Governar é comunicar (final)

Por Glauco Fonseca O grego Heráclito (536 a 470 a.C.) dizia que, sem o ruim, não se tem a medida para o bom. Simples …

Por Glauco Fonseca

O grego Heráclito ( 536 a 470 a .C.) dizia que, sem o ruim, não se tem a medida para o bom. Simples e direto. Assim se comparam as coisas para que haja opinião, decisão ou escolha. Governos e governantes são avaliados da mesma forma. Um fez isto, outro deixou de fazer aquilo. Fulano vendeu a companhia telefônica, Cicrano mandou a montadora embora e, portanto, não voltaram ao topo do executivo no RS. Juscelino disparou o slogan dos "50 anos em 5" que, mesmo não tendo acontecido (obviamente), marcou seu mandato como progressista e positivo, a despeito do endividamento formidável que legou país sua gestão.


É claro que maus governos não se sustentam apenas com frases de efeito ou boas campanhas. Governar mal é definitivo e, mesmo com uma excelente comunicação, não se salva do preterimento da população num próximo pleito. Na outra ponta, governos excessivamente discretos em sua comunicação, ainda que eficientes, pagam preço caro e, mesmo tendo sido positivos em termos de gestão, amargam esnobada semelhante do eleitor no round seguinte.


Governar bem é realizar, fazer, acontecer. Governar melhor ainda é mostrar, demonstrar, expor o que está sendo feito. A combinação vitoriosa é simples. O difícil é sincronizar uma máquina pública para que ela alimente o caldeirão das boas novas. O que costuma acontecer é que, na hora de servir, ou já "passou do ponto" ou está frio. E aí não serve mais pra nada.


E porque é tão difícil conseguir a harmonização entre o feito e o dito? Alegar falta de dinheiro está proibido. A resposta é tão simples quanto terrível: planejamento. Planejar é a coisa mais difícil que existe em termos de gestão. O motivo principal é que o maldito do planejamento requer que se? Pense! E pensar é coisa pra poucos. Pensar de modo metódico e eficiente é coisa pra pouquíssimos. E você sabe, os tais pouquíssimos são caríssimos.


O caminho para a solução passa pela assertiva de que tudo que é feito E necessita ser divulgado requer uma dotação para tornar público o que foi feito. No orçamento de uma estrada, que deverá ser concluída dentro de 8 meses, deve-se planejar a comunicação de sua inauguração e entrega à sociedade. Assim, tanto na construção de uma ponte, ou na inauguração de um posto de saúde, no lançamento de uma escola ou mesmo na venda de ativos de um banco estadual, por exemplo, é necessário se planejar quais os impactos que são desejados, quais os públicos e, finalmente, quais os resultados que são esperados. Quer coisa mais óbvia e simples do que isto?


Então, porque não é feito desta forma?


Incompetência é o fator principal, mas não é o único. Agir sem pensar, sem planejar e sem antecipar é outro fator forte. Somados, incompetência com imprevidência chegam a 90% da origem do problema. Os outros 10% são creditados à sorte do adversário e ao azar de quem votou na turma da vez.


Mas nem tudo está perdido. Se governar é comunicar, basta sentar e planejar o que precisa ser feito daqui a seis meses, um ano, dois, três. Depois, basta orçar isso tudo, com ajuda das agências de propaganda. Por fim, se descobrirá que, sim, a grana é pouca. Só então é que os gestores e comunicadores de governos irão se dar conta de que botar o ovo e cacarejar é trabalho da mesma instituição.

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