Identificando a oportunidade

Por Mario de Almeida Em 1992 lancei um livro sobre o Antonio’s, legendário bar da inteligência carioca. Na oportunidade, Rede Globo e Salles Interamericana, …

Por Mario de Almeida
Em 1992 lancei um livro sobre o Antonio?s, legendário bar da inteligência carioca. Na oportunidade, Rede Globo e Salles Interamericana, do Mauro Salles, compraram, cada, 300 exemplares para distribuir a clientes.
Semana passada, Lara, filha de Paulo César Peréio, disse-me que iria estar com o Mauro, em São Paulo. Como o livro se esgotou e eu tinha só um exemplar, pedi-lhe que perguntasse a ele se teria um exemplar para ceder-me. Ela voltou com o pedido onde ele escreveu: "Mario, esta é a mais inusitada dedicatória de minha vida. Saudades".
Folheei algumas páginas e uma, sobre Chico Buarque, trouxe-me a lembrança de um "causo" de propaganda típico do que se chama "identificar a oportunidade".
Fui o primeiro contato da primeira agência - Standard Propaganda - da Viação Itapemirim que, em 1966, iniciava sua história de expansão. A Itapemirim comprou uma empresa, na Bahia, para explorar o trajeto Salvador-Rio-Salvador. Encarregado do lançamento publicitário e da realização de um coquetel para as autoridades daquela praça, fui a Salvador tratar de ambos e negociar a veiculação comercial. Eu já atendia, do Rio, uma grande conta de lá e tinha muitos amigos, no teatro, na imprensa e na propaganda. Quando ia pegar meu vôo noturno para o Rio, um cliente amigo me propôs - "Mario, a gente passa no Iate Clube, toma um uísque e eu deixo você no aeroporto".
Já no Iate, um diretor meu conhecido, disse - "Mario, a gente sabe que você e Chico Buarque são amigos, ele deveria ter vindo à Bahia para uma apresentação na TV Itapuã e fazer um show aqui, ficou doente e a programação foi suspensa. Diga a ele que a gente gostaria de retomar o assunto".
No avião, as idéias começaram a vir à tona, pois eu sabia não ser a Bahia uma província tão provinciana para tirar de casa governador, prefeito e gente de renome para um coquetel de uma empresa rodoviária. Dia seguinte, liguei para um amigo comum, Assef, um empresário informal do Chico, e fiz a proposta: ir ao coquetel, cantar três músicas, receber o cachê de um show e mais as despesas normais nas apresentações off Rio. A resposta não podia ser mais generosa: "Para o Mario - e se ele for - eu vou".
Dias depois, eu ia à Bahia, dava a notícia aos principais veículos de comunicação e avisava que a Standard Propaganda não gostaria de ver nada sobre o assunto sem que a Itapemirim estivesse vinculada. Contratei uma empresa de RP para fazer a lista de convidados, incluí alguns amigos e voltei para casa.
No coquetel, vi que minha expectativa se cumpria 100%, ou seja, esposa nenhuma iria permitir a ausência dos convidados. Foi quando conheci o governador Luiz Vianna Filho, o prefeito Antonio Carlos Magalhães e outras autoridades abençoadas pela Ditadura.
Chico cantou as três músicas, saiu pelo fundos de fininho e foi para a Praia de Itapuã, onde já estava marcado um encontro com o povo das artes. Eu esperei que o dono da Itapemirim acabasse de rir sozinho e fui prá Itapuã, levando um apoio vigoroso em forma de algumas garrafas de um genuíno escocês.
Parte do que escrevi no livro sobre Chico Buarque transcrevo aqui: "No vôo de volta, insones, cheios de uísque e cerveja, começou aquela pedição de autógrafos. Alguém perguntou ao Chico se eu era o Carlos Imperial. Claro que o Chico confirmou. Dei uns vinte autógrafos".
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos)
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