Por Sérgio Capparelli

Uma pesquisa do Ibope culpa o trânsito e a web pela queda de audiência nos principais canais de televisão. A notícia saiu na Folha de S. Paulo. E eu comecei a me preocupar. De 2006 a 2008, a televisão perde telespectadores. Por causa do trânsito, veja bem. E da internet. Os canais de televisão já começaram a reagir, pedindo à Anatel mais guardas de trânsito e rodízio de veículos. Só assim os programas voltarão ao esplendor de antigamente.

A notícia é ardilosa. Por quê? Porque os jornalistas também são ardilosos. Leio o resto da notícia e descubro que existem outros responsáveis pela mudança de hábito de consumo da televisão. No caso da queda de audiência da TV paga, a ação das operadoras contra a pirataria, as constantes repetições de programas e o excesso de comerciais.

Brincadeira!

Não é por causa do preço das mensalidades da televisão paga. Ainda bem que o Ibope não descobriu isso. Nem deveria descobrir. Pra quê? Causaria mais sangria entre os telespectadores, reduzindo seus hábitos de consumo. E o auto-elogio de que temos uma dos melhores sistemas de televisão do mundo ficaria prejudicado.

Brincadeira!

No caso da televisão aberta, o grande concorrente apontado são os DVDs. Está na pesquisa. Não se discute, portanto. Ah, esses DVDs! Ainda vão acabar com o sistema televisivo brasileiro. A Anatel deveria tomar providências, impedindo o combate à pirataria pára aumentar o número de telespectadores.

Brincadeira!

O Ibope não conseguiu descobrir se outra causa da queda de telespectadores é a baixa qualidade dos programas. Não conseguiu ou não quis. Porque, vamos e venhamos, melhor não fazer a pergunta da qual já queremos a resposta. Daí culpar o trânsito pela retração dos telespectadores. Eles não fazem nada enquanto as filas se alongam na Marginal Tietê, em Xanxerê ou no sertão de Cabrobó.

Vocês querem saber minha opinião, depois que li quais são os culpados? Um grande alívio. Porque eu estava errado. Primeiro, achei que fosse a baixa qualidade dos programas que causava o êxodo da sala da televisão. Felizmente não é assim. Tanto melhor. Depois julguei que em vez da culpa ser do guarda de trânsito, a culpa fosse de minha sogra, com sua mania de ligar o secador de cabelo na hora da telenovela.

Brincadeira!

*Sérgio Capparelli é jornalista e escritor, colaborador de Coletiva.net.