Fome (2)

Por Mario de Almeida* Este segundo artigo sobre a fome deveria tratar da personalidade e das lutas de Josué de Castro. Acontece que Lula …

Por Mario de Almeida*
Este segundo artigo sobre a fome deveria tratar da personalidade e das lutas de Josué de Castro. Acontece que Lula me atropelou com as modificações no Ministério, criando o do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e entregando-o a Patrus Ananias. Mostrando que vinha das Alterosas, este foi logo pedindo, em sua primeira entrevista, que a imprensa esquecesse esse negócio de "superministro".
Como eu leio, pelo menos em alta velocidade, os principais veículos nacionais, posso afirmar que neste artigo, registrando a "barriga" dos colegas, Coletiva.net dá mais um "furo" que, em se tratando de "fome", é de pertinência absoluta. Quando Betinho - Herbert de Souza - tinha 19 anos de idade, nascia em sua mesma e pequena cidade - Bocaiúva, MG - o futuro advogado, professor de Direito, funcionário concursado da Assembléia de Minas e ministro do Combate à Fome, atualmente com 50 anos. Até parece que esse município, hoje com cerca de 50 mil habitantes, também berço de Henfil, transmite um generoso DNA aos seus descendentes.
Patrus foi prefeito de Belo Horizonte - janeiro de 1993 a dezembro de 1996 - e em artigo de hoje, 25.01, Elio Gaspari mostra as grandes credenciais do novo ministro, pois em seu mandato municipal, "criou um sistema que vendia hortifrutigranjeiros a um milhão de pessoas. Ao contrário dos prefeitos cosmopolitas, incentivou as feiras de rua. Vendia a R$ 0,29 um sacolão com 25 alimentos que custava R$ 0,69 nos supermercados. (?) Em 1995, o aumento de preço dos alimentos da cesta básica em Belo Horizonte foi de 0,86%, o menor de todas as grandes cidades brasileiras".
Gaspari registra ainda que Patrus foi o primeiro prefeito a se preocupar com os catadores de papel, destinando três barracões para que eles separassem suas cargas. Católico militante, Patrus é um ativista acima das crenças religiosas e, se guerreiro em relação aos problemas sociais, é um pacífico costureiro de alianças do "bem". Indagado a respeito das críticas do bispo de Caxias, dom Mauro Morelli, e de Zilda Arns, da Pastoral da Criança, sobre deficiências do Fome Zero, disse que irá procurá-los e discutir problemas do programa. Afirmou, ainda, que em busca de resultados, fará uma gestão suprapartidária, num esforço de reunir pessoas e instituições identificadas com as causas sociais.
Esse bispo dom Mauro Morelli é outro que ajuda a hastear a bandeira de esperança a favor dos excluídos e faz esquecer aquela Igreja anti-progressista que tanto contribuiu para o atraso social do país. O bispo vai ausentar-se da baixada fluminense no Carnaval e, em vez de retiro, irá para a arquibancada do Samba, em São Paulo, assistir ao desfile da escola Águia de Ouro, que tem Fome Zero como parte de seu enredo.
Aos surpresos com essa relação religiosa/profana, dom Mauro revelou seu caráter de aço: "Quem demite um bispo é o Papa. Se ele não estiver satisfeito pode fazer isso. A Águia de Ouro vai falar da necessidade de nutrir corpos e espíritos. Isso tem tudo a ver com o que pregamos".
Em terra em que prefeitos do Nordeste, por motivos políticos ou por venderem água, boicotam instalações de cisternas em regiões de seca, é muito bom ouvir um ministro dizer que fará gestão suprapartidária e um bispo mostrar que a batina não veste preconceitos. Bom demais.
Quanto a mim, e tu, leitor eventual, um www.clickfome.com pode ser uma brisa a mais balançando essa bandeira de esperança.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
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