A lição do trava-língua

Por Elóy Terra* Meu primeiro trabalho no rádio foi o de redator free-lancer de comerciais, em 1955, na Rádio Metrópole, pequena emissora de um …

Por Elóy Terra*
Meu primeiro trabalho no rádio foi o de redator free-lancer de comerciais, em 1955, na Rádio Metrópole, pequena emissora de um quilovate, que tinha o estúdio em Porto Alegre e o transmissor em Canoas. Minha atividade principal era o jornalismo, como repórter do matutino A Hora.
Logo comecei a perceber que havia diferença entre o texto para jornal e o texto radiofônico. Passei então a desenvolver o que, na época, chamei de estilo e que, mais tarde, vim a entender que se tratava da linguagem própria do meio rádio.
Fiquei tão encantado com o poder da linguagem radiofônica, que fui aos poucos abandonando o jornalismo. No rádio, era preciso escrever e reescrever até encontrar o tom certo. Nesse tempo eu ainda não tinha formado o hábito de ler os textos em voz alta antes de entregá-los ao locutor, o que teria me livrado do lamentável incidente do trava-língua.
A maior parte dos nossos clientes eram anunciantes diretos, pois só havia três agências locais: Star Publicidade, Clarim e Sotel, e as filiais da Standard, Lintas, Grant Advertising e McCann, que concentravam seus negócios nas grandes emissoras: Gaúcha, Farroupilha e Difusora. Raramente sobravam Pis para a Rádio Metrópole, que precisava então buscar faturamento nos anunciantes diretos.
Nossos vendedores (depois chamados contatos) traziam as informações para a redação dos comerciais de lojas de varejo, restaurantes, indústrias locais de pequeno e médio porte, prestadores de serviços, circos, cartomantes, parques de diversões e outras miuçalhas.
Meu primeiro tropeço na redação de comerciais aconteceu num texto criado para vender as então recém lançadas trilhadeiras Tigre para a lavoura de trigo. Naquele tempo eu ainda estava condicionado ao texto de jornal; texto para ser lido em silêncio. E assim nem me dei conta de que estava criando, na verdade, uma fatal armadilha para o pobre do locutor. Depois de falar sobre a importância da trilhadeira para a rentabilidade da safra, lasquei um slogan que me pareceu um achado fenomenal: "Trilhadeiras Tigre para o seu trigo". O locutor tropeçou no trava-língua e ficou furioso, com toda a razão. A partir daí passei a ler em voz alta os textos dos comerciais antes de entregá-los ao locutor.
* Elóy Terra é publicitário e jornalista.
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