Por Marco Valério*
Prezados Dirigentes da Indústria Automobilística Brasileira:
Estou muito angustiado. E, assim como eu, milhões de pais e mães andam com o coração na mão, por este Brasil afora. Vivemos momentos de grande apreensão.
Estamos horrorizados com o descontrole do trânsito do nosso país. É estarrecedora a quantidade de gente mentalmente incapaz que transita pelas ruas e pelas estradas brasileiras. Uma tragédia. São homens e mulheres, potencialmente suicidas e/ou homicidas, que ameaçam todos nós e, em especial, os nossos filhos (as estatísticas mostram que jovens morrem mais em nosso trânsito). Essas pessoas estão em todos os lugares, ensandecidas, embriagadas. Os governos, todos, sem exceção, têm dado demonstrações inequívocas de incompetência na condução desse problema. Por outro lado, a esmagadora maioria dos políticos comporta-se como costuma comportar-se em relação a todas as outras grandes tragédias nacionais: é omissa, indiferente, criminosamente lenta. As polícias fazem o que podem com os recursos de que dispõem. E dê-lhe explicação, dê-lhe campanha mal-sucedida, dê-lhe morrer gente. Uma demência. Por isso estamos muito angustiados, vivendo um eterno desassossego: o coração apertado, as noites em claro. Um sufoco. Se os senhores têm filhos, então sabem perfeitamente do que estou falando. Dia desses, visitei a sede da Fundação Tiago Gonzaga, que, há oito anos, realiza um importante trabalho de conscientização, um conjunto de ações que visa "minorar os acidentes de trânsito, principalmente os que envolvem jovens". Fui até lá para convidar Diza Gonzaga, fundadora da instituição, para participar de um encontro de pais em que seria debatida a loucura do trânsito. Enquanto esperava para ser atendido, um painel, numa das paredes da casa, chamou a minha atenção. Ali estavam afixadas centenas de fotos de crianças e de adolescentes. Todos mortos em ocorrências de trânsito. Senti uma dor profunda. Terrível. Decidi escrever-lhes esta carta. Senhores dirigentes da indústria automobilística do Brasil, quero fazer um pedido: retirem da propaganda dos seus produtos a velocidade. Não, isso não vai resolver o problema. Mas a linguagem empregada na propaganda da indústria automobilística não educa e contribui para manter inalterada essa gravíssima situação. Portanto, senhores, vale a tentativa de evitar na sua propaganda, por exemplo, cenas em que seus veículos aparecem em alta velocidade. Alguns secando roupa nos varais, outros levantando poeira? Não vai resolver, mas pode ajudar. Se pode ajudar, vale tentar. Se um jovem, um apenas, se salvar, terá valido a pena. Obrigado. Marco Valério, idealizador do Projeto Filhos Criados.
* Marco Valério é publicitário e Idealizador do Projeto Filhos Criados, iniciativa sem fins lucrativos que tem como objetivo fomentar a discussão sobre temas relacionados com a arte de criar filhos.
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