Ovos de ouro: questões latentes ao jornalismo

Por Leandro Olegário, para Coletiva.net

Leandro Olegário - Crédito: arquivo pessoal

Fui despretensiosamente ao supermercado comprar ovos. Mais especificamente, procurava a bandeja com meia dúzia. Ao não encontrá-la de imediato, me dirigi ao funcionário do estabelecimento. Ele prontamente indicou a gôndola onde estava o produto. Agradeci pela presteza no atendimento. Ele perguntou meu nome e se eu era jornalista. Confirmei. E lascou: O que você pensa do jornalismo atualmente? Tomei ar, organizei o turbilhão de palavras em minha mente em poucos segundos. Respondi que é uma profissão que sofreu uma brutal transformação com o avanço tecnológico e que se tornou vital nessa profusão de informação que somos bombardeados, principalmente, para curadoria e para a separação de verdades e mentiras. Não deixei de fazer uma autocrítica profissional: temos como desafio separar informação e opinião, mas, principalmente, delimitar informação e entretenimento. 

Se o jornalista produz conteúdo para o seu público, nichado ou diverso, é por ele, e para ele, que deve se pautar e, também, pautá-lo, entregando o que ele gostaria de saber e o que ele precisa saber, agradando-o ou não. Isso vale para mostrar soluções, denunciar injustiças e irregularidades, interpretar acontecimentos e traduzir fenômenos.

A última pergunta que recebi antes de seguir pelo supermercado: Qual o futuro do jornalismo? Disse que a resposta certa valia de milhões de dólares, ovos de ouro. O pêndulo do jornalismo oscila entre um volume imenso de dados e a dimensão humana, ancorados em atmosferas multitela, imersiva, interativa e personalizada. Aposto: somente com a construção de conteúdo feito com DNA de novidade, propósito e veracidade é que conseguiremos ter pertencimento na vida das pessoas. Enxergo a profissão como jornalismos. Sim, no plural. Com diferentes horizontes e possibilidades, sem, contudo, abrir mão da capacidade de promover o impacto social. Afinal, democracia, cidadania e jornalismo são faces e borda da mesma moeda: a sociedade.

Leandro Olegário é jornalista, professor, doutor em Comunicação e segundo vice-presidente da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) ([email protected])

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