Há cem anos morria Caldas Júnior

Por Antônio Goulart O fundador do maior império jornalístico do sul do Brasil – que perdurou por mais de oito décadas, enquanto esteve sob …

Por Antônio Goulart
O fundador do maior império jornalístico do sul do Brasil - que perdurou por mais de oito décadas, enquanto esteve sob controle da família - morreu com apenas 45 anos de idade, vítima de um erro médico, há exatamente cem anos, no dia 9 de abril de 1913. Francisco Antonio Vieira Caldas Júnior foi um sergipano que veio parar no Rio Grande do Sul ainda criança, acompanhando o pai, magistrado, transferido para Santo Antônio da Patrulha e mais tarde para a capital gaúcha. Participando da Revolução Federalista de 93, este acabou fuzilado, na Fortaleza de Santa Cruz, na ilha de Anhatomirim, em Santa Catarina, junto com outros presos políticos.
Caldas Júnior ingressou no jornalismo, aos 17 anos, como revisor e noticiarista de A Reforma, onde chegou a diretor, passou depois pelo Jornal do Comércio, de onde saiu para fundar, aos 27 anos, o Correio do Povo, em 1º. de outubro de 1895. Teve como parceiros nesta empreitada Mário Totta e José Paulino Azurenha. Os três são hoje nomes de ruas em Porto Alegre.
O novo jornal, que viria em pouco tempo a se tornar no mais importante e respeitado veículo da imprensa rio-grandense, nascia com apenas quatro páginas. Mas com sua linha editorial bem definida no texto de capa redigido pelo próprio Caldas Júnior: "O Correio do Povo será noticioso, literário e comercial, e ocupar-se-á de todos os assuntos de interesse geral, obedecendo à feição característica dos jornais modernos e só subordinando os seus intuitos às inspirações do bem público e do dever inerente às funções da imprensa livre e independente". Em outro tópico, ressaltava ainda: "Independente, nobre e forte - procurará sempre sê-lo o Correio do Povo, que não é órgão de nenhuma facção partidária, que não se escraviza a cogitações de origem subalterna".
Oficialmente, Caldas Júnior morreu de icterícia grave. A causa real, porém, foi uma injeção mal aplicada ou aplicada em excesso. Foi a chamada "914", que viria a cair em desuso mais tarde com a descoberta da penicilina. O paciente, logo após a aplicação, entrou em longa agonia, que perdurou 40 dias. Quem passou a administrar o jornal foi sua mulher, do segundo casamento, Dolores Alcaraz. O filho Breno Caldas, que já vinha atuando na redação do jornal desde 1928, só viria a assumir a direção do CP em 1935, aos 25 anos de idade.
Caldas Júnior só pôde acompanhar os 18 primeiros anos do seu jornal. Mas foi o suficiente para transformá-lo, tanto gráfica como editorialmente, e granjear-lhe prestígio, respeito e credibilidade. Ele não apenas dirigia, mas também fazia um pouco de tudo na redação. 
Dentro da sua rotina diária, há uma historinha pitoresca, que passou a ser atribuída erradamente, mais tarde, a Breno Caldas. Está contada por Alcides Gonzaga, antigo gerente do CP, em livro de memórias. Diz que Caldas Júnior, num final de expediente, apressado para sair, encaminhou a Paulino Azurenha os originais que recebera de um jovem literato, escrevendo no alto da primeira página: "Paulino, emenda as asneiras e dá a compor. C.J." O redator corrigiu as inconveniências (sem rasurar o cabeçalho do chefe) e mandou os papéis para a oficina.  Pois não é que no dia seguinte o texto saiu publicado com a observação do diretor do jornal? 
O Correio do Povo, a obra que perpetuou o nome de Caldas Júnior, continua vivo e influente, com novo formato e com nova razão social, já próximo de completar 118 anos de circulação.

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