Essa lei pode botar até padre na cadeia

Por Emanuel Gomes de Mattos O melhor cronista de Polícia de Porto Alegre, meu amigo Wanderley Soares – que festejou 69 anos em 15 …

Por Emanuel Gomes de Mattos

O melhor cronista de Polícia de Porto Alegre, meu amigo Wanderley Soares - que festejou 69 anos em 15 de junho, mesmo dia e cidade onde nasceu o inacreditável Paulo Sant"Ana - escreveu um tópico em sua apreciada coluna, publicada no jornal O Sul, que tem jeito de deboche, mas pode virar tragédia.


Tudo porque o presidente Lula transformou em lei a MP 450, que prevê multa, suspensão da carteira ou até prisão para o motorista que estiver alcoolizado.


Reproduzo abaixo trecho de sua última coluna, cuja fina ironia beira a galhofa:


"As blitze, ou seja, o sistema alemão de policiamento, continuará, inclusive com maior rigor. Não sei de onde sairá o maior rigor, pois o efetivo da Brigada é, a cada dia, menor, na proporção direta das missões que assume. Mas é certo que todas as pessoas que dirigem passaram a ser suspeitas de pinguços. Um padre católico, por exemplo, que for pego dirigindo logo após a celebração da missa em que a liturgia lhe obrigou a beber sangue de Cristo, poderá entrar na estatística das abordagens como motorista alcoolizado", adverte com extrema sabedoria o atento Wanderley Soares.


A lei prevê que o índice tolerado inicialmente será de 0,2 grama por litro de sangue, o equivalente a um cálice de vinho para uma pessoa de 80 quilos.


Aí é que vem o x da questão. Ocorre que, pela escassez de mão-de-obra, há domingos em que alguns padres celebram muitas missas, e em locais diferentes. Eles rezam em uma igreja, pegam o carro e se deslocam até outras paróquias. E assim sucessivamente, no decorrer do dia, a fim de que os católicos de diversas localidades possam cumprir com suas obrigações perante as leis de Deus.


Agora visualizem a cena: às 20 horas, depois de ter rezado meia dúzia de missas em um domingo qualquer, o sacerdote é detido em uma barreira e obrigado ao teste do bafômetro. Ele poderá ter bebido algo equivalente a seis taças de vinho. E se o policial for ateu ou ignorar como se dá o ato litúrgico? Dirá que a lei é para todos e prenderá o padre com roupa de paisano.


Se tal fato ocorrer, esse homem de Deus passará sério perigo misturado aos malfeitores. E até que alguma autoridade perceba a gravidade do erro, das duas, uma: ou o santo homem converte algum "pecador" ou pode perder a "dignidade". Isto porque, na péssima tradição das  cadeias, ninguém é dono do próprio corpo. Essa vai ser de doer. Que mico!


Sugiro, pois, uma retificação, antes que o presidente Lula seja excomungado. Taí a prova de que a tal lei draconiana tem furo e precisa de ajuste. Que baita tiro no pé!


Bem que Chico Buarque advertiu: falta o Ministro do "Vai dar Merda" no governo.


*Emanuel Gomes de Mattos é jornalista, e edita seu blog no endereço http://blog.emanuelmattos.com.br

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