Rodrigo Guimarães: Poucas palavras e muita animação

Apesar da timidez, empresário fala do amor pela família e por diversas áreas culturais

10/06/2011 00:00
Por Márcia Farias Tímido, ele custa a se envolver com a entrevista. No entanto, apesar da economia no uso das palavras, Rodrigo Israel Machado Guimarães se revela um profissional inteligente, metódico e muito tranquilo. Sócio do estúdio de animação Dr. Smith!, Rodrigo nasceu no Rio de Janeiro, morou em Santos, em São Paulo e até em Portugal, mas escolheu Porto Alegre como residência e não se arrepende disso. Ao contrário, assegura que nunca pensou em fixar a vida e a família em outro lugar que não fosse a capital gaúcha. Aos 49 anos, diz se sentir realizado profissionalmente, embora ainda alimente muitos planos a serem alcançados. Pai da Nina, de cinco anos, e marido de Cylene, com quem vive há 20, Rodrigo é filho de jornalista e de taquígrafa da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A relação com o pai Josué Guimarães, um dos escritores mais importantes do Rio Grande do Sul, é um dos assuntos que mais lhe desperta entusiasmo. O amor pela mãe Nydia Guimarães e o gosto dela pelas artes também são explicitados. Nydia foi secretária de Cultura de Canela e presidiu a Fundação Cultural da cidade, entre outras várias atividades culturais e comunitárias. A genética O orgulho da família é ressaltado de forma sutil, mas por diversas vezes. Aliás, há quem diga que a timidez é herança do pai, autor de obras como a triologia 'A Ferro e Fogo' e 'Tambores Silenciosos'. Ao longo da conversa, lembranças, manias e características de Josué, falecido em 1986 ? vítima de câncer -, são trazidas à tona. ?Além de jornalista, ele era artista plástico, escritor e publicitário. Sempre tive incentivo em casa para estas atividades ligada à cultura e à comunicação?, recorda o irmão mais velho de Adriana, que também trabalha com computação gráfica. Um irmão e três irmãs do primeiro casamento do pai completam os herdeiros. Quando fala da mãe, Rodrigo é só sorrisos. Hoje com 82 anos, Nydia mora com Adriana em Canela. A primeira característica que ele encontra para defini-la é o amor pelos animais. Além disso, ele garante que a história dos pais foi baseada em muito amor e companheirismo. Os sentimentos são destacados em função de Josué ter sido ligado à política e ter mudado de endereço por diversas vezes em função do exílio e ter Nydia e os filhos sempre junto. ?Até hoje ela é apaixonada por ele. Foi uma história muito bonita?, elogia. Outra pessoa da família que faz Rodrigo se derreter, mesmo que de forma comedida, é a pequena Nina. Apesar de limitar-se a defini-la como ?uma gracinha?, ele logo elogia que agora ela está na escola e começando a despertar alguns traços de personalidade. O senso de humor é um deles. ?É muito interessante essa fase, pois ela está aprendendo o que é engraçado ou não, então passa bastante tempo tentando contar piadas e rindo sozinha.? Os olhos azuis não escondem o nervosismo em falar de si mesmo, aliás, ele nem chega a se definir: ?Quem tem que falar de mim são os outros?. É o que faz a irmã Adriana, que o caracteriza como ?um sujeito absolutamente reservado, mas extremamente generoso?. E ela completa: ?Além de um pai totalmente dedicado, o Rodrigo é uma pessoa com quem se pode contar de forma incondicional. Esta é uma certeza da minha vida?. A inspiração Trabalhar com animação requer muita criatividade e conhecimento de algumas áreas, entre elas o cinema. Foi justamente pela sétima arte que Rodrigo entrou neste mundo. Devido ao interesse pelo audiovisual, na juventude, ganhou do pai uma câmera Super Oito ? equipamento voltado para gravação de curtas-metragens, hoje, pouco usual. Com o presente, reuniu alguns amigos e dedicou-se, como forma de lazer, a produzir filmes amadores. Em certa ocasião, a brincadeira deu certo: a produção 'Esplantoso' foi inscrita no Festival de Cinema de Gramado e recebeu uma menção honrosa. A paixão pelo cinema aumentou após sua participação em uma exposição no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, que exibia trabalhos do animador canadense Norman McLaren. Ao ver o que o cineasta era capaz de fazer com uma câmera, decidiu que poderia fazer o mesmo. E fez. Voltou para casa e passou a ensaiar em seus equipamentos os mesmos efeitos especiais utilizados nos trabalhos de McLaren. A admiração foi tamanha que, hoje, guarda um livro autografado pelo ídolo. Paralela ao gosto pela animação, surgiu a oportunidade de se aprofundar no assunto através de um intercâmbio do Brasil com o Canadá. Foi o único gaúcho a ter a chance de estudar no Rio de Janeiro com o cineasta carioca Marcos Magalhães e outros três professores canadenses. Durante um ano, Rodrigo integrou um seleto grupo de 10 jovens e produziu um curta-metragem. Outra seleção e uma nova escolha.Desta equipe foram selecionados cinco alunos que ficariam na cidade maravilhosa no ano seguinte para produzir, desta vez em grupo, um média-metragem. O caminho Com o auxílio do equipamento que ganhou no curso e a missão de repassar seus conhecimentos, ele implantou em Porto Alegre o Núcleo Regional de Animação, instalado na sede da Fundação Cultural Piratini. Subsidiado pelo governo, Rodrigo tratou de ministrar curso sobre o tema e passou a ser o pioneiro a trabalhar com animação no Estado. A experiência de ser professor lhe rendeu mais do que currículo, uma sócia: Alice Machado foi sua aluna e hoje também dirige a Dr. Smith!. Antes de criar o próprio estúdio, Rodrigo atuou na TGD Computação Gráfica (hoje, TGD Filmes) e, por lá permaneceu por mais de 10 anos, até juntar-se a alguns colegas e decidir montar seu próprio negócio, focado naquilo que mais gostava de fazer. Em 1998 nascia a Dr. Smith!, que, segundo conta, foi uma passo muito corajoso, mas que logo deu certo. ?No começo, tínhamos uma sala pequena e alugada, onde não tínhamos móveis, apenas uma mesa com um telefone, mas não demorou para começar a entrar trabalho e conseguir montar o restante do espaço?, recorda. Após 13 anos de trabalho à frente do próprio estúdio, ele revela que a sua rotina é não ter rotina, pois o ritmo é definido de acordo com a demanda. ?Têm épocas que viramos noites trabalhando?, explica. O ritmo frenético é um dos motivos da equipe ter começado um processo de reestruturação, com o objetivo de repassar os conhecimentos e poderem descansar um pouco mais. Como proposta para a empresa, Rodrigo quer torná-la ainda mais conhecida e respeitada no mercado. ?Quero solidificar a Dr. Smith! e, quem sabe, atuar em nível internacional.? O lazer Como era de se esperar, uma das paixões é o desenho ? habilidade que carrega desde criança, quando produzia as charges do jornal Chaimite, criado pelo pai em Portugal. Por outro lado, nem só de animação vive o empresário: ele gosta de fotografia, quadrinhos, música, aviação, entre outros. Os livros, que formam uma pequena biblioteca, são, inclusive, voltados a estes temas. Arquiteto por formação, piloto por paixão e animador por vocação. Assim pode ser resumida as habilidades de Rodrigo, que chegou a cursar Engenharia Mecânica, mas que logo os inúmeros cálculos o fizeram desistir da carreira. Além dos aviões, há outro veículo que faz parte da lista de prazeres: as vespas ? modelos de moto, também conhecidas como lambretas. O gosto é tamanho que Rodrigo encontrou, recentemente, um grupo de adoradores do mesmo modelo. Pessoas de todo o Brasil comunicam-se pela internet e promovem encontros em diversas regiões. Muitos destes prazeres são relacionados às preferências do pai, mas ele garante que não se esforça para seguir os passos de Josué. Tem apenas uma premissa que segue: ?Busco ver o mundo como ele via?.