Ladeira abaixo

Por Vilson Antonio Romero* Apesar de alguns setores da indústria, como o automobilístico, terem batido recordes de produção em março e de o “dragão” …

Por Vilson Antonio Romero*
Apesar de alguns setores da indústria, como o automobilístico, terem batido recordes de produção em março e de o "dragão" da inflação dar mostras de estar "domado", com a divulgação do menor IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado desde agosto de 1999 - 5,89% em 12 meses -, o segundo trimestre do ano preocupa e acende o sinal amarelo na Esplanada dos Ministérios.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) iniciou o seu "abril vermelho", com mais de 60 invasões de propriedades desde 10 de março. Mais de 600 mil servidores públicos federais prometem entrar em greve na segunda quinzena de abril, terminando a lua-de-mel com o governo em quem a maioria deles votou. A caserna está inquieta, com manifestações públicas de apreensão, pois há mais de 330 mil militares sem aumento desde 2000. Os governadores de outros partidos, principalmente do PMDB, que haviam apoiado o governo desde o início, começam a saraivada de críticas e queixas pela falta de recursos. O ex-assessor especial da Casa Civil, pivô do escândalo que paralisou o governo, passeia "lindo, leve e solto" por Brasília, sem que, dois meses depois, algo tenha sido esclarecido sobre o envolvimento ou não de "cabeças coroadas" da República. A operação-abafa da CPI dos Bingos custou caro ao governo e as providências legais já estão sendo contestadas judicialmente, permitindo a abertura de casas de jogos por todo o País.
Para quem pretende sempre a divulgação da "agenda positiva", como sugeriram no Dia dos Jornalistas os mandatários da Nação, "a coisa ta preta", diria o profeta popular. E isto que não falamos no novo salário-mínimo, no desemprego elevado, na violência, na saúde e na educação precárias, na previdência problemática, entre outros temas de relevância, constantes "dores-de-cabeça" nacionais.
Sacramentando a inquietação, sabe-se agora que, em 2003, o gasto do governo em programas sociais, que eram sua grande "bandeira eleitoral", permaneceu estagnado e, segundo levantamento da imprensa paulista, se reduziu drasticamente em setores como urbanismo, habitação, organização agrária e saneamento, tanto em valores nominais, quanto em relação ao PIB (Produto Interno Bruto). Outro estudo revela que, entre janeiro de 2003 e janeiro de 2004, os 10% mais ricos da Grande São Paulo aumentaram sua renda em 4,9%, enquanto os 10% mais pobres perderam 6,5%. Ou seja, sempre mais para os mesmos. Nunca esquecendo o lucro recorde do setor bancário no ano passado.
A desesperança já ronda os palácios, refletindo a realidade das ruas, onde a aprovação do governo "desce a ladeira". Um jornal gaúcho perguntou ao seu público, através da Internet, se o governo estava superando o escândalo das loterias ou se "enterrando" cada vez mais. Apesar de não se revestir de requisitos técnicos e científicos, o resultado não pode ser ignorado: 73% dos votantes entenderam correta a segunda hipótese. Já as pesquisas da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e do Ibope evidenciam a queda nos índices de aprovação do governo. Há uma outra manifestação preocupante: 52% dos entrevistados acham que o Brasil está no caminho errado, segundo o Ibope. Por mais que possa ser prematura a avaliação, algo deve ser feito, sob pena de a Nação seguir a trajetória da popularidade do governo: ladeira abaixo.
(*) Vilson Antonio Romero é jornalista, administrador público, diretor da Associação Gaúcha dos Fiscais da Previdência e da Associação Riograndense de Imprensa e consultor técnico da Fundação Anfip de Estudos da Seguridade Social
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