Como fazer jornalismo investigativo na era das redes sociais

Na era das redes sociais, expor as dúvidas pode ser um atalho para obter informação de forma colaborativa

Por Letícia Duarte

Se antes um dos elementos-chave para o jornalismo investigativo era o segredo sobre o conteúdo da investigação, atualmente, o oposto também pode ser válido. Na era das redes sociais, expor as dúvidas pode ser um atalho para obter informação de forma colaborativa. O tema foi discutido durante o painel 'O jornalismo investigativo na era das mídias sociais', na tarde deste domingo, 11, no SXSW, em Austin (Texas), com participação do jornalista David Fahrenthold, repórter do Washington Post que ganhou o Prêmio Pulitzer em 2017. A reportagem premiada desmascarou as mentiras do presidente norte-americano, Donald Trump, sobre supostas doações a entidades de caridade, com ajuda de usuários do Twitter.

"Na época da campanha, eu comecei a investigar para onde tinha ido o dinheiro que Trump havia prometido doar do próprio bolso. Liguei para todos os assessores e ninguém sabia, ninguém falava nada. Tentei de todos os meios jornalísticos tradicionais, e ninguém respondia. Em desespero, eu recorri ao Twitter", contou Fahrenthold. Em um primeiro momento, ele imaginava que Trump iria responder aos tuítes, já que sabia que o então candidato costumava pesquisar as citações a seu nome nas redes. Para sua surpresa, foram os leitores que começaram a colaborar. A partir das primeiras pistas, Fahrenthold conseguiu prosseguir as investigações, solicitando ajuda em outras ocasiões ao longo da apuração. "Foi incrível. Eu não entendia o poder das redes sociais, estava apenas pedindo por ajuda e as pessoas me surpreenderam", relatou.

Presente ao painel, o jornalista Carlos Etchichury, editor-chefe do jornal Diário Gaúcho e coordenador do Grupo de Investigação da RBS, avalia que a experiência de contar com ajuda dos leitores e dar publicidade às investigações no decorrer da apuração é uma quebra de paradigma no jornalismo tradicional. E a mudança reforça outra tendência, que é a importância crescente da transparência nas relações do jornalista e dos veículos com o público.

"Isso tem tudo a ver com outra palestra a que assisti aqui, com o pessoal do Trusting News, que ajuda jornais a se tornarem mais confiáveis para seu público", analisou, ao mencionar que no evento, eles enfatizaram a necessidade de os jornais e os jornalistas serem ainda mais transparentes. "Essa é uma síntese do que os leitores valorizam. É preciso explicar por que se está fazendo tal matéria, por que não se fez outra, quais são os interesses. E isso casa com o case do David, da forma como apurou e como se relacionou com o público", avaliou.

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