Desculpem-me o desabafo.

Por Carlos Karnas Amigos, parem o mundo que eu quero descer! Adrenalina mais baixa, corpo cansado e dolorido, mente ainda rodando num ritmo e …

Por Carlos Karnas
Amigos, parem o mundo que eu quero descer!
Adrenalina mais baixa, corpo cansado e dolorido, mente ainda rodando num ritmo e velocidade alterados, estou a me recompor depois de vivenciarmos, eu e minha família, o terceiro assalto armado, dentro de casa, aqui nesta "maravilhosa, estupenda e progressista" São José dos Campos, São Paulo, Brasil.
Putissimamente indignado, revoltado e rancoroso, estou a amaldiçoar os três filhos da puta que vandalizaram toda a nossa casa, para roubar todos os nossos pertences, nosso pouco dinheiro e mais o meu carro.
O meu testemunho e um agradecimento para a heroina do episódio: a minha filha Larissa, que soube manter a calma de todos o tempo todo, inclusive dos três assaltantes, a ponto de evitar violência desenfreada. E ainda negociou, administrou, pelo menos dois instrumentos de trabalho: este computador que nele escrevo este

agora e que me oportuniza raros e esporádicos bicos de sobrevivência - neste atual estágio indeterminado de desemprego - , e uma balança eletrônica do negócio de hortifrutigranjeiros que ela toca com sacrifício diário e permanente. Foi o que sobrou na casa. Fora geladeira, fogão e móveis, sobrou este computador e uma balança

eletrônica. O resto se foi, inclusive dinheiro e carro, novamente. Um respeitável prejuízo.
Senhoras e senhores, não agüento mais tamanho nível de insegurança, violência e esta estrutura social em que vivemos. Não agüento mais! Não há mais jeito. Na semana passada já haviam arrombado o meu carro e levado o som. O conserto ainda não está pago. Agora, novo assalto.
Repensar o ocorrido é fazer desfilar na mente imagens, falas e atos de violência, vandalismo, humilhação, impotência, abandono e medo. Três assaltos armados, com tamanho prejuízo de bens úteis e necessários aos aqui todos residentes desta casa, é encará-los com total revolta. Ser lesado, roubado e vandalisado com o roubo dos bens, fruto de absoluto e total trabalho honesto? isso é demais.
Pois, aqui em casa fizemos, novamente, nossa parte de socializar os minguados recursos e bens materiais. Continuamos vivos e com medo? Mas não é justo. O quinhão dos Karnas, aqui em Zé dos Campos, está pesado demais. Estamos pagando, social e pessoalmente, por muitos outros, sem vivermos no luxo, riqueza e no conforto.
Levantar as mãos para o alto, agradecer por estarmos vivos? tudo bem! Mas, somando-se a série de episódios, as violências, o desconforto destas invasões todas que sofremos ao longo dos anos tão curtos, por ladrões que continuarão soltos e impunes, mais os prejuízos e este sufoco de se viver aqui, neste país e nos tempos

atuais? bom, isso já está sendo demais para a minha cabeça. Nas horas de conversa com tantos policiais, uma indignação coletiva. A injustiça social está intolerável, a violência está intolerável, somos todos perdedores. Todos estão impotentes. E o nosso governo, a nossa política, o nosso judiciário, todos agindo como vestais, acima do bem e do mal, distantes de tudo e de todos. Apenas falas e proselitismos.
Desculpem o meu indignado desabafo. Neste e por outros tantos dias estarei ácido, de humor lastimável, péssimo. Perdoem-me. Poupem maiores preocupações com a gente ou mensagens de solidariedade. Cuidem de vocês mesmos.
Cuidem-se! Os assaltos todos acontecem no início da noite. Não reajam, infelizmente, para sobreviver. Calma nessa hora. Tornei-me, na vivência e na constância, expert no tema. E já comecei, desde ontem à noite, a infindável via-sacra por delegacias, bancos, repartições e todo o resto, para recompor a vida, documentos, cartões, senhas, depoimentos, procura e? caminhar olhando para todos os lados, vendo em cada pessoa um inimigo natural, temendo tudo e todos, aquela pesada sensação de que tudo pode acontecer de novo.
Sigo em frente com a minha história, cada vez mais abastecida de fatos, o privilégio da vivência, de toda a sorte? e para pagar contas.
Parem o mundo que eu quero descer!
* Carlos Karnas é jornalista gaúcho, que já atuou na Caldas Júnior, RBS TV e Rede Globo.
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