Carlos Wagner: Repórter por excelência

27/08/2004 Ele sempre quis ser médico para poder conhecer e tratar pessoas. De repente pensou que não era a medicina que o levaria a …

27/08/2004
Ele sempre quis ser médico para poder conhecer e tratar pessoas. De repente pensou que não era a medicina que o levaria a "novos horizontes". A profissão certa para Carlos Wagner seria o jornalismo, que o permitiria tratar, ao invés de uma pessoa de cada vez, como um médico, "uma cidade inteira de uma vez só". E também por uma certa dose de "ego", confessa. Mas entre decidir pelo jornalismo e colocar a idéia em prática, passaram-se alguns anos.
Natural de Santa Cruz, nascido a 21 de setembro de 1950, veio para Porto Alegre aos 18 anos. Segundo ele, essa era a sina de todo o cara pobre do interior: trabalhar na Capital. Mas sua verdadeira atividade até os 30 anos foi "nenhuma". Era "o belo ano de 1968", época de hippies, e Wagner estava fascinado pela cidade grande. Vivia como um "vagabundo": viajava de carona, namorava quem lhe desse comida, morava em repúblicas e de vez em quando fazia um trabalho para sobreviver.
Em 1975, entrou para a faculdade de Jornalismo da Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). E levou oito anos para sair. Não tinha pressa. "Não era como hoje, que com 20 anos o cara tá trabalhando e com 25 já fez seu primeiro milhão. Toda a minha vida era baseada em 'quanto mais sexo eu fizer, melhor é'." Era o seu destino: transar, viajar, conhecer coisas. Em suas palavras, "aquela merda toda dos anos 1970!".
O medo das horas vazias
Por volta de 1976, caiu a ficha e Wagner, que já tinha começado mais duas faculdades diferentes e nunca ia adiante em nenhuma, se decidiu finalmente por concluir o Jornalismo. Foi durante o seu primeiro emprego, na Coojornal (Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre), que ele define como "um sonho que não deu certo".
Lá, fez de tudo um pouco. Começou apenas datilografando algumas coisas, depois de aceitar a oferta de trabalho porque estava com fome, e foi ficando, já que "a comida era boa, a conversa era boa?" Ele diz que seu principal feito na empresa foi montar o Departamento de Circulação. E conta que foi na Coojornal que aprendeu o que é ser jornalista, ter ética e atuar como repórter, o que considera "a coisa mais nobre da profissão".
Depois de quatro anos na cooperativa, foi convidado pelo jornalista André Pereira para ir trabalhar no jornal O Interior, de Carazinho. Foi uma grande escola para Wagner, que pela primeira vez atuava na redação de um jornal. Ficou deslumbrado com o fato de estar numa profissão que o permite viajar, conversar e que ainda o remunera por isso. Assim, começou a dirigir sua carreira para ser repórter, "que não é apenas ser jornalista, mas sim um contador de histórias".
Após um ano, voltou para a capital gaúcha e então trabalhou como free-lancer até 1983. Nesse período, aprendeu mais sobre a profissão, principalmente a entrevistar, porque, segundo ele, "escrever todo mundo sabe, para isso se faz a faculdade, mas entrevistar, saber apurar uma matéria e conversar com as pessoas, é o que diferencia o repórter". Por isso, para ele, "as piores horas do repórter são as horas vazias", quando fica entre uma matéria e outra.
Foi em 1983 que terminou, finalmente, o curso de Jornalismo e entrou para a equipe de Zero Hora. Trabalha no diário até hoje, fazendo reportagens especiais, pelas quais já ganhou 38 prêmios de jornalismo, entre eles sete prêmios Esso, considerado a principal premiação do gênero do País. Wagner também já publicou oito livros, dos quais destaca 'País Bandido'.
Uma pessoa simples
Wagner viaja muito na realização de suas matérias, mas quando está em casa diz que costuma apenas "encher o saco do pessoal". Ele é casado há cinco anos com a veterinária Saionara, portanto "não preciso pagar plano de saúde". Com ela, tem um filho de quatro anos chamado José. Também tem duas filhas: Carolina, de 25 anos, e Laura, de 20. Este é seu quarto casamento.
Além de "encher o saco", o jornalista gosta de assar carne, o que considera "a melhor terapia do mundo". Costuma fazer churrasco sempre, até mesmo quando está sozinho. "Sou uma pessoa simples, me basta um rádio, um jornal, uma garrafa de vinho e uma churrasqueira. E está bom assim." E os seus planos também são simples: continuar a ser repórter, afinal tem os três neurônios necessários para a função, como costuma dizer: "Um bebe, um transa e outro faz a reportagem, mas um de cada vez, senão dá merda."

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