Iára Rech: Uma paixão pela literatura

Com raízes germânica por parte de pai, e italiana pela mãe, nasce em Carazinho a caçula da família Rech, Maria Iára Rech, em 25 de maio de 1944.

Com raízes germânica por parte de pai, e italiana pela mãe, nasce em Carazinho a caçula da família Rech, Maria Iára Rech, em 25 de maio de 1944. Embora todos esperassem um menino, até com babeiros já bordados com o nome Rogério, veio a garota, que, mais tarde, quebraria paradigmas sendo pioneira em diversos momentos e superando obstáculos sociais que impediam as mulheres de conquistarem mais espaço na sociedade. Iára Rech buscava igualdade aos homens já na infância, em Santa Bárbara do Sul, quando brincava com o irmão, um ano e cinco meses de diferença de idade (as quatro irmãs eram bem mais velhas).

Desde cedo, apaixonou-se pela leitura. A mãe analfabeta (alfabetizou-se quando as filhas mais velhas formaram-se professoras) e o pai semi-analfabeto consideravam o ensino fundamental e sempre incentivaram os filhos. Assim, com cinco anos e meio, Iára já sabia ler e escrever. O colégio sistematizou a aprendizagem da esperta e interessada garota, que, aos 10 anos, lia sobre diferentes assuntos, como o Império Romano e rudimentos da civilização grega. Estudou em Cruz Alta, em uma escola de freiras francesas, onde aprendeu desde Latim e noções básicas de Inglês até bordado e piano.

Antes de iniciar a faculdade, formou-se como professora primária. Conta que foi destaque entre as normalistas (estudantes do curso Normal, que formava professoras): "Tornei-me a estrela da aula, como líder, e fui reconhecida pelo setor de Psicologia da escola como delinquente intelectual, aquele que cria novas regras no mundo da cultura". Terminada esta etapa, entrou na faculdade, em pleno Golpe Militar (1964). Estudava Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). No penúltimo ano do curso, com receio de que a profissão não fosse rentável, prestou vestibular e iniciou Economia na mesma instituição. Tempos duros aqueles: em certo momento, estudava Jornalismo pela manhã, era professora em uma escola de vila à tarde e cursava Economia à noite.

A jornalista

No último ano de Jornalismo, foi selecionada para estagiar na Folha da Tarde. Iára frisa que, em 1966, Breno Caldas e Walter Galvani já reconheciam a importância da contratação de jornalistas formados para trabalharem na redação. Ela foi efetivada, tornando-se a primeira mulher a atuar como jornalista na Caldas Júnior. Trabalhou em todas as editorias, mas especializou-se em economia e tornou-se a primeira editora desta área na Folha da Tarde e, em seguida, subeditora de economia do Correio do Povo.

Estava ainda na Caldas Júnior em 1968, quando circulou a primeira edição da revista Veja. A Abril fez entrevistas com jornalistas de todo Brasil, mas Iára não quis participar. "Não fui para a seleção porque tinha um grande amor aqui. Olha a presunção, pensei: 'eu vou passar e vou ter que ir embora?'." Iára foi freelancer da Abril, trabalhando, paralelamente, para as revistas Veja e Exame e para o Correio do Povo. Quando o 'grande amor', que era o empecilho para mudar de Estado, transformou-se em marido, aceitou a proposta e foi trabalhar na divisão Veja-Exame da Abril, sob direção-geral de Mino Carta, em São Paulo.

Tornou-se editora da revista Exame e trabalhou com o jornalista Paulo Henrique Amorim, "que me ensinou com grande categoria o exercício do jornalismo". Iára realizou grandes matérias. Aproveitou para fazer o que melhor sabe: redigir e editar reportagens, exercendo o jornalismo econômico-político. Muitas vezes, conseguiu o que todo jornalista idealiza: 'furar' os demais veículos.

Depois de dois anos e meio, decidiu voltar para Porto Alegre porque o marido, por motivos profissionais, não pôde ir a seu encontro em São Paulo. Teve a única filha, Ana Paula e, dois anos e meio depois, veio o divórcio. Ficou um ano e meio só cuidando da pequena Ana Paula. Quando retornou às atividades, passou a atuar na editoria de Economia da Folha da Manhã, ao mesmo tempo em que era editora-assistente freelancer da Exame, na sucursal de Porto Alegre. Nesse período, fundou e presidiu a Associação dos Jornalistas de Economia do RS (AJOERGS) juntamente com os jornalistas Affonso Ritter, Jane Fillipon e Vera Spolidoro.

Iára seguiu sua carreira em diferentes veículos e empresas: na área de Projetos Especiais do Diário do Sul, Jornal do Comércio e Gazeta Mercantil; na assessoria de comunicação do Mc'Donalds; na editoria de Economia do jornal O Sul. Atualmente, desenvolve o projeto de reposicionamento da imagem da ADVB/RS e assina uma coluna no portal Coletiva.net. No momento, diz que sua preocupação é fazer bem essas duas atividades.

Amor pela literatura

Jornalista reconhecida no mercado, sempre recebeu muitas propostas. Convidada para ser executiva na Abril, em São Paulo, não foi "por causa da Aninha, ela era muito pequena e eu não tinha uma pessoa de confiança para cuidar dela", recorda. Iára se define como uma mãe dedicada, sempre tendo a filha como prioridade em sua vida. Não se arrepende por não ter aceito as propostas por causa da menina.

Hoje, expõe com orgulho as realizações de Ana Paula, que estudou no exterior, próximo à Harward, e cursa o último ano de Psicologia na Ufrgs. "Aninha é muito dedicada, nunca precisei dizer para ela estudar, nunca obriguei a ler um livro, suas conquistas são com o seu próprio esforço", frisa a mãe satisfeita. Iára é assim - demonstra sempre um amor muito grande pela família e, principalmente, por Ana Paula. Gosta de cinema, música e viagens, mas destaca que a literatura é sua grande paixão. Ler sempre foi o grande vício que a acompanha até hoje. Atualmente, possui uma biblioteca que acolhe grandes clássicos da literatura, como 'E o vento levou' e 'Ilíada'.

No seu território de magia e aprendizagem também é possível encontrar biografias de grandes personagens da história como Churchill, Freud, Guevara, Roberto Campos, além de obras de respeitados pensadores, como 'O Capital', de Marx, e 'Guerra do Peloponeso', de Tucídides. Ainda nas prateleiras, policiais, livros técnicos sobre economia, literatura inglesa, europeia e norte-americana. Por isso, Iára ressalta: "Devo todo o meu conhecimento à literatura, mas não aos manuais de jornalismo. Não foram eles que me deram base para exercer minha profissão".

Trabalho e lazer

Sempre apaixonada pela profissão, não consegue separar lazer de trabalho. Conta que tem como prioridade a informação diária, que é feita durante a madrugada, pela internet. Ela lê os principais jornais - cinco internacionais, quatro nacionais e dois locais. No sábado à tarde, lê as principais revistas semanais. Seu trabalho é, ao mesmo tempo, lazer. Ela pesquisa os assuntos da área econômica, analisando as abordagens dos principais veículos impressos. "Sugeri o desafio da análise da cobertura da mídia, em relação à economia-política do País, ao jornalista José Antônio Vieira da Cunha, que aprovou e encaminhou a publicação no portal Coletiva.net".

Iára tem fome em aprender. Diz que vive em constante aprendizado, principalmente nos relacionamentos: "Com os de cima eu aprendo, com os do lado eu troco e com os de baixo eu ensino, mas aprendo também". Por tudo, considera-se uma pessoa realizada e feliz.

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