Assis, um marco

Por Ricardo Chaves O livro Assis Hoffmann ? O Fotógrafo Dentro da Cena acabou de ser lançado. É uma obra póstuma, homenagem do filho …

Por Ricardo Chaves
O livro Assis Hoffmann - O Fotógrafo Dentro da Cena acabou de ser lançado. É uma obra póstuma, homenagem do filho Leonardo, que contempla um sonho que seu pai não conseguiu concretizar em vida. O trabalho, realizado pelo fotógrafo ao longo de toda uma vida, está ali sintetizado de uma forma que permite que tenhamos uma boa ideia do protagonismo do Assis, produzindo imagens na história relativamente recente do Estado, do Brasil e até do mundo.
Portanto, ali está parte importante do seu legado. Vendo as imagens, mesmo quem não o conheceu pode intuir como era o cara. Eu, que convivi com ele, posso modestamente acrescentar duas ou três coisas que talvez digam um pouco de como era aquele "homem fora da cena".
Adjetivos podem ser adequados e resumir uma personalidade. Vou usar apenas três: irascível, obstinado e generoso. Assis tinha o pavio curto. Já adulto, mais de uma vez ele "saiu no braço" em defesa do que julgava justo. Numa dessas oportunidades, acabou estendido no chão (com a Rolleiflex no pescoço), desmaiado nos paralelepípedos da Rua da Praia, depois de espancado pela polícia.
Ele acreditava tanto no poder da imagem que chegou a manter um programa sobre fotografia? no rádio. Mais especificamente, na Rádio Farroupilha.
Quanto à generosidade, bem? são tantas as histórias que não caberiam neste texto. Mas vai pelo menos uma: engajado na causa da proteção aos índios, ele recolhia os donativos à Associação Nacional de Apoio ao Índio (Anaí), da qual foi um dos fundadores, e aproveitava o fim de semana (de folga) para levar o dinheiro até a reserva de Nonoai. Se a grana pessoal estava mais folgada, ia em seu próprio carro; do contrário, encarava um vai e volta, de ônibus, noite adentro.
Por tudo isso, Assis, para mim e para tantos outros, é um marco plantado no chão gaúcho. Firme, inflexível, referência. Uma objetiva impregnada de subjetividade.
O artigo foi publicado originalmente em Zero Hora, em 21/11/2015.

Comentários