Um portal, um Orixá e uma cidade

Por Gabriel Lima Araujo, para Coletiva.net

Gabriel Lima Araujo - Crédito: Arquivo pessoal

Paço Municipal. Praça Montevidéu. Fonte Talavera. Ali, no chafariz presente do povo espanhol a Porto Alegre, marco zero da capital gaúcha, onde as ciganas conseguem a atenção de um porto-alegrense a cada cem para a leitura das linhas das mãos, perpassa o Paralelo 30 Sul. O misticismo milenar diz tratar-se de um portal geográfico de intenso poder energético. A cidade seria, por declinação, o exato oposto das pirâmides egípcias do Cairo e também das Maias, no México, dois dos pontos do Paralelo 30 Norte. 

Na diagonal do monumento, ao lado da sede histórica da prefeitura, outro local de energia ímpar. O Mercado Público. Em seu centro, na encruzilhada dos quatro corredores, o mosaico de pedras e bronze ao chão simboliza a presença do Orixá Bará. Não por acaso, o lugar sedia celebrações das religiões de matriz africana na capital que é uma das mais umbandistas do país. Abençoado por suas floras, o prédio sagrado, coração do município, recebe e oferece a riqueza de boa parte do mundo. Dos itens de fé herdados da África aos temperos da Índia. Das bebidas importadas da Europa às frutas de todos os cantos do país. E, claro, os produtos e serviços que justificam a alcunha de gaúcho: erva-mate, carne e bons bares e restaurantes.

Quiçá a vasta energia deste pequeno ponto do globo explique a dificuldade de se encontrar um porto-alegrense indiferente à sua terra natal. Da alegria suposta em seu nome à tristeza sugerida em seu bairro, há os viajados que quando voltam ecoam não haver lugar igual no mundo, os enraizados que não saem por nada e riem de quem precisa conhecer o novo para chegar à sua mesma velha conclusão, outros viajados que, se pudessem, não voltavam, e os que desdenham e demonstram a vontade de sair sem quaisquer movimentos que validem suas falas.

Porto Alegre é de todos eles. É de quem nasceu e saiu, de quem chegou e ficou, de quem partiu e voltou. Dos que exaltam suas virtudes e dos que reclamam de seus problemas. Mas, com o perdão de quem não se enquadra, Porto Alegre é um pouco mais daqueles que, cultivando a esperança de um lugar melhor para se viver, permanecem. Seja pela ausência de indiferença, seja por amor - a ela ou a alguém que a ama. O Paralelo 30 Sul pode ser um norte aos que souberem experienciá-lo. Foi a cigana quem disse. 

"Coisas de magia, sei lá".

Gabriel Lima Araujo é jornalista e gerente de Comunicação na Moglia ([email protected])

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