Da palavra, a força

Por Glaucia Rita Civa* Muito já foi dito sobre "o que move o mundo". O dinheiro, o poder, a vontade, a política… O amor, …

Por Glaucia Rita Civa*
Muito já foi dito sobre "o que move o mundo". O dinheiro, o poder, a vontade, a política? O amor, creio, é o real "quê" para a sentença. Há muito de amor, que é o desejo máximo, sublime, em tudo - na vontade, na política, no apego ao dinheiro e ao poder, inclusive - que guia, que movimenta. E se não sempre, pára-se para pensar nisso ao menos quando da morte de um dos ícones da paixão mundial: Yasser Arafat, o homem que até no pseudônimo de guerra levava, ainda que somente em português, seu verbo guia - Yasser, o Abu Amar.
O fim físico de Arafat vindo antes do sonhado fim da ocupação palestina traz à tona mais que comoção. É uma reflexão exigindo ser feita, um parêntese na história para que se pense a respeito do direito humano. Até quando o povo palestino viverá subjugado? E subjugado exatamente a que, a quem? São tantos interesses envolvidos? Diversidades que geram perguntas não sem respostas, mas de respostas muitas, de respostas tão várias que confundem - ou então não é confuso o fato de um povo que brada pela paz, ter de guerrear incessantemente?
Numa mão a arma, na outra o ramo de oliveira. Um dos lemas de Arafat, a contraditória frase exprime a situação permanente de pavio aceso vivida na Palestina, um território sedento de autonomia, de liberdade, e pela negação deste desejo, também ávido pela luta constante em sua busca e pela vingança à frustração do nunca alcançar. Porém, agora o que era ícone vivo e atuante torna-se apenas símbolo, e o futuro - e mesmo o presente - da Palestina constitui-se numa incógnita inquietante e perigosa, até.
Puxei o artigo pelo amor porque é nisso que estamos: na esfera dos sentimentos imbuídos de alma própria, que dominam as pessoas, e não o contrário, que tomam suas próprias atitudes, que regem, que vivem e, por fim, exitosos ou não, morrem. Arafat se foi, a ocupação palestina não. Ou seja, Arafat morreu, mas o fervor pelo que viveu e pelo que lutou até a morte não é findo: continuará ativo em seu povo, no povo que clama por uma terra, uma identidade, uma vida própria. Um povo que persistirá seguindo o líder, eternizado na palavra - "que é mais forte que o revólver" (Yasser Arafat).
* Glaucia Rita Civa é jornalista.
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