Horror aos bandidos!

Por Rafael Vitola Brodbeck A Rede Globo aliou-se ao Instituto Sou da Paz e ao Movimento Viva Rio para produzir uma pérola do besteirol …

Por Rafael Vitola Brodbeck
A Rede Globo aliou-se ao Instituto Sou da Paz e ao Movimento Viva Rio para produzir uma pérola do besteirol oriunda do ridículo pensamento moderno. Desprovido de qualquer senso lógico, mas fiel à tradição iluminista de tomar partido em questões complexas como se simples fossem, a mais nova peça publicitária veiculada na TV propugna o engodo do desarmamento civil, afinando-se com o discurso totalitário do Governo Federal.
Trata-se de um depoimento de uma pobre senhora que teve sua filha atingida por um projétil de arma de fogo, vindo a falecer em virtude do ocorrido. Até aí, nada tenho a acrescentar, senão o manifesto de meu pesar pela situação, ao passo em que devo solidarizar-me com a aludida mãe, pois também tive casos de violência, que provocaram o cruel assassinato de meus tios.
Deixa-me perplexo, porém, uma frase dita no testemunho, e que serviria, na mentalidade da Globo e dos fautores do desarmamento, para corroborar esse absurdo projeto. Diz, a certa altura, aquela mulher: "Tenho horror a arma, porque foi uma arma que tirou a vida de minha filha". Eis a infeliz conclusão, fruto de um raciocínio equivocado, como pretendo demonstrar com este artigo, que o endereçarei, em alguns trechos, à senhora enlutada que se digna aparecer nos meios de comunicação para sustentar uma posição das mais intolerantes - mesmo que não saiba que se presta a esse fim.
Não foi uma arma que tirou a vida de sua filha, cara senhora, mas um criminoso, um bandido. Nenhuma arma de fogo tem vontade própria, ser inanimado que é. Nenhuma arma de fogo tem propriedades mágicas que façam com que a atividade humana seja deixada de lado no seu disparo. Nenhuma arma de fogo, em poucas palavras, atira sozinha.
Logo, o horror que a senhora tem - e me parece bastante razoável que se tenha tal sentimento diante da injustiça de uma perda desse tamanho - é um tanto equivocado quanto ao objeto de sua ira. Não tenha horror à arma de fogo que foi disparada contra sua filha. Tenha, isso sim, horror ao bandido que a portou e que a disparou contra ela. Se uma faca de cozinha fosse utilizada para o cometimento desse crime, a senhora iria para a TV vociferar que tem horror a esse objeto? Logo cresceria o movimento das donas-de-casa e dos cozinheiros em defesa de seus tão úteis instrumentos!
É o que fazem inúmeras associações que se contrapõem aos cínicos pacifistas, com a Síndrome de Poliana, e que consideram tudo cor-de-rosa? A Associação São Gabriel Possidenti, o Pró-Legítima Defesa, a National Rifle Association, e tantos outros grupos organizados só pretendem isso: defender um igualmente útil instrumento, e desta vez, não para o preparo de alimentos - sem desmerecer essa vital atividade -, mas para a salvaguarda de suas vidas e das de seu próximo.
Não admito que me seja tolhido o direito da legítima defesa! Não admito que os que optam por não portar armas - o que é um direito individual - venham transferir seu ódio dos bandidos às armas, que podem salvar nossas vidas! Não admito que o abuso seja utilizado para combater o mero uso, numa falácia jurídica das mais grotescas! Não admito que digam que o Estado é que deve defender o cidadão, como se o indivíduo, ao delegar essa função a ele, abdique de seu natural instinto defensivo - não só direito, mas legítimo dever de defender-se com os meios proporcionais aos do injusto agressor! Não admito que, em nome de uma falsa proteção, sejam tomadas medidas anacrônicas, como o desarmamento civil, proporcionando uma verdadeira festa para os criminosos, que verão suas vítimas desarmadas como alvos fáceis! Não admito que ao Estado seja dado o monopólio da coragem, deixando-nos ao sabor da sorte, rezando para que algum dos poucos policiais que temos seja nosso guardião!
Se delegar a função de educar meus filhos ao Estado, não passo a ficar inerte frente a essa nobre tarefa que é meu dever absoluto enquanto pai - falo de ficção, pois nem casado sou ainda? Se delegar a função de prover

minha saúde ao Estado, não devo me comportar como um imbecil, esperando que o sistema público venha resolver todos os meus problemas, e expondo-me às intempéries sem necessidade. São todos direitos naturais, indeclináveis! Delego ao Estado somente algumas funções - ou todas - que fazem parte do exercício desses direitos, mas não delego o direito em si, pois é inalienável! Da mesma forma que a educação da prole e a auto-saúde são direitos próprios, naturais - i.e., não são criados pela lei positiva, mas pela natureza própria do homem, dada pelo Criador -, assim o é a defesa de si e de outrem sob sua responsabilidade. Defender-me é um direito, repito, indeclinável! Delego a função de me defender ao Estado, através da polícia, todavia permanecendo com o direito que, como inalienável e natural que é, pode e deve ser exercido diretamente, usando de meios justos e proporcionais à injusta agressão.
Ora, diante de um canalha portando arma de fogo, me defenderei como? Atirando uma pedra em seu olho? Não sou o rei Davi, para conseguir matar os gigantes do crime dessa maneira. A única maneira plausível é desferindo tiros contra ele, o que é meu direito - transformado em dever, segundo o Catecismo da Igreja Católica, quando se trata de proteger quem está sob minha guarda, como minha família, por exemplo.
Portar armas de fogo é parte integrante do direito à legítima defesa?
Claro que os bandidos as portam. Então, vamos à caça deles, com penas justas, duras, inibidoras da ação criminosa. Mas não persigamos o sujeito honesto que tem sua arma para defender-se, numa sociedade em que a criminalidade aumenta cada vez mais e estende seus tentáculos para um número sempre crescente de famílias trabalhadoras e cumpridoras de seus deveres para com Deus e a pátria.
A arma de fogo, neutra que é, pois serve tanto para o bem - defender-se dos bandidos - quanto para o mal - praticar crimes -, não pode ser objeto de horror. Os criminosos, sim, que se dedicam aos mais inumanos delitos, sejam horrorizados? É o que está faltando para a sociedade reagir contra a violência: não meras passeatas românticas com camisetas brancas, pombinhas sendo soltas e solicitações piegas pelo fim das armas, mas ações enérgicas contra a bandidagem que tira nosso sossego e a paz de nossas famílias.
Também sou da paz, porém não é desarmando o pai de família que ela será construída.
* Bacharel em Direito, escritor e pesquisador

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