Celso Augusto Schröder: Político e Social

Porto-alegrense no registro e santo-angelense no coração, o jornalista dedica-se à carreira docente e à militância pela valorização da profissão

Celso Augusto Schröder - Reprodução

Pensar muito sempre foi uma característica do jornalista Celso Augusto Schröder. Nascido em Porto Alegre há 53 anos, se diz um santo-angelense. "Nasci em Porto Alegre mas minto que sou de Santo Ângelo, onde fui morar com um ano de idade e fiquei até os 18", conta, definindo o período como o mais importante da sua vida. Filho do técnico em Contabilidade Augusto Schröder e da professora Ivete, tem dois irmãos mais novos, Marco Aurélio e Isabel Cristina. Da infância ainda recorda os medos: da morte, das coisas não compreendidas, da infinitude. De família muito católica, define a sua primeira comunhão como um dos momentos mais felizes desta época, embora um ano depois - aos 10 anos de idade - tenha deixado de acreditar em Deus. "Minha primeira comunhão não resistiu à primeira aula de ciências e comecei a sentir orgulho de ser ateu porque minha decisão não afetava em nada a minha vida", justifica.

Descendente de uma geração de alemães que atuavam como professores, o gosto pela leitura foi despertado ainda na infância. "Aos nove anos ganhei de presente do Natal do meu pai a coleção inteira do Monteiro Lobato", conta. O menino moleque que gostava de brincadeiras de rua, às vezes dava lugar a uma criança intelectual, com preocupações sociais. Pertencia a uma família de classe média baixa e, embora sempre estivesse inserido na elite, não por dinheiro mas por tradição familiar, contestava as diferenças. "A adolescência foi um período de profunda tristeza. As diferenças me angustiavam, não pelas meninas que começaram a preferir os feios com grana aos pobres bonitos, mas por existir características que separavam as pessoas".

Necessidade de renovação

Os anos 60, marcados pela mudança de costumes, foram também um marco para a vida do jornalista. Aos 13 anos, o adolescente em busca de respostas e de um caminho descobriu o Rock'n Roll. "Eu lia muito, freqüentava a biblioteca da cidade sozinho, e ia ao cinema, onde ouvi o rock pela primeira vez em um filme e disse: é isso aí. Foi então que fiz uma opção pelo novo, vi que sentia necessidade de renovação". Esse caminho foi trilhado juntamente com o irmão, Marco Aurélio, que transformava em ações o que Celso pensava. "Eu era o intelectual e ele o ativista", recorda.

A adolescência foi marcada ainda por um período de estudos em um colégio interno, em Ijuí. "Foi uma maravilha! Pela primeira vez estudei com meninas na mesma sala de aula. Foi lá que despertei para a vida política, já que reagia às normas do colégio, que era muito conservador". Na volta para Santo Ângelo sentiu "um respiro de liberdade". Nessa nova fase, já no início dos anos 70, adotou um comportamento agressivo visualmente (cabelos compridos, trajes hippies) e passou a questionar os valores da cidade e das relações amorosas, passando a apostar em relações mais verdadeiras. "Ao lado dessa rebeldia comportamental comecei a fazer política". Aos 18 anos o jovem descobre, "intelectualmente e completamente desvinculado de qualquer grupo", o trotskismo. "Vi que ao lado do rock e da literatura, era aquilo, e virei trotskista".  

O talento para o desenho e a facilidade em matemática levaram-no a optar pelo vestibular para o curso de Arquitetura na Ufrgs. Com a reprovação permaneceu na capital onde iniciou um curso na área chamado "Módulo". "Foi outra maravilha! Muitos dos meus colegas seguiram na Arquitetura, mas a maioria saiu de lá cartunista, como o Santiago e o Edgar Vasques", revela ele que passou a desenvolver as duas atividades. Fazia cartum por prazer e cursava Arquitetura na Unisinos, por necessidade. "Aos 21 anos estava casado com minha namorada de Santo Ângelo, que veio para Porto Alegre estudar Astronomia, a Maria de Fátima Saraiva, e eu precisava trabalhar", conta. "Sabia que não era Arquitetura que eu queria. Passei dez anos fazendo uma coisa que eu odiava: projetos elétricos e hidráulicos". O trabalho para o sustento da família era aliado à paixão pelo desenho. "Pouco antes da minha filha Karina nascer, em 1974, eu publiquei, na Folha da Manhã, meu primeiro cartum". Com orgulho relembra o elogio que recebeu publicamente de Luis Fernando Verissimo pelo cartum publicado no livro 14 Bis, obra que reunia desenhos de 14 cartunistas. 

O encontro com o jornalismo

O curso de Arquitetura, nunca concluído, foi abandonado. O contato com as redações e os cartuns que publicava despertaram o interesse pelo Jornalismo. "Acho que sou o único jornalista que fez o curso com o objetivo de ser diagramador", diverte-se. Em 1978 ingressou no Jornalismo da PUC. Seis meses depois assumia o diretório acadêmico do curso. Depois de uma passagem pelo grupo Libelu (Liberdade e Luta), onde participou dos primeiros movimentos de rua de Porto Alegre, filiou-se ao PT assim que o partido foi fundado. O curso de Jornalismo foi concluído em 1982 e o interesse por uma carreira docente o fez iniciar um mestrado, até hoje não concluído. "É uma das minhas metas", afirma. O primeiro emprego como jornalista foi em 1983, no Correio do Povo - na função almejada de diagramador - e em seguida passou a fazer ilustrações para o jornal. Dois anos depois começou também a lecionar na PUC.

Movido pelos ideais políticos e sociais, ingressou no Sindicato dos Jornalistas, do qual foi presidente em 1989. A militância sindical o afastou do Correio do Povo. Em 1996 foi secretário de Comunicação do PT. Sobre a crise atual do partido, Schröder se diz "chateado". "Acho de um cinismo bárbaro ignorar como se dá os financiamentos e o caixa dois, mas aprendi a ser mais tolerante e resolvi dar um crédito ao partido em função do valor histórico que ele tem", defende.

Hoje, além de professor do curso de Comunicação da PUC, o jornalista atua como secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul e da Fenaj  (Federação Nacional dos Jornalistas) e coordena o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). 

Busca pela qualidade

Os poucos momentos livres que tem, Schröder aproveita com os filhos Karina (32 anos), do primeiro casamento, Paula (11 anos) e Gabriel (5 anos), do casamento com a jornalista Dica Sitoni, de quem está separado há cinco meses, depois de uma união de 16 anos. "Saio com eles pra almoçar, vou ao cinema, procuro ter um lazer de qualidade", afirma. Para cuidar da saúde, o jornalista pratica atividades físicas sempre que pode, como natação, corrida e caminhada. Já a alimentação não é nenhum problema para Schröeder, já que não considera a comida um dos prazeres da vida. "Descobri que não gosto muito de comer", revela, destacando a preferência por frutas e por pratos simples como arroz e feijão.

A conclusão da sua tese de mestrado é, no momento, um dos principais objetivos do jornalista, que pretende seguir buscando qualificação nas atividades que se propõe a fazer. Já na vida pessoal tem no horizonte a relação afetiva como possibilidade. "Não quero abrir mão disso. Um dos meus defeitos é não cuidar das amizades e dos afetos, embora busque isso, tenho consciência da minha incapacidade", diz revelando como pontos positivos da sua personalidade a busca pela qualidade. "Tenho a convicção, desde cedo, de que as virtudes são construídas e exigem dedicação".

Sobre os "mistérios que cercam nossa existência", Schröder não faz nenhum esforço para entendê-los. "Sou um materialista no sentido de não ver nada além da manifestação da matéria. Minha posição em relação ao mistério é de que não é dado ao ser humano a capacidade de compreensão". Sendo assim, procura fazer tudo da melhor maneira possível. "O que vai ficar é a lembrança das coisas que fiz, e sei que essa lembrança também é efêmera", avalia. Para ele, o diferencial na vida é ter coisas a se propor a fazer e realizar parte delas já é uma grande conquista. "Penso sempre que eu faço o que posso e não o que quero, e se o que posso me satisfaz, tenho sucesso", acredita. Influenciado pela literatura desde a infância, relembra o personagem do livro de Charles Dickens - David Copperfield - com o qual se identificava pelos questionamentos e angústias sobre a vida. "Ele dizia que só o tempo poderia responder se seria ele ou quem, o herói da sua história. Eu também me perguntava isso e hoje não tenho dúvida: sou eu o pequenino herói da minha história". 

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