Metro Jornal: Pequeno gigante

Lançado em Porto Alegre há pouco mais de seis anos, o impresso do Grupo Bandeirantes conquistou seu espaço


A dificuldade inicial de se relacionar com as fontes, em meados de 2011, por ser um jornal ainda desconhecido, faz parte do passado. Difícil é encontrar alguém que não conheça o Metro Jornal, ou que nunca esticou o braço para fora da janela do carro ou do ônibus para pegar um exemplar. Há quase sete anos, o impresso gratuito, que começou na Suécia, chegou a Porto Alegre pelo Grupo Bandeirantes e, hoje, conta com uma tiragem de 160 mil exemplares por semana, distribuídos em diversos pontos da Capital.

Ao entrar no prédio do morro Santo Antônio, onde fica a Rede Band, o Metro Jornal pode parecer escondido, considerando que não divide espaço com os demais veículos da empresa de mídia. A redação está no térreo, ao fundo de um grande corredor. A posição geográfica, no entanto, não interfere na rotina dos jornalistas, que se mantêm permanentemente em contato com os colegas da rádio e da televisão. Proximidade facilitada não apenas pela reunião das segundas-feiras, que envolve todas as lideranças editoriais, mas, também, pela tecnologia dos dias de hoje.

Já do corredor, necessário para acessar o Metro, o editor-chefe, Maicon Bock, é avistado de longe. Quando se passa pela primeira porta de vidro, a constatação é que a redação é bem menor do que muitos podem achar. São quatro jornalistas e um estudante de Jornalismo. A equipe editorial está literalmente ao lado do Comercial, e o que os separa é apenas o marco de uma porta - aliás, os responsáveis pelo faturamento do veículo são em número maior do que os que produzem conteúdo. A relação das duas áreas, no entanto, é mínima e as conversas entre elas são informais, indo no sentido de trocar ideias, mas nunca de interferências uma na outra.

E sobre essa convivência lado a lado, Anna Almeida, gerente Comercial, que está no jornal desde o seu lançamento, diz ser apaixonante trabalhar lá. "Poder criar soluções desde anúncio, integrado ao conteúdo, conectar com a distribuição e a impressão, é ter uma visão macro de todo o processo do fazer jornalismo impresso. É um aprendizado e tanto", garante.

Editores deles mesmos

A movimentação na redação começa, geralmente, na parte da tarde e se estende até por volta de 21h30, quando a edição do dia é fechada, enviada para São Paulo finalizar o arquivo e logo remetida ao parque gráfico do Grupo Sinos, onde são impressos os exemplares. O final da tarde é quase sempre o mais silencioso entre os cinco colaboradores, pois é o momento de concentração total para encaminhar o fechamento. E o fato da equipe vizinha já ter encerrado expediente, ajuda um bocado para este período de menos barulho.

Quando a equipe chega para trabalhar, a primeira missão é verificar como está o espelho do jornal, que possui um sistema próprio, online e conectado a São Paulo, para saber a distribuição de anúncios do dia. E, então, a rotina começa de fato. É interessante a dinâmica, pois cada um da equipe diagrama suas matérias e, portanto, passa a ser "editor de si mesmo", como brinca Mônica Kanitz, responsável pela Cultura. "Acontece bastante de eu ficar mais tempo organizando o que usar, dos vários assuntos legais que gostaria de abordar, do que propriamente produzindo o conteúdo. Às vezes, dói na alma", admite, mesmo sorrindo.

Ao lado de Maicon e Mônica, completam o time André Mags, como subeditor, que responde pela Geral, voltada a notícias locais; Valter Júnior, em Esportes; e o estudante de Jornalismo da Ufrgs Állisson Santiago. Podendo ainda renovar seu contrato por mais três semestres, o estagiário garante que não é cobrado demais, pelo contrário, sente-se até protegido - o que não significa ser poupado: "Eles me dão suporte e base para aprendizado. Se puder, ainda quero ficar bastante por aqui", projeta.

Equipe enxuta

Ainda que se aproveite material de outras praças e que o jornal tenha poucas páginas se comparado ao outros impressos de Porto Alegre, a rotina não é, nem de longe, menos intensa. Ter uma equipe reduzida e até custos mais baixos tem lá suas dificuldades também, como é o caso de quando precisam alterar o espelho perto das 18h. Correria na certa, pois a mudança mexe com todas as páginas, o que impacta não apenas no horário de saída dos jornalistas, mas também acarreta um novo "pensar o jornal".

Se pudessem mudar algo, certamente seria ter mais colegas na redação. E sobre a possibilidade, Valter devolve a indagação: "Se desse para contratar mais gente para trabalhar no Coletiva.net, não teria trabalho para todo mundo? Demanda sempre terá para quantos braços tiverem", reflete. Mônica concorda com o colega e conta que seu primeiro impacto ao integrar o time do Metro foi justamente o seu tamanho. "Sempre trabalhei com equipes maiores, então, ser editora de mim mesma foi a primeira adaptação que tive que fazer", confessa.

Para organizar a rotina, Maicon tem uma call com todas as praças, diariamente, às 15h, para tratar de assuntos nacionais. E isso ajuda a definir e programar algumas pautas que, certamente, vão refletir em Porto Alegre. Apesar da integração frequente, o jornal local tem autonomia para decidir sua capa, com o auxílio de um editor de Arte, se for necessário. Eventualmente, chegam orientações sobre isso, como, por exemplo, no dia da visita de Coletiva.net, o qual aconteceu posteriormente à divulgação da Band nacional sobre sua nova programação.

Liberdade editorial

Maicon é o jornalista mais antigo do impresso, tendo sido contratado um mês e meio antes de seu lançamento em Porto Alegre, como subeditor. No início, quando o jornal ainda não circulava, tudo era muito sigiloso, e sequer podia contar aos amigos onde trabalharia. Um ano depois, como editor, cargo assumido em 2012, admite que seus primeiros 12 meses foram mais divertido, pois era o principal repórter. Hoje, em funções mais administrativas e "quebrando um galho nas produções de matérias", sabe que o tempo é mais escasso para o ofício, mas garante que a alma de repórter é a mesma. O que mudou foi o sabor das vitórias, já que agora vibra com as conquistas do seu time.

O Metro pode ser considerado um jornal leve, sem muitos temas engessados nem assuntos proibidos. Ou seja, é possível escrever sobre as mais variadas temáticas, uma vez que respeite a seriedade, o interesse do leitor e, claro, o bom senso. Em número pequeno de pessoas, nem são necessárias muitas reuniões de pauta, uma vez que todos atuam de forma auto gerenciável, com liberdade para suas agendas. Outro aspecto interessante é que, quando se faz tudo, inclusive diagramar na página, a criatividade é mais acionada, permitindo, por exemplo, que o título da matéria surja até mesmo a partir de uma foto.

Para Mags, que foi o último jornalista a ser contratado, uma das coisas mais bacanas do impresso é que qualquer ideia pode ser resolvida no mesmo dia, pois são poucos os intermediários. "Por outro lado, quando o deadline aperta ou a pauta precisa ser derrubada, tudo é mais corrido. Precisamos ter convicção nas nossas apostas para o dia."

O subeditor é quem assume o lugar de Maicon quando este entra em férias, e aí começa um período tenso, já que admite que até hoje fica apavorado com as demandas mais voltadas à gestão. "Meu foco sempre foi no Jornalismo, nunca tive função administrativa e não é algo que eu faça no meu dia a dia, então, todo ano é um novo começo quando chega esse período", conta.

A segunda família

Com uma equipe tão pequena, é necessário que o senso de colaboração impere, a eficiência seja ainda mais perseguida e a sintonia entre eles fica como a cereja do bolo. E também pudera, dos cinco, três estão desde a primeira edição do Metro. Como diz Valter, "fazer notícia é igual em qualquer lugar, mas a estrutura enxuta faz com que todo o processo seja diferenciado". Além disso, ainda que concordem que mais gente seria maravilhoso, estar somente em cinco tem mais pontos positivos do que negativos, segundo eles.

E ao comentar o nível de integração entre eles, o editor de Esportes também faz uma reflexão: "Seria complicadíssimo com tão pouca gente ter algum problema de relacionamento. Então, nossa parceria é que faz toda diferença nessa engrenagem". Aliás, qual é o lugar preferido do quinteto? A redação, é claro. Eles até têm uma cozinha próxima, às vezes alguém vai no bar, mas a cumplicidade acontece mesmo naquelas cinco mesas.

Como única representante feminina no time, Mônica garante adorar o título de "bendito o fruto" e diz que os dias são muito divertidos, sem frescura e regados a muita risada. "Acho que sou privilegiada. Percebo que há um esforço de todo mundo para que o clima seja leve", opina. E Valter completa contando que a colega não gosta de futebol, então, ele passa o tempo todo implicando com ela, tentando fazer analogias entre o Esporte e a Cultura, mas nem sempre são bem sucedidas, de acordo com o próprio. A energia do ambiente, na visão de Mags, tem uma explicação simples: "Passamos mais tempo aqui do que em casa. Não tem como não virar uma segunda família".

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