Mulheres que fazem a diferença? Fale mais sobre isso

Por Liana Bazanela, para Coletiva.net

Na última semana fui convidada para ser moderadora do painel "Mulheres que fazem a diferença", com a participação de três grandes nomes do mercado de comunicação:  Fernanda Romano - diretora da Malagueta (EUA), Andréa Siqueira - diretora de criação da Isobar (Brasil), e Luisa Kracht, diretora de cinema da Primo Cinematográfica (Argentina). Este foi o único painel com a presença de mulheres do mercado publicitário, durante o tradicional Festival Mundial de Publicidade de Gramado, o que gerou uma polêmica entre os estudantes, que representavam a maioria do público participante.
De lá pra cá, muitas pessoas me procuraram para falar sobre este assunto. Uma galera elogiou e comentou sobre a relevância e importância deste painel. Outras pessoas me questionaram sobre o tema e me passaram dados e fatos que demostram suas percepções, de acordo com a realidade em que estão inseridos. Alguns, poucos, comentaram que era "mimimi" e papinho de "feminazi". E, a grande maioria, me incentivou a continuar promovendo de alguma forma esta discussão.
Não sou especialista no tema, mas sou curiosa e muito interessada em participar de um movimento, necessário, de promoção da representatividade feminina. Vai aqui minha opinião: a realidade é que existe muito machismo no nosso mercado e precisamos falar muito sobre isso. Nós, publicitários, que alimentamos a indústria criativa, precisamos ter responsabilidade com o conteúdo que produzimos e disseminamos. Se acreditamos que as marcas não podem ter pré-conceitos e necessitam evoluir na forma de se relacionar com os seus públicos, precisamos olhar para dentro e fazer o "tema de casa", erradicando de vez a desigualdade nas agências, que foi construída e enraizada durante toda nossa história. Como diz Taís Fabris da Consultoria 65/10, que trabalha majoritariamente com e para mulheres: "antes de falarmos sobre publicidade machista, precisamos falar sobre o machismo na publicidade".
Trazendo alguns dados da realidade das agências: na criação, temos, em média, 20% de representação feminina, segundo pesquisa do Meio & Mensagem de 2016, sendo que, na liderança desta área, apenas 6%. A grande maioria das mulheres estão no setor de atendimento; porém, entre os líderes que chegam à gestão das principais agências oriundos deste departamento, não encontramos mulheres.  Nos eventos e festivais do segmento, menos de 20% dos painelistas são mulheres. Nas entidades de classe, encontramos pouca presença feminina, e, na presidência, menos ainda.
No painel, durante o festival, Andrea trouxe exemplos de iniciativas importantes, entre elas, See it be it - que na tradução livre significa "veja isso, seja isso" -, que visa acelerar a carreira de jovens criativas com potencial para se tornarem grandes líderes; e Free the bid - que se entende por "livre a oferta" -, cujo objetivo é convidar as agências de Publicidade a incluírem pelo menos uma diretora mulher nos orçamentos.
Fernanda falou sobre o quando a diversidade é fundamental para nossa indústria: "Quando colocamos pessoas com perfis diferentes em uma sala, tem conflito, e o conflito gera a criatividade". E comentou ainda que "a igualdade de gêneros está longe de se tornar realidade. Todos somos inconscientemente machistas".
Sabendo desta realidade interna das agências, será que avançamos na forma de representar as mulheres nos trabalhos que colocamos na rua? A argentina Luisa questionou sobre como estamos retratando a questão da mudança de estereótipos. "Não podemos criar um novo rótulo para as mulheres. Para acabar com a imagem da mulher sensual, não precisamos criar uma proposta forçada, de mulher "empoderada". A mulher pode e deve ser representada de forma natural, como ela é".
Sou mãe e preocupo muito em como educar meu filho. Acredito que a ruptura do preconceito começa na educação. Chimamanda Adichie fala uma coisa em seu livro "Como educar crianças feministas - um manifesto", que, pra mim, faz muito sentido:  "Ser feminista é como estar grávida. Ou se é, ou não se é. Ou você acredita na plena igualdade entre homens e mulheres, ou não". Precisamos acabar com o que ela chama de "feminismo leve"- que é a ideia de igualdade feminina condicional.
Todo esse brainstorming de dados, ideias e conceitos sobre o assunto que quis trazer acima ainda pode parecer um pouco soltos, mas cumprem com um papel que, ao meu ver, é essencial para começarmos a transformar a realidade: eles geram inquietações, que geram reflexões, que geram diálogos.
Ao promovermos esta discussão, estamos ajudando a construir uma nova realidade. Só se resolve um problema quando a gente admite que ele existe, está aberto a mudar e coloca a mão na massa para fazer uma transformação acontecer. E essa mudança começa com o diálogo, não só entre as mulheres, mas por todos que estão dispostos a falar mais sobre isso.
Liana Bazanela é diretora da DeBrito Sul e presidente do Grupo de Atendimento do Rio Grande do Sul.

Comentários