Eu vi "A Paixão de Cristo"

Por Glauco Fonseca* Baixei da Internet e assisti. Já nas primeiras cenas, dá pra entender porque o filme é realmente tão polêmico. O diálogo …

Por Glauco Fonseca*
Baixei da Internet e assisti.
Já nas primeiras cenas, dá pra entender porque o filme é realmente tão polêmico. O diálogo todo em aramaico e em latim dá um tom de realismo impressionante. A performance do ator Jim Caviezel é tão espetacular que o Oscar 2004 já tem vencedor e a música é estonteante.
Se for realmente verdade que o filme é o mais fiel retrato das Escrituras, então se prepare para pesadas emoções e ambíguas conclusões.
De fato, eu nunca vi um filme tão violento em toda minha vida. Se eu fosse um estraga-prazeres, contava algumas cenas. Por outro lado, todo mundo conhece a história de Cristo e é ela mesmo que é contada. Todos sabem, portanto, que ele é crucificado no final, que Judas o trai, que Pedro o nega três vezes antes do final da noite de preces em Getsêmani (a primeira parte da Palavra "Getsemani" é "Get" que significa "pressão" e "Shemeni" (Sémen), óleo, doçura, unção e fruto são alguns produtos resultantes de espremer as azeitonas), o Monte das Oliveiras, local onde começa o filme.
Se não há novidades na história, há muitas na narrativa. A direção de Mel Gibson é competente e se percebe que quem gostaria de ter feito o papel de Yehoshua (Jesus em aramaico) era ele mesmo. A fotografia, as vestimentas e os atores, a maioria desconhecidos, são de aparência pouco hollywoodiana, com muita sujeira, suor e tristeza.
Mas o filme prende mesmo é pela crueldade a que é submetido o Cristo. Crueldade incessante, perturbadora, inquietante (será que é por isto que decidi escrever sobre o filme?). E há duas crueldades nítidas no filme. A crueldade política submetida por Caifás, de modo a abafar a crescente liderança de Jesus, e a crueldade física, exercida pelo exército romano, na cena de espancamento, longa e sanguinolenta, explícita, terrível, traumática, inesquecível.
Acho que, sob a ótica religiosa, há grande exagero. O choque que o filme proporciona é tão impressionante que transcende a religiosidade. O filme incomoda por sua estética e rudeza e menos por causa da questão religiosa entre cristãos e judeus.
Portanto, veja apenas se você tiver coração forte e coragem de se expor à tristeza e ao sofrimento. Se estiver achando que vai ver um filme épico, errou. Vai, sim, assistir a uma narrativa triste, soturna e dilacerante.
Se o filme é bom?
É excepcional.
Mas eu não sei se gostaria de ter visto.
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