O desafio dos dois minutos

Por Rodrigo Ramos, para Coletiva.net

Levando em conta que a comunicação vive e sofre por causa das redes sociais, é interessante analisar o número expressivo - para parâmetros dessa bolha - de pessoas que assistem ou dizem assistir a eventos esportivos com a tecla SAP ligadas e vão reclamar no Twitter sobre os profissionais brasileiros.

Por mais que falar seja uma capacidade básica mínima, falar em um microfone qualquer que seja a canopla ou espuma ostentada não é fácil, mesmo que o tempo das transmissões esportivas com "metralhadoras de palavras" estejam até certo ponto superadas. Relatar um evento sobre o qual você não tem nenhum controle e para o qual não existe roteiro é desafiador e pode, até mesmo, tornar-se assustador.

Além do mais, também pela realidade econômica e cenários de mercado, cada vez menos os profissionais transmitem esportes in loco. Nos casos de eventos internacionais são milhares de quilômetros de distância. Mesmo assim, a "massa crítica das mídias sociais" cobra dos profissionais da comunicação como se eles estivessem ao lado dos campos de jogo, quadras, pistas, etc.

Fazer o popular tubo é ainda mais difícil do que uma transmissão in loco por não haver a possibilidade de verificar os fatos rapidamente e pela ausência das reações do público. Contrapondo-se o calor do jogo com o frio do ar-condicionado do estúdio. Os críticos parecem desconhecer que mesmo nos veículos mais badalados, as transmissões desse tipo são cercadas de precariedade, justamente pela falta do controle da matéria-prima básica: a informação.

Os homens de rádio e mesmo os de televisão têm, em muitos casos, o mesmo recurso que todos nós em casa temos para fazer suas observações, as famosas "imagens da geradora", as quais originaram o clichê: "Não nos responsabilizamos pela transmissão que é da entidade XYZ". Assim como a mídia é geralmente vilanizada por cobrar trabalhadores no exercício de suas profissões, o mesmo ocorre com os críticos da crítica.

O caráter público do ofício do jornalista, especialmente no que concerne o trabalho final que chega aos consumidores, é dado como algo simples de ser feito. Algo que qualquer um poderia se habilitar a fazer. Nessas horas me remeto a um causo do comentarista esportivo João Garcia. Em seus tempos de rádio Bandeirantes ele teve de encarar um ouvinte raivoso que se achava mais preparado que os analistas de futebol da casa para debater o esporte.

O tal ouvinte chegou ao ponto de ir à sede da Band em Porto Alegre pedir para integrar a equipe de esportes da rádio para desmascarar aqueles "impostores". Pois bem, Garcia interveio e pediu que ele gravasse um comentário de dois minutos e que se ficasse bom eles iriam conversar melhor. O ouvinte ficou surpreso e atordoado. JG o encaminhou para um banheiro desocupado para que ele tivesse privacidade e uma boa acústica. Passada meia-hora, o futuro comentarista desistiu deixando um material de 30 segundos pontuado por muitas gaguejadas e nenhuma frase completa.

Rodrigo Ramos é comunicador e escritor, com mais de uma década de atuação no rádio esportivo.

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