu ainda os livros A Casa Civil, no qual narra sua experiência na chefia da Casa Civil do RS, Manual do Vereador e Perfil do Pólo Petroquímico do Rio Grande do Sul.

O jornalismo acima de tudo
"Depois que me casei, não fui mais preso", afirma Políbio, casado há 34 anos com Raquel, com quem tem três filhos: o xará Políbio, de 34 anos, jornalista e assessor de imprensa, Frederico, de 30, e Pedro, de 26. Estes dois, mais moços, são sócios da Cyber Tecnologia. Workaholic assumido, o jornalista diz trabalhar sábado e domingo, mas, em um fim de semana por mês, tenta descansar com a esposa em Gramado, onde tem um apartamento. Como atividade física, pratica meia hora diária de ginástica canadense, logo que acorda. "A ginástica canadense é feita em apenas um metro quadrado. Não é para dar força, nem músculos. Só trabalha a resistência física. E eu tenho muita resistência", orgulha-se.

Apaixonado por viagens ao exterior, já tem agendado, para agosto próximo, conhecer a Inglaterra, a França e a República Tcheca. Entre os lugares já visitados, destaca a Itália com uma euforia contagiante e afirma que conhecer o país lhe abriu a cabeça de "forma descomunal". "Me senti diante das minhas origens, das origens ocidentais. Tive um choque muito interessante lá", conta. Políbio afirma que a visita a Roma o fez entender a "forma que falamos, que escrevemos, que nos vestimos e, até, que nos penteamos".

Ele garante que lê até quatro livros, simultaneamente. Agora, está lendo A Última Batalha - que se refere à batalha de Berlim -, de Cornelius Ryan, Instinto de Repórter, de Eliane Lobato, e À espera da neve em Havana, de Carlos Eire. Entre as preferências musicais, é enfático ao revelar: "Eu gosto de música clássica ou músicas orquestradas. Bate-estaca e essas barulheiras eu não agüento". Mas é seleto na hora de escolher os compositores. Não é fã de Beethoven nem de Wagner, considerando-os "muito frenéticos". Aprecia, principalmente, as composições de Verdi, Chopin, Mozart e Liszt.

Oito ou oitenta
"Brigão e amigo". É o principal defeito e a qualidade  que o jornalista atribui a si. Admite que não há hipótese de recusar uma boa discussão, de aquietar-se com uma intimação. "Discuto até cair morto", diz. Garante que nunca falha com um amigo  e que "quanto mais na desgraça o camarada estiver", mais leal ele é. "Gosto de ser o último amigo que o sujeito tem", diz.

Políbio confessa que não nutre sonho algum e que prioriza viver o presente. Seus projetos profissionais giram em torno de continuar fazendo jornalismo com competência. "Tenho um milhão de idéias para essa área de jornalismo digital", se empolga o jornalista, que pretende montar uma emissora de rádio e TV, via web. Além de querer escrever um livro sobre o jornalismo online, também pretende abordar "os 16 anos da administração do PT em Porto Alegre" e "a censura à imprensa no governo Olívio Dutra", em suas próximas publicações.

Ao garantir que não se considera um jornalista de sucesso, Políbio atribui o "certo reconhecimento" que conquistou à coerência referente ao que diz, ao que pensa e à sua persistência constante. "Também não tenho problemas em mudar de opinião, se me convencerem de que estou errado", diz em tom humilde. Para ele, é muito difícil alcançar o êxito profissional na área do jornalismo em Porto Alegre. "Isso aqui é um atraso de vida. O jornalismo daqui chegou aos últimos degraus de importância e credibilidade", avalia em tom enfático.

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