Igreja, mídia e religiosidade

Por Charles Scholl A compra dos veículos da Caldas Júnior por uma instituição religiosa neste ano favoreceu o debate sobre as intersecções entre instituições …

Por Charles Scholl

A compra dos veículos da Caldas Júnior por uma instituição religiosa neste ano favoreceu o debate sobre as intersecções entre instituições midiáticas e religiosas. Os fiéis que sublimam suas culpas nas práticas religiosas têm se mostrado cada vez mais receptivos diante das exposições midiáticas. Afirma-se que a importância dada por algumas instituições religiosas sobre os veículos midiáticos pressupõe uma estratégia na disputa de fiéis. Os pastores, padres e líderes espirituais têm incorporado em seus rituais, numa tendência que se afirma cada vez mais, técnicas que eram exclusivas de jornalistas, publicitários e outros profissionais que atuam na programação televisiva. A própria televisão tem irradiado "ondas de fé" para fiéis que são abençoados em suas residências durante o programa de TV.


Diante do impacto cultural causado pelas novas práticas das instituições religiosas, a onda de choque afeta também o comportamento editorial do quarto poder. A maior preocupação que a comunidade intelectual tem cultivado é sobre as possíveis restrições aos direitos e liberdades civis, afirmados pela nação em que vivemos. Sob um foco excessivamente antropológico seria possível identificar elementos que sustentam o viés de que os segmentos religiosos estão inseridos no Estado-Nação, são parte dele e devem conviver em plena harmonia. Olhando por esse ângulo, podemos compreender que as minorias culturais com comportamentos distintos têm motivos para se mostrarem preocupadas. A composição "mídia e religião" tem se mostrado intolerante com práticas religiosas distintas. Esta realidade se manifesta como um contra-senso sobre os princípios de uma cultura de paz em uma comunidade global. Salvo as instituições religiosas que pregam a superação das limitações individuais nas combinações sociais da família, comunidade e Estado-Nação, via de regra elas têm pregado a discórdia demonizando outras crenças. A preocupação se sustenta se pensarmos na possível influência sobre a linha editorial dos veículos de comunicação e a conseqüente sustentação das posições conservadoras sobre as questões de gênero e orientação sexual.


Assim como os valores sustentados pelas instituições religiosas se mostram cada vez mais presentes na programação de seus veículos de comunicação, os líderes espirituais se apresentam como profissionais da mídia que reformulam seus rituais e incrementam a disputa no mercado de fiéis. Esse é um ambiente propício à sustentação de práticas machistas e homofóbicas. Sem deixar-se influenciar pelas teses decorrentes da psicologia behaviorista, a crescente apropriação dos veículos de comunicação por instituições religiosas certamente influenciará a agenda-setting². Se entendermos essa realidade como um problema, então ele começou quando os líderes religiosos leram Habermas e fizeram do ambiente midiático o campo de disputa estratégico na conquista de corações, almas, espíritos e mentes.


1) Pode-se fazer com que o paradigma psicológico do behaviorismo remonta à obra de Waston, Psychology as the Behaviorist Views It: ele se propunha o objetivo de estudar os conteúdos psicológicos por meio das suas manifestações observáveis. Desse modo, a psicologia passava a se colocar entre as ciências biológicas, no âmbito das ciências naturais. O comportamento - objeto de toda a psicologia - representava a adaptação do organismo ao ambiente.Os comportamentos complexos, manifestados pelo homem podiam ser decompostos em seqüências precisas de unidades: o estímulo, a resposta  e o reforço. Seria o impacto do ambiente sobre o indivíduo, a reação ao meio ambiente e os efeitos da ação em condição de modificar as sucessivas reações ao ambiente.


2) O modelo agenda-setting afirma que a influência da comunicação de massa baseia-se no fato de a mídia fornecer toda aquela parte de conhecimento e imagem da realidade social que transpõe os limites restritos da experiência pessoa direta e "imediata".

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