Valéria Ochôa: Pelas pessoas
Confrontar padrões e construir valores são tarefas que a jornalista Valéria Ochôa acostumou-se a manter ao longo dos dias
Caçula da família composta por oito irmãos, Valéria é filha do eletricista Eurico e da dona de casa Ana (ambos falecidos). Os pais, segundo define, foram pessoas muito agregadoras e inclusivas, que contribuíram com ensinamentos que preserva até hoje. Da pequena Iraí, na região Norte do Estado, subir em árvores e os banhos de rio fazem partes de uma infância feliz e tranquila. "Lembro de me sentir protegida, amada. Sempre tive a casa quentinha", afirma. Ainda hoje, se diz muito próxima à cidade natal, que ainda abriga a antiga casa dos pais, preservada pela família e que se tornou quase um refúgio. "A gente não tem uma vida social em Iraí. Então, quando vamos, ficamos muito em casa, que é como uma reserva florestal", relata.
De Iraí, saiu aos 14 anos para viver com uma irmã, Vani, em Brasília. Lá, concluiu o Ensino Médio, antes de retornar ao Rio Grande do Sul. Com a independência adquirida através da educação proporcionada pelos pais, a capital gaúcha, onde já viviam cinco de seus irmãos, foi o lugar escolhido para dividir apartamento com uma amiga, aos 16 anos. "Em cidade do interior, a gente cresce com os pais incentivando a estudar. Desde pequena, a expectativa era sair de casa, conhecer o mundo, mas, sempre, com muito foco no estudo", frisa.
Também morou na Casa do Estudante de São Leopoldo, enquanto graduanda da Unisinos. Três anos depois, quando recebeu o diploma, ganhou mais um passe para a independência, o próprio apartamento em Porto Alegre. "Foi o presente de formatura do meu pai. Ele me deu como uma base para caminhar sozinha", explica. No espaço, chegou a dividir despesas com uma amiga e um irmão, e também empreendeu. Ao lado de outros dois colegas, abriu uma pequena empresa de produção de vídeo e fotografia. "Era uma tentativa de entrar no mercado de produção audiovisual. A gente fazia muito festa de aniversário. Durante um tempo, até deu certo", comenta, ao contar que conciliava o trabalho com a atuação na reportagem do Jornal do Comércio.
Duas paixões, muito orgulho
Divorciada, é com as filhas Luiza, de 21 anos, e Manoela, 8, que divide a casa, os dias e as pequenas alegrias da vida. Com elas, aproveita os passeios, as pequenas viagens e se dedica ao que considera mais revelante, o convívio diário e "o afeto com responsabilidade". Luiza cursa o 8º semestre de Direito, na Uniritter, enquanto Manoela vive intensamente a infância. Se a gestação da primeira foi delicada, a segunda chegou de surpresa. Hoje, ambas são só orgulho para a mãe. A união e a valorização da família constituem valores que herdou dos pais e, agora, transmite às meninas."Somos muito unidas", reforça.
Manter a personalidade questionadora sempre viva é algo que busca ensinar às filhas no dia a dia. "Olhar o outro como pessoa, com respeito, independentemente de opinião. Questionar as hierarquias, a classe social. Questionar conceitos e preconceitos em torno de raças, gêneros. Isso é muito importante e acho que já estou conseguindo, porque a Luiza é muito ativista nesta área de gênero", explica. Os direitos das pessoas, reforça Valéria, devem ser preservados sempre. "Claro que a gente também comete deslizes, mas tem que estar sempre atento para não excluir, não segregar", ressalta.
Essência viva
Os raros momentos de folga são dedicados aos livros, shows, sessões de cinema ou filmes em casa, sempre junto da família ou dos amigos. Na Literatura, acompanha bastante os autores contemporâneos. Entre as leituras deste ano, além das revistas semanais, já passaram pela cabeceira "O Quarto Poder - Uma outra história", de Paulo Henrique Amorim, e "O Brasil", de Mino Carta. No cinema, o gênero favorito é o drama, revela ao indicar o filme "Ele está de volta", disponível na Netflix. Já na gastronomia, ela não faz distinções e, nesse ponto, é enfática: "Gosto de comer de tudo". As massas e comidas simples, no entanto, têm lugar especial no cardápio, principalmente se for na companhia de amigos. "Gostamos muito de nos reunir em torno de uma mesa", relata, ao recordar a ascendência italiana.
Com energia de sobra, é alguém que quer o bem comum, que se preocupa em contemplar todas as pessoas e defende uma sociedade onde todos tenham oportunidades iguais. Embora não pense em afastar-se da profissão tão cedo, alimenta o desejo de viajar mais. "Um dos meus sonhos que nunca realizei é ser uma cidadã do mundo. Tive que optar e optei pela minha família", frisa, acrescentando que, apesar disso, visitar lugares como o Oriente Médio e a África segue nos planos.
Mesmo que projetar o futuro seja impossível, Valéria tem uma convicção: a essência sempre se manterá a mesma. "Tenho duas grandes referências de vida, que são a minha família e meu trabalho. Sou uma pessoa muito agitada e estou sempre fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo. Posso mudar de ambiente, mas não me vejo muito diferente do que sou hoje", reflete.
*Com colaboração de Karen Vidaleti