Cartola: Conteúdo e (muita) diversão

Pioneira do Rio Grande do Sul, a agência de conteúdo conta hoje com uma equipe multidisciplinar que adora descontrair

Jornalistas, publicitários e designers estão reunidos em volta da mesa de reuniões, todos devidamente equipados com papel, caneta e café. Assim começa a tarde nublada de uma quarta-feira na primeira agência de conteúdo (especializada em produção de conteúdo para peças impressas ou digitais para empresas) do Rio Grande do Sul, a Cartola. São cerca de 10 profissionais passando, ponto a ponto, cada demanda, com suas respectivas tarefas, prazos, novidades, dificuldades e expectativas. É praticamente um encontro semanal de brainstorm (a famosa tempestade de ideias), pois todos discutem, sugerem, trazem referências e dão os devidos encaminhamentos.

Apesar de ter tudo para durar horas, a conversa em equipe dura aproximadamente 40 minutos e, aparentemente, é realmente produtiva. Quem conduz a reunião são os dois gerentes de projetos da casa, Laís Soares e Rafael Santos, que direcionam a equipe ao mesmo tempo em que parecem prestar contas. Um dos sócios-diretores, Sebastião Ribeiro, participa com orientações, provocações e muitas brincadeiras que fazem o clima ficar leve e descontraído. Um dos pedidos dele, por exemplo, é que reativem o costume de trocar pautas e ideias pelo grupo fechado do Facebook, o Cartolindos.

Reunião encerrada, todos aos seus lugares. A sala, que fica localizada na rua Vicente da Fontoura - por pouco tempo, pois a empresa deverá se mudar para uma outra sede no bairro Bom Fim dentro de 20 dias, para um local mais aconchegante e com muitas atrações em seu entorno -, não tem divisórias. Essa, inclusive, é uma das novidades que o novo espaço terá: uma sala de reuniões mais reservada. "Gostamos desse modelo aberto, mas é necessária certa privacidade. Dar feedbacks para a equipe nesse formato não é a melhor sensação", admite Tião, como é chamado por todos.

Com leveza e descontração

O ambiente não tem ares sóbrios, ao contrário, é recheado de cores, objetos divertidos de decoração e fotos da equipe. As paredes são preenchidas com um quadro branco - todo riscado com ideias, frases e telefones importantes. Há também um painel de planejamento mensal com muitos post-its, mas eles admitem que muitos pedacinhos de papel já estão desatualizados, apenas nunca foram retirados. Completam a estrutura duas paredes pintadas de verde, onde é possível escrever com giz: em uma todos os clientes, serviços e pessoas responsáveis; na outra, uma espécie de termômetro de humor, no qual consta o nome dos colaboradores e cada um preenche com o sentimento do dia (por exemplo, naquele dia, Brenda Fernández estava "de boas" quando chegou para trabalhar).

Autonomia é uma palavra bastante citada por muitos e está ligada à postura dos diretores, que permitem que cada um faça seu horário, desde que as demandas sejam entregues conforme os prazos dos clientes. E essa liberdade não diz respeito apenas às responsabilidades individuais: "Quem escolheu qual plataforma de gerenciamento de tarefas seria usada foram eles. O próprio endereço novo foi uma opção deles, quando começamos a ver possibilidades", conta Tião. Laís concorda e explica que horário não é algo rígido, o que considera uma das grandes vantagens da empresa. "Gostamos de ter essa relação leve, com os chefes sentando conosco e sem divisão de setores", ressalta a jornalista.

A formação atual da equipe é bastante nova, sendo a gerente de projetos a mais antiga da casa, com três anos de Cartola. Ter alguma rotatividade não é considerado ruim pelo diretor, que entende que isso evita vícios, zona de conforto e garante sempre sangue novo. "A instabilidade do mercado como um todo me preocupa bem mais", decreta Tião. E Laís reforça mais uma vez seu gestor ao garantir que o clima "é bom demais", fazendo com que eles se encontrem com frequência fora da empresa, mantenham contato via redes sociais e, inclusive, convidem sistematicamente ex-funcionários para participarem das suas festas de final de ano.

Quem coloca ordem na sala é a responsável pelo administrativo-financeiro, Kátia Barreto. Além de ser a mais experiente da turma, é mãe de Clarissa Barreto, sócia da Cartola. Mãezona? Que nada, ela se diz 'chatona' mesmo. Só garante que não faz bullyng com ninguém, mas de resto, cobra sem nenhum pudor, porque tem zelo de sobra pela agência. "Hoje, por exemplo, não deixei esquentarem comida depois das 13h, pois íamos receber vocês. Imagina, a sala cheirando a comida?", confidencia, bem-humorada. Ela só trabalha pela manhã por ser o período mais silencioso no ambiente e os colegas, para ela, são muito barulhentos. "Como eles chegam pelas 10h, entre 8h e 9h30 consigo adiantar tudo. Até porque dinheiro e números necessitam mais concentração", explica.

Friends, sino e outras peculiaridades

Vez ou outra, a bagunça é inevitável e, dependendo do assunto, falam ao mesmo tempo, riem e têm conversas cruzadas. E como alguém faz quando precisa se concentrar? Usa fones no ouvido e segue o baile, ora! "Nunca tivemos grandes problemas com barulho, tanto que, quando a pauta está mais tranquila, rola um chimarrão e até pipoca", garante Laís. A frase bastante entoada em voz alta é "Tem alguém no iStock?", isso porque somente um computador por vez pode usar o banco de imagens. E a partir daí surgem novos assuntos para que troquem ideias sobre o trabalho, já que a ilha de estações de trabalho proporciona esta interatividade.

A integração acontece com mais intensidade na hora do almoço. Como o bairro não oferece muitas opções de restaurantes - outro motivo pelo qual escolheram o Bom Fim como próximo destino -, a maioria prefere levar alguma refeição feita em casa. É nesse momento que a TV é ligada, mas não para atualizações noticiosas, como já foi hábito, mas para espairecer com algum episódio de Friends (série norte-americana de comédia, que ganhou audiência impressionante nos anos 90) ou até mesmo um capítulo antigo da novelinha adolescente da Rede Globo, Malhação. "Esse clima é muito favorável à criatividade", comemora Laís.

O clima colaborativo é exaltado não apenas nas questões corriqueiras do dia a dia, mas também quando um novo cliente é conquistado. E a forma de comemorar o feito é barulhenta: eles tocam um sino! Todo esse ambiente descontraído conquistou o novo estagiário logo de cara. Guilherme Ferreira, o Guigs, cursa Design e está supermotivado com a nova experiência. "Trabalhei em locais com perfil bem diferente daqui. Quero agregar outros trabalhos ao meu portfólio e acho que posso contribuir muito com a equipe", deseja. A dupla dele no setor é Pedro Godoi, que atua lá há dois anos e meio. Na sua visão, trabalhar com Jornalismo é muito interessante, pois faz com que exercite habilidades novas todos os dias. "Gosto também da dinâmica de clientes, pois volta e meia entra algum novo e isso dá movimento e novas possibilidades", analisa

Mão na massa

A Cartola nasceu há nove anos, quando não havia agências especializadas em conteúdo no Estado, e no Brasil não passavam de três. Apesar do tempo de empresa, os sócios se conhecem há duas décadas, desde os tempos de faculdade, quando estudavam Comunicação na Fabico (Ufrgs). "Nos damos muito bem, quebramos o pau, mas não somos de guardar rancor, então, nos acertamos muito rapidamente. Não fica nada mal resolvido", garante Clá, como é conhecida a diretora. A dupla também é muito parecida no quesito organização - que não é lá um ponto forte deles. "Por isso a minha mãe veio trabalhar conosco, para nos ajudar a colocar a casa em ordem", admite.

Mãe e filha, inclusive, dizem que não se tratam com essa intimidade no ambiente profissional. E os horários diferentes contribuem para isso. É que Clá vai para empresa no período da tarde, já que as manhãs são dedicadas ao filho, Rafael. Elas se encontram apenas nesse meio do caminho, o que é ótimo, segundo ambas. Além disso, desde o início, ficou definido que a atuação de Kátia seria basicamente com Tião, para não misturar as coisas. O diretor, aliás, também inicia o dia cuidando da família (a esposa e um casal de filhos), seguido de uma reunião ou outra na metade da manhã para, então, após o almoço, rumar para a agência. "Como cuido do Comercial, fico bastante na rua. Senão, fico envolvido com a gestão do negócio até as 19h. Depois disso, volto para minha família", detalha.

Os sócios, apesar das necessidades burocráticas, contam que seguem botando a mão na massa, dando seus pitacos e orientações à equipe. Ainda que precisem ter uma visão mais macro das demandas, não deixam de pegar muitas delas para si. "Gosto de fazer isso, manter o brilho no olho. Fazia tempo que não conseguia, e era algo que praticava diariamente. Não quero perder a mão, afinal, não fiz Jornalismo para fazer burocracias o dia todo, não posso largar essa cachaça", salienta Clá.

Em breve, nova fase

Atendendo a uma média de 10 clientes simultâneos, entre contratos e jobs, as áreas para as quais mais trabalharam até hoje foram educação, saúde e alimentação. A Cartola ficou conhecida, e assim se consolidou, como uma produtora de conteúdo, que atendia a um grande veículo, ou uma grande agência, ou ainda uma grande empresa. O que, na visão de Tião, é muito legal, mas limita o pensamento estratégico, pois acabavam executando o que alguém já planejou.

Então, vieram o desejo e a necessidade de pensarem mais por si mesmos. E essa vontade surgiu porque, com a evolução das redes sociais, começaram a criar para os meios digitais. "E fazemos isso muito bem", inflama o jornalista. Não demorou a evoluírem para planejamentos e gerenciamentos de mídias online, até que começaram a atender demandas de clientes que pediam por criação de campanhas offline.

No início, a equipe era formada basicamente por jornalistas, mas precisaram acompanhar as transformações diárias do mercado da Comunicação e a consequência não poderia ser outra: hoje, contam ainda com publicitários e designers na equipe. "Estamos em um processo de reposicionamento. Pensando e providenciando novidades. Vai ser legal", prevê Clá.

Entre as novidades que podem ser esperadas, estão o destino da sala, uma logomarca remodelada e peças institucionais novinhas. E sendo cauteloso no que divulgar antecipadamente, Tião prefere apenas elucidar: "Nossa necessidade agora é comunicar ao mercado que fazemos mais do que conteúdo, que temos uma entrega mais completa e integrada".

 

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