A migração das agências de propaganda

Por André Costa Nos últimos anos temos observado uma forte movimentação das agências de propaganda em busca de escritórios stand alone (independentes), na contramão …

Por André Costa

Nos últimos anos temos observado uma forte movimentação das agências de propaganda em busca de escritórios stand alone (independentes), na contramão do que normalmente fazem empresas do mesmo porte, mas de segmentos diferentes.

São adeptas deste tipo de ocupação algumas das maiores agências do Brasil que, com essa estratégia, buscam o máximo de "privacidade" e a "melhor localização possível". Destacam-se, dentre elas, alguns nomes como Ogilvy, NewcommBates, F/Nazca, DM9, WBrasil, Neogama e Taterka. Na mesma linha, a agência MPM deve inaugurar em 2006 um escritório no formato stand alone na região do Itaim, na capital paulista.

Juntas, estas empresas ocupariam "duas torres inteiras" de edifícios corporativos com mais de 20.000 m² privativos. Em uma faixa abaixo, formada por agências médias, encontramos dezenas delas ocupando imóveis independentes com até 1.000 m² privativos.

Apesar dos atuais edifícios de escritório oferecerem alta tecnologia construtiva, moderna infra-estrutura predial e segurança, entre outras qualidades mais subjetivas como arquitetura diferenciada e status, nota-se uma preocupação crescente com alguns aspectos importantes para o mercado em geral, mas sobretudo, ainda mais importantes para as empresas de propaganda: imagem institucional, operacionalidade e custos.

A imagem institucional, primeiro ponto de nossa análise, engloba tanto o aspecto exterior do edifício, como também o interior. Uma identidade visual própria, com arquitetura exterior que imprima ritmo e modernidade, tipificam o perfil da empresa, conferindo destaque na paisagem urbana. Os edifícios de escritório, em geral, não permitem este arrojo ou identificação própria. Não podemos esquecer também da questão do interior. Por mais moderno que seja um edifício de escritório, ele dificilmente permitirá grandes variações de espaço interno ou fornecerá andares com o pé direito duplo.

A operacionalidade, segundo ponto da nossa análise, é um dos fatores primordiais. A atividade de uma agência é bastante diferenciada. Os departamentos de criação e arte, por exemplo, normalmente imprimem um ritmo intenso de trabalho, exigindo jornadas que extrapolam o tradicional horário comercial, sem contar os finais de semana. Muitos edifícios não estão preparados para esta "carga extra de funcionamento", ou, quando estão, transferem os custos deste uso adicional (ar condicionado, segurança, limpeza, administração, entre outros), integralmente para a agência de propaganda.

Há também outra questão ligada à operacionalidade, ou à falta dela, em virtude da verticalização (vários andares) a que as agências instaladas em edifícios estão sujeitas. Os imóveis stand alone, em geral, permitem uma maior interação por serem horizontais. Esta característica é apreciada por agências que possuem seus diversos departamentos dispostos como uma "linha de produção".

Também é importante destacar que muitas agências possuem setores e áreas internas de produção gráfica, de mídia, dentre outras, que exigem espaços físicos diferenciados. Em muitos casos há necessidade do armazenamento de materiais de campanhas, que, em geral, poderiam ser alocados em áreas menos nobres e conseqüentemente mais baratas em um imóvel do tipo stand alone". Em um edifício tradicional de escritório o armazenamento é feito normalmente no próprio andar por um custo locatício elevado, ou então, a agência busca um outro imóvel considerado como back office e mais barato para atender tais necessidades. Nesta hipótese, uma logística de comunicação e transporte terá que ser implantada gerando novos custos e ineficiência.

Por último, temos a questão dos custos. Muitas agências reduziram em até 50% as despesas fixas com aluguel, condomínio, entre outros, com a mudança para um imóvel stand alone.

Hoje há um mercado potencial de investidores imobiliários com interesse neste perfil de empresas e dispostos a construírem sob medida (build to suit) ou adaptarem seus edifícios. Há ainda um mercado em expansão que envolve o chamado retrofit (adaptação) de antigos galpões situados em regiões ainda centrais de cidades como São Paulo. Estes espaços, relativamente baratos, uma vez readequados, permitem uma total flexibilidade no uso dos mesmos (pé direito duplo, mezaninos, grandes áreas abertas, entre outros).

Comentários