Na Era da Internet, a sobrevivência dos impressos está na profundidade

Diretor de Redação da Revista Amanhã, Eugênio Esber, incitou congressistas a repensarem o papel dos jornais diários

Durante anos, o grande dilema dos jornais diários sempre foi antecipar fatos ou aprofundá-los. De acordo com o diretor de Redação da Revista Amanhã, Eugênio Esber, essa dúvida não existe mais, pois não há como competir com os meios digitais em termos de agilidade. Na palestra de abertura do 11° Congresso dos Diários do Sul do Brasil, intitulada O novo papel do jornal, ele destacou que, na Era da Internet, o único caminho para a sobrevivência dos impressos é a profundidade dos conteúdos. "O caminho que leva ao futuro é ir além do factual. Mais do que relatar, os jornais devem analisar, olhar mais para frente do que para trás. Focar menos no que aconteceu e mais na tendência. O jornal não pode resumir e imprimir notícias que as pessoas já conhecem há 24 horas", avaliou.

Segundo ele, a velocidade da transformação tecnológica não deixa muitas opções. Por isso, a inteligência e a credibilidade devem ser os grandes diferenciais dos veículos. O diretor da Amanhã ainda defendeu a "retenção de talentos para evitar a desidratação do produto". Além de investir na redação, é necessário que se busque a diferenciação, com ênfase na reportagem e na análise. "Isso significa o adeus ao modelo de baixo custo baseado em reprodução de releases. A seletividade e relevância do conteúdo é outro caminho. Os jornais devem separar o joio do trigo. E publicar o trigo?"

O jornalista propôs aos participantes que se despreendessem dos padrões estabelecidos. A justificativa? "Fomos educados para um mundo que não existe mais." A Internet esvaziou os jornais diários ao assumir a função de informar. Conforme Eugênio, os jornais, em resposta, tendem a se 'arrevistar', resgatando uma função que os próprios meios entregaram as revistas nos primórdios do século XX. "O sucesso das revistas se deveu à incapacidade dos jornais de entregarem um conteúdo mais completo aos leitores. O mesmo acontece atualmente: a missão de informar com agilidade, que antes pertencia aos diários, agora cabe à Internet."

Em sua palestra, Eugênio não decretou o fim do jornalismo impresso, mas instigou o debate sobre um necessário reposicionamento. "Muitas pessoas se precipitaram ao anunciar o fim dos jornais impressos. Entretanto, o cenário ainda não está claro. Vivemos uma era da fragmentação, de overdose de informação. E são os jornais que colocam ordem no caos, filtram e separam as informações relevantes das fúteis. Eles ainda têm uma importante função de legitimação e certificação", afirmou.

Outras alternativas sugeridas para os diários foram: colunismo com informação, surpreender o leitor, co-criação de conteúdo com leitores, reforçar vínculos com a comunidade, integração do online com o off-line e promoção de eventos culturais. Para finalizar, o jornalista aconselhou os participantes a pensarem em uma sutil, mas necessária, transformação: a de deixar de perceber seus negócios apenas como 'jornal'. "O negócio deve ser a informação, com conteúdo diferenciado, independente da plataforma."
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