Vera Spolidoro: Política de bastidores

Jornalista fala de seus planos frente à Secretaria da Comunicação e do gosto pela política

Vera Spolidoro - Reprodução

Por Vanessa Bueno

A política a acompanha desde a infância, quando saía para panfletar com o tio que exercia cargos públicos. "Está no sangue", revela a jornalista Vera Spolidoro, que daqui a pouco assumirá como secretária de Comunicação do governo Tarso Genro. De voz mansa e ar sereno, ela explica, porém, que nunca pensou em disputar uma eleição. Em uma conversa que tem o rio Guaíba ao fundo, na sede Campestre da Procergs, revela, entre outras coisas, que prefere os bastidores.

Foi assim que ela acompanhou o ex-deputado, ex-prefeito,ex-ministro de Estado e atual governador eleito Tarso Genro em diversas gestões públicas. A parceria dos dois teve início lá em 1992, quando ele venceu as eleições para prefeito de Porto Alegre. Vera já estava na prefeitura, atuando na Coordenação de Comunicação, ao lado de Daniel Herz e Pedro Osório. "Ficamos muito próximos", diz referindo-se ao vínculo que estabeleceu com Tarso, que, segunda ela, consegue reunir qualidades raras de se encontrar juntas em uma pessoa. "É um bom gestor e um bom estrategista. Tem uma visão que está sempre à frente. Isto é muito estimulante. Foi ele, aliás, quem sugeriu que a Secretaria de Comunicação seja de inclusão digital também", revela a jornalista.

A proposta, na visão de Vera, é inovadora. "Se eu conseguir implantar todo o nosso projeto, vou me sentir muito realizada. Minha preocupação, desde a época em que eu estava no Sindicado (dos jornalistas), sempre foi de tornar a Comunicação um bem público", explica. Nesta linha, também defende a criação de um Conselho de Comunicação no Estado, que, conforme já anunciado pelo governador eleito, será exposto à avaliação da sociedade. "Nossa proposta é reunir a sociedade para discutir a Comunicação", ela explica. Para isto, será criado no Estado o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, que pretende ser um debate entre representantes de diversas áreas. A busca, conforme a jornalista, é pela democratização da informação e "nada tem a ver com censura como estão dizendo por aí".

Vera, que registra passagem pela presidência do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul em duas gestões, de 1986 a 1990, sempre esteve envolvida nas questões relacionadas a políticas de Comunicação e decidiu filiar-se ao PT, no final dos anos 80, por acreditar que as diretrizes do partido estavam alinhadas a seus ideais. E foi assim que Vera acabou sendo convidada para integrar a coordenação de Comunicação do governo de Olívio Dutra na prefeitura de Porto Alegre. "Liderados por Daniel Herz, planejamos um novo formato de comunicação pública, que depois se estendeu pelos quatro períodos do governo do PT na Prefeitura", conta.

Colunista política

Ao fim do mandato de Tarso na Prefeitura, Vera chegou a ser convidada para atuar ao lado do político no Ministério da Educação, mas optou por ficar em Porto Alegre. "Queria estar próxima da minha família", diz, destacando que, como boa descendente de italianos, gosta de reunir o clã para os almoços de fim de semana. Vera é mãe da publicitária Gabriela, da assistente social Ângela e do músico Nicola, frutos de seu primeiro casamento. Além disso, também é avó de Pedro e Tiago. "Sou uma avó muito babona, os deixo fazerem tudo o que querem quando estão comigo."

Assim, em Porto Alegre, Vera passou a dedicar-se a uma coluna política que assinava no jornal O Sul. Ficou por três anos lá. "Eu gostava muito deste trabalho. Sempre deixei claro o meu posicionamento de esquerda e nunca fui criticada por isso", conta. Os leitores e inclusive a direção do jornal, como faz questão de ressaltar, entendiam e respeitavam suas opiniões. Quando Olívio Dutra assumiu o governo estadual, atuou por dois anos na assessoria de imprensa do Palácio.

Mais tarde, Vera se renderia aos convites para ir para Brasília. Durante quatro anos optou por viver na ponte-área e permaneceu na Capital Federal, segundo ela, só para trabalhar. Lá, exerceu funções de assessoria de Comunicação na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e no Ministério da Justiça. "Foi um período de muito trabalho", reconhece a jornalista, que nem quis fixar residência, pois seus planos eram um dia retornar para Porto Alegre.

Outros rumos

Natural de Veranópolis, Vera mudou-se com a família para Porto Alegre nos anos 80. Antes, porém, morou com os pais e os irmãos em Bento Gonçalves. "O que eu mais me lembro daquela época era a liberdade que tínhamos. Brincávamos de casinha, teatro, inclusive cobrando entrada", diverte-se a irmã do meio de Gilberto e Marco Antônio. Filha do médico Ângelo Raphael Spolidoro e da dona de casa Ignez Varnier Spolidoro, conta que escolheu o Jornalismo como profissão porque sempre foi muito estimulada para a leitura pelo pai. "Essa minha proximidade com a Literatura me fez pensar em ser escritora, mas isso me parecia muito vago, então recorri ao Jornalismo", recorda. O sonho de escrever livros, no entanto, ficou para trás.

Passou então no vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e, ao contrário do que imaginava, sua primeira experiência profissional foi como assessora de imprensa. "A gente entra na faculdade querendo ser repórter, fazer grandes matérias na França, mas a vida nos leva para outros rumos", reconhece. Vera trabalhou na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), onde também coordenava a área de Comunicação, mudando-se, após alguns anos, para o Uruguai: recém-casada, decidiu seguir o então marido, que é uruguaio. O casal morou lá durante três anos, quando decidiu voltar para Porto Alegre. O período era de ditadura no país e, como os dois eram apoiadores do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaro (organização de guerrilha urbana uruguaia, que operou nas décadas de 1960 e 1970), optaram por retornar ao Brasil.

Do Brasil e do mundo

Com dificuldades para guardar datas, opta por registrar as épocas. Do seu tempo em Brasília - está de volta a Porto Alegre desde fevereiro deste ano - guarda boas recordações dos amigos que fez por lá, como os jornalistas Franklin Martins e Tereza Cruvinel, e do clima agradável, segundo ela, nem tão quente e nem tão frio. Também voltou para o Estado com uma visão ampliada. "Percebi o quanto o Rio Grande do Sul vive isolado. O gauchismo não faz bem para nós", diz, referindo-se ao bairrismo existente no Estado: "Não é à toa que Tarso escolheu o slogan Rio Grande do Sul, do Brasil, do Mundo".

Desde que chegou à Capital, Vera tem aproveitado para matar a saudade da família. Gosta de cozinhar para o clã e entre suas especialidades estão camarão na moranga e massa ao pesto. A inclinação pela culinária ela herdou da mãe, uma "excelente cozinheira". Apreciadora de diversos gêneros de música, do rock ao jazz, elegeu o grupo Nicola Spolidoro Quarteto como seu preferido. Reconhecendo que o herdeiro pode ter sido influenciado pelo seu hábito de consumir muita música, diz-se feliz com o caminho que os filhos seguiram. "Sempre dei muita liberdade para eles. Até pelo fato de eu sempre trabalhar, procurei estabelecer um laço de confiança entre nós. Hoje, quando os vejo adultos e se virando sozinhos, penso que acertei", diz orgulhosa.

Conectada

A jornalista também gosta de frequentar o Facebook. "Estou sempre ligada nas novidades do mundo digital", diz. Nesta linha, integrou-se no lançamento do projeto jornalístico Sul 21, diário eletrônico de política, economia e cultura. Mas já em julho foi reintegrada à propaganda política, desta vez, para comandar a comunicação das redes sociais da campanha de Tarso. Comunicativa, entende sua capacidade de diálogo como uma qualidade. Já a impaciência é um defeito. "Às vezes me irrito com o ritmo lento das coisas", comenta. Para relaxar costumava fazer ioga, alongamento e até musculação. Atualmente, a rotina puxada de trabalho, porém, apenas lhe permite algumas horas de leitura e momentos de distração com a música.

Vera, que tem como norte a sua formação política, diz que sua luta sempre foi por mais justiça e democracia. "Quando eu era jovem, lutava contra a ditadura. Agora os objetivos são outros, mas seguem a mesma linha". Tendo como exemplos de vida os pais, a mãe - "pela grande agregadora que é" - e o pai por ter lhe aproximado da política, procura seguir seus ensinamentos. Em termos profissionais, seu mestre foi o jornalista Daniel Herz, "grande pensador e executor de políticas de Comunicação".

A dica que deixa para quem está começando na área é relacionada à leitura. "Eu diria para os jovens que leiam muito. Falta vocabulário hoje e sem vocabulário não é possível pensar. Vale ler de Eça de Queiroz a Paulo Coelho", aconselha. Sobre seus planos futuros, diz que está muito empolgada para iniciar as atividades frente à Secretaria de Comunicação. "Com as novas tecnologias eu vislumbro um mundo de possibilidades". Na vida pessoal, "se continuar assim, está ótimo".

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