Band TV: De olho no movimento
Com uma série de mudanças no último ano, emissora de TV sente cada vez mais orgulho das produções locais
Notícias, Entretenimento ou Esportes? Seja qual for o interesse do telespectador, a Band TV trabalha diariamente em produções locais, ao vivo ou gravadas. E unindo essas três áreas, o quadro de funcionários soma mais de 80 profissionais, que se espalham pela sede no bairro Santo Antônio. Ao público mais familiarizado com a rotina de uma emissora de televisão, não há nada de anormal - afinal, o ofício é o mesmo em qualquer, mas o fato é que, ao telespectador comum, o meio ainda gera fantasias e expectativas do que acontece por trás da tela.
Para entender melhor essa rotina, Coletiva.net acompanhou o dia a dia da equipe conduzida por Ciça Kramer, gerente de telejornalismo. Nos poucos minutos possíveis de encontrá-la em sua mesa, esclarece que não consegue mais se envolver com o operacional, pois a gestão e as questões institucionais ocupam bastante do seu tempo. A jornalista explica, com visível orgulho, que o espaço local de quase 20 horas semanais está sendo preenchido com conteúdo de qualidade. "Estamos muito orgulhosos de conseguir preencher isso tudo e de toda a transformação que vimos fazendo", resumiu, fazendo sempre questão de que a equipe do portal ficasse bem à vontade para conhecer, explorar e questionar sobre os ambientes e a rotina do veículo.
"Hoje em dia, é difícil não saber o que se passa em uma TV. Os mistérios acabaram", brinca o apresentador do principal jornalístico da casa, o Band Cidade, Sérgio Stock, ao citar as redes sociais como condutoras da proximidade do telejornalismo com o espectador. Aliás, a única coisa que o público não vê é aquilo que ainda não foi transformado em notícia, em conteúdo, ou seja, o processo de uma ideia até ela virar informação. E nesse processo de transparência, até os cenários mais sérios foram excluídos do telejornal local e, há cinco meses, Sérgio apresenta em um estúdio anexo à redação, com a equipe toda do switcher atrás dele.
As mais de duas décadas atuando como editor de telejornal presentearam o âncora com alguns hábitos, como o de chegar com mais de uma hora de antecedência para ler todas as matérias do dia e ajudar a adaptar um texto ou outro, além de acompanhar a edição. Faz isso para entender o que está acontecendo e preparar algum comentário posterior, quando a matéria e o tempo dela permitem. É nesse período também que grava as chamadas, além de um tempo de camarim "para ficar mais adequado para ir ao ar". Após a transmissão, o dia não se encerra antes de uma reunião de avaliação.
Por dentro da notícia
As rápidas conversas com a equipe são suficientes para perceber que a redação começa a ferver mesmo é do meio da tarde em diante, especialmente após os editores Horácio Duarte Fernanda Espinelli definirem, junto com a chefe de reportagem, Aline Rimoli, quais serão as pautas aproveitadas pelo Band Cidade. E, aqui, cabe uma particularidade: há uma disputa - saudável e respeitosa, segundo Ciça - por factuais. Ou seja, os programas que utilizam esse tipo de notícias, o telejornal e o Band Mulher, "brigam" na defesa de suas sugestões. "Isso os motiva a apresentarem novas pautas, cada vez melhores", pondera a gerente.
Com esta definição e a equipe de produção na rua (vale destacar que a equipe tem buscado assuntos que fujam da editoria de polícia, ainda que não fechem os olhos para os temas do crime), é hora de se ocuparem do esqueleto do programa. Enquanto Aline segue na condução, logística e orientações da equipe, Horácio e Fernanda acompanham textos, tempos das matérias, a costura de uma para outra e todos os ajustes necessários. Como já era de se esperar, não raro chega uma bomba na redação e tudo precisa ser mudado de última hora. Nesses casos, a correria dobra de tamanho, envolve quase todo mundo - que, ao todo, somam 30 pessoas - e, muitas vezes, o jornal está no ar enquanto alguma matéria é finalizada.
A equipe mais enxuta pode trazer limitações, sim, mas não quando o assunto é integração e relacionamento. Horácio, por exemplo, tem 35 anos de carreira e já passou por todos os veículos, mas considera que a Band TV tem como diferencial uma clima leve e tranquilo, ainda que intenso. "Quando vim pra cá, nem pensava mais em me envolver com um programa diário, mas sinto que aqui temos liberdade para pensar e executar", avalia. O pensamento é corroborado por Aline, que cuida de toda a logística de rua e está há quatro anos na empresa. Ela entende que o bom funcionamento do trabalho passa muito pelo clima da redação: "Temos que ter pessoas competentes ao lado e em quem confiar. Estou muito feliz com o grupo que formamos".
A versatilidade entra em campo
Quando se fala em Esporte, não é apenas o assunto que muda. Saímos da loucura do hard news e vamos para outra sala, que raramente está cheia. Isso porque, conforme explica Rebeca da Rosa, treinos, jogos e entrevistas mandam os jornalistas quase sempre para fora de lá. Outra peculiaridade dessa turma é que o conceito de multimídia parece estar ainda mais enraizado. "Eu trabalho na TV, mas volta e meia sou solicitada para um boletim na rádio. E isso acontece com todos, até com alguma frequência", conta a única mulher contratada (tem ainda mais duas estagiárias). É ela, aliás, quem leva a reportagem de Coletiva.net para conhecer os espaços, acompanhando edições e transmissões de perto.
Na opinião de Felipe Duarte, esta é uma equipe totalmente interligada, o que faz com que todos sejam mais dinâmicos e versáteis. "Minha função de repórter, comentarista e apresentador serve para rádio e televisão e isso é muito positivo", resume, ao defender que trabalham, cada vez mais, a ideia de que ser jornalista apenas de um meio já não faz sentido e que estar no mesmo espaço físico, tudo muito próximo, também facilita esse processo.
São cerca de 20 profissionais dessa área, que, assim como em um time de futebol, é recheado de pessoas críticas, com suas opiniões, sonhos, egos, aptidões e culturas diferentes. Pode ser delicado, e às vezes até perigoso, mas Felipe prefere ver a multidisciplinaridade com bons olhos, pois entende como enriquecedor. Um dos poucos momentos em que é possível encontrar todos reunidos é após a transmissão do Donos da Bola, ou seja, às 13h, que é o momento da reunião de pauta, ou "a hora de lavar roupa suja e também fazer elogios", como brinca Felipe.
Mesmo que fiquem separados do Jornalismo fisicamente, o contato com os colegas e vizinhos de sala é constante. É que a equipe do Esporte tem entradas nos jornalísticos, o que exige que atuem com interação, troca e colaboração mútuas. "E isso só pode resultar no melhor para o telespectador", avalia Ciça Kraemer.
Com mais leveza
Saímos do hard news e do Esporte e vamos para outro ambiente, de um time menor, mais leve, sem a pressão das notícias diárias, e ainda se estruturando. Com os projetos do Carnaval e Pepsi Twist Land, a emissora identificou a necessidade de ter um grupo exclusivo para poder se dedicar a programas semanais, com mais tempo de produção. Trata-se do núcleo novo de Entretenimento da Band TV, que cuida de atrações como Não é Má Ideia, Entre Amigos e Band Motores. Cada um deles tem seu diretor e produtor, mas essa divisão é quase imperceptível quando se vê todos envolvidos com ideias, fontes, contatos e tudo o que for necessário.
Mais tranquilo não significa menos intenso, pois quando estão todos prestes a entrar no estúdio, são muitos os detalhes a serem revistos, sem contar que, enquanto se finaliza uma transmissão, a próxima já começa a ter que ser pensada e organizada. É o que explica uma das diretoras, Hilda Haubert que atua no segmento há mais de 20 anos, e é a única mulher do grupo de redação e produção. "Estou acostumada com isso e não faz diferença alguma, a não ser quando se trata de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, pois essa é uma habilidade bem feminina", diz, aos risos.
A escala de gravações semanais permite que Coletiva.net acompanhe, de dentro do estúdio, todo o desenrolar do Entre Amigos, na condução de Alejandro Malo. Ele recebe os convidados do dia, conversa com câmeras e produtores e se preocupa em deixar os que estão apenas assistindo muito à vontade - como é o caso da equipe do portal. Sem teleprompter, o comunicador conversa com sua diretora o tempo todo pelo ponto, segue orientações e contrapõe algumas. Praticamente, não há interrupções para gravar mais de uma vez qualquer etapa, nem mesmo as chamadas, as quais Alejandro faz ao final, de improviso.
O entra e sai no estúdio e na sala de produção, que ficam em andares diferentes, é constante e natural por parte de todos os envolvidos. "Nossa equipe é formada por um mix de gerações. Assim como temos os produtores com poucos anos de formados, o comando fica com profissionais com quase três décadas de graduação. E isso é uma mistura maravilhosa, é o que está fazendo dar muito certo", avalia Hilda.
Holofote ao RS
Uma das peculiaridades da Band TV é a presença bastante forte da rede nacional. Para fazer esse relacionamento, há profissionais contratados exclusivamente para ligar São Paulo à praça gaúcha. Uma das formas de contato é quase um trabalho de assessoria de imprensa, pois a pauta sai daqui para ser 'vendida' à rede. No outro lado, e cada vez mais, a matriz solicita produções locais, comentários e participações de temas ligados ao Rio Grande do Sul.
Aline explica que a Band RS tem entradas diárias no Band News, sempre no início da tarde, com André Machado, e no final do dia também - dessa vez, com algum repórter da escala. E entre os programas que mais pedem os gaúchos, estão o Brasil Urgente e Agora é com Datena, além dos entretenimentos de lá como Cozinha o Bork, Super Poderosas e Melhor da Tarde. Inclusive, na ocasião da visita do portal, Ticiano Kesler estava se preparando para viajar no dia seguinte, em função de uma pauta para o Datena.
Isadora Jacoby é uma das produtoras de rede. Há quase dois anos no veículo, ela entende que o desafio é perceber a relevância nacional do que se faz aqui, colocando no Estado um holofote de produção. E essa troca com São Paulo é, para ela, enriquecedora e fruto de uma relação que foi sendo construída aos poucos, pleiteando espaço e ganhando-os cada vez mais. "É engraçado porque as pessoas com quem eu mais falo não sei o rosto que têm, mas já os considero meus amigos, além de ser outro ritmo, outra batida. Defender a nossa cultura e a importância de determinadas pautas é um desafio diário", detalha.
Um jornalista já considerado multimídia é André Machado, que está na emissora há quatro anos. Para ele, não faz muita diferença ser de rádio, jornal ou TV, pois a integração, seja física ou de conteúdo, é natural. "Ter uma equipe menor e sem o peso da liderança me dá muito mais tranquilidade para trabalhar. Construímos aqui um dia a dia feliz, ainda que tenham momentos tensos, como tem que ser em todas as redações, mas cada vitória, cada sacada do time é muito mais comemorada", vibra o comentarista e repórter também da nacional. Ciça é enfática ao resumir essa relação com São Paulo: "Nosso foco é sermos a emissora que mais produz conteúdo para a rede, sem nunca esquecer o localismo".