Por Ivan Carneiro Gomes

Quem estuda jornalismo sabe de cor que fatos comuns não geram notícia. É a velha história do homem mordendo o cachorro parar na primeira página do jornal. Há 30 anos jamais uma notícia sobre devolução de dinheiro iria parar na primeira página de um jornal porque havia no ar uma consciência mínima de punição legal, social e familiar. Enfim, ser honesto era elementar para viver em uma sociedade civilizada.

Agora estamos em 2007 e ser honesto vira notícia, com o jornal Zero Hora de terça-feira, dia 13/março, estampando foto a cores na capa e o título "Honestidade em Dólares" pelo  fato de uma humilde faxineira da cidade de Seberi, aqui no Rio Grande do Sul, Clélia Machado, de 29 anos, ter devolvido US$ 6,7 mil dólares que encontrou durante uma faxina em Posto da Polícia Rodoviária Federal. O valor -equivalente a R$ 14.020,00 - foi deixado no local por dois homens presos na madrugada com contrabando do Paraguai. Com salário de R$ 550,00, ela foi elogiada pelos policiais rodoviários do posto da Polícia Rodoviária Federal de Seberi, onde trabalha há dois anos.

Não é a primeira vez que ser honesto vira notícia.  É evidente que fica a questão: achar dinheiro num posto de polícia e não devolver poderia até ser um ato insano! Mas é uma reflexão que caberia bem num curso universitário de jornalismo sobre o poder da notícia e os valores mais elementares da convivência humana. Quem sabe até refletir sobre o baixo crescimento de um país, que não se pode medir pelo PIB (Produto Interno Bruto), nem pela esperteza de algumas lideranças que pactuam com a desonestidade para "se dar bem"? Ou dos que foram denunciados pelo chamado "Mensalão" terem amigos agora retomando importantes cargos no governo? Como você explica tudo isso a uma criança ou a um jovem de 15 ou 16 anos em fase de formação? Muito triste um país onde honestidade vira capa de jornal.