Always pra sempre

Por Márcia Fernanda Se você ainda duvida do poder que uma marca tem de saltar da embalagem como a mais salvadora das criaturas, transformar a …

Por Márcia Fernanda
Se você ainda duvida do poder que uma marca tem de saltar da embalagem como a mais salvadora das criaturas, transformar a sua aflição momentânea numa experiência de compra inesquecível e em função disso, figurar pra todo o sempre na sua lista de compras. Eu quero te contar uma história no mínimo pitoresca que aconteceu comigo no Egito.
Cidade do Cairo, mais ou menos 18h, temperatura escaldante e em pleno Hamadan - mês em que os muçulmanos praticam o seu jejum, é tempo de renovação da fé e de leitura mais assídua do Alcorão, frequência à mesquita, correção pessoal e autodomínio.
Ouvíamos, através dos muitos alto-falantes das inúmeras mesquitas espalhados pela cidade, milhares de vozes entoando lamuriosas e quase hipnóticas orações. Ouvir aquilo por muito tempo dá barato, acredite!
Depois de um dia cansativo, mas muito divertido, com passeios dos mais variados, uma verdadeira imersão cultural e totalmente empanados pela poeira do deserto, aguardávamos - meu marido e eu - o trem para a cidade de Aswan, cidade que fica ao sul do Cairo.
De repente sinto algo estranho e apavorante.
Sim, pode acontecer com qualquer uma. Só que no deserto e com as malas "por aí", ninguém merece.
Nessas horas a gente agradece a Alá por ter um marido que entende sem tantas explicações o que precisa ser feito.
Saímos aflitos da estação ferroviária procurando uma farmácia.
Desta vez nós e o Osama, nosso guia que mal falava espanhol. Vale dizer que a metade da população masculina local se chama Osama e a outra metade, Mohamed. Isso facilita muito as coisas?
Caminhamos cerca de cinco quarteirões em meio ao caos daquele  trânsito sem lei. O nosso guia nos apressava. Esbarrávamos em carros, animais, barraquinhas de tudo que você possa imaginar e em muita gente que se dirigia com pressa para rezar nas mesquitas.
Os "locais" me olhavam como se eu fosse uma pecadora simplesmente porque eu estava com os ombros descobertos. E eu, me sentindo uma ET sem entender uma palavra do que estava escrito nas fachadas das lojas e "naquela situação estranha".
Enfim, chegamos a uma farmácia.
Gente, eu não sei como é que uma criatura de Deus (de Alá!) consegue se achar no meio daquele fuá. Bom, mas isso é uma outra história.
Passamos os olhos rapidamente e é óbvio que não vimos nem um vestígio do que estávamos procurando. Então, iniciamos "o processo" de comunicação.
Tentamos em inglês, em espanhol, em alemão, com sotaque de árabe para ver se a coisa ia por osmose, e nada.
Já estávamos quase apelando para um gesto que pudesse traduzir a minha necessidade, mas o medo de morrer apedrejados nos inibia.
O vendedor da farmácia nos olhava com fome. Sim? enfrentar dois loucos falando coisas sem sentido e gesticulando desesperadamente sem ter comido um migalha sequer o dia todo e sem ter bebido um gole de água desde às 6h da matina, é brabo.
Até que o meu marido falou a palavrinha mágica: "Always!".
O vendedor nos olhou com cara de "Ah! era isso? Deveriam ter dito antes?" - e imediatamente me trouxe o pacote do absorvente.
* momento do alívio?



Saí da farmácia apressada e maravilhada com a habilidade que algumas marcas têm de fazer história na vida da gente.
Lá, farmácia se escreve mais ou menos assim: ???????.
E absorvente íntimo definitivamente se escreve assim: Always.
Uma curiosidade irônica: o absorvente interno foi criado há 3.500 anos no Egito e eram feitos de papiro.
Márcia Fernanda é publicitária, especialista em gestão de marcas e lidera o marketing do Hospital Mãe de Deus.
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