Memória e Perspectiva do Festival

Por Luiz Coronel "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce." F.P. 1. Falo sobre o Festival de Gramado com os bolsos cheios de …

Por Luiz Coronel
"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce."

F.P.

1. Falo sobre o Festival de Gramado com os bolsos cheios de butiás, como dizem os meninos da campanha quando manifestam contentamento. Esta história diz respeito a um sonho teimoso e consistente dos publicitários gaúchos, mantido e amadurecido por mais de duas décadas.
2. O tempo em si é um julgamento. Só permanece o que for verdadeiro. E qual a verdade deste evento? No frigir dos ovos, 28 anos é um tempo. Mais do que isto, uma escadaria, degrau por degrau subidos cautelosamente. Se, por metáfora estabanada, fizéssemos de cada ano um instrumento musical, teríamos de colocar a batuta nas mãos de quem, de fato, tem a regência: João Firme de Oliveira. Ele o "Paspartout" de Júlio Verne, percorrendo Europa, França e Bahia para consolidar, a cada biênio, uma nova edição do Festival de Gramado.
3. Mas, não seria equivocado lembrar aqueles meninos do Atenas que levavam o fogo de aldeia em aldeia, mantendo acesa a chama. De certa forma, essa chama foi conduzida por dedicados colegas publicitários, que puseram todo seu empenho sem cobrança de eco ou ressonância em benefício próprio. Cada Festival elege um novo presidente, trazendo as marcas de sua visão do evento, propondo temário, acrescendo com seu estilo pessoal, novos avanços. Não pretendo fazer desta reflexão um auto de reconhecimento, mas é oportuno lembrar que veículos de comunicação, fornecedores, instituições governamentais entraram no bloco, vestiram a fantasia, abriram a bolsa, fizeram a festa.
4. Falemos então deste Festival de Gramado. A paisagem acolhe de forma exuberante, pois a cidade é uma ilha de paz, cercada de verde por todos os lados, aliciando convivas para o fondue, chocolates, vinhos e pratos quentes. A conquista dos espaços do centro de Convenções Expogramado permitiu uma centralização de foco, conferindo ainda maior objetividade ao evento. Um ponto de vista fundamental para mim é este caráter tri/dimensional do Festival de Gramado. Ele foi, é e será um evento de confraternização, aprendizagem e premiação. Este tripé equilibra e confere identidade à promoção.
5. Quando me refiro à confraternização, estou transcendendo aos abraços e carinhos sem ter fim. Estou me referindo ao encontro de profissionais, de entidades em fértil permuta de experiências debatendo temas fundamentais, conquistas de resoluções valiosas referentes ao negócio da propaganda e interesses da profissão. No que tange à aprendizagem, será que preciso de provas ou testemunhas para afirmar que 4.000 jovens ouvindo Oliviero Toscani, Duda Mendonça, Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Jacques Bille, Bernardo Toro, Nelson Sirotsky, Reginaldo Ferrante e tantos nomes e renomes nacionais e internacionais não saiam acrescidos? E o que dizer da percepção que se ganha e acumula, quando se leva, na mochila, a lembrança de centenas de comerciais deste mosaico colorido de países que é o nosso planeta? Quando afirmamos ser um evento de premiação, é bom lembrar que há 28 anos, galos de bronze, prata e ouro, afinam seu canto ao granprix para reconhecer mérito, talento, criatividade de nossos publicitários espalhados pelos quatro cantos do mundo. Este é o Festival de Gramado, grande pela adesão de sua categoria. Maior a cada evento. Certo de seu inefável dever de aprimoramento, de superar sempre seus desafios para se consolidar como um dos maiores festivais da publicidade deste mundo de Deus e dos homens.
6. Falemos mais desta edição do Festival de Gramado. Um grupo/executivo onde atuam Diki Schertel, prestimoso presidente da Abap capítulo RS, este escriba, presidente da Alap Internacional, João Firme, Secretário Geral, Gunther Staub, ex-presidente do Festival, e o atual comandante, Reinaldo Lopes, reúne-se, permanentemente, para discutir e decidir rumos e andamentos do evento. O tema escolhido pelo presidente Reinaldo Lopes foi "criatividade vale ouro". Por certo, amplo é o espectro de abrangência do apelo. "Criar, criar, somente isso nos salva" diz um de nossos poetas.
7. Se observarmos a história dos prêmios conferidos pelo festival, veremos que a propaganda, ao contrário do que dizem seus detratores, "não é o único lugar onde piadinhas sem tempero rendem milhões". No talento dos publicitários, sem perder a objetividade de vendas (nexo do ofício), constatamos um pulsar solidário com a vida e seus impasses, sonhos e pesadelos.
8. A nenhuma profissão é dada a probabilidade de eximir-se do dever de consciência social e participação nos projetos de alcance e significação sobre os destinos humanos, perplexidades do país e coisas tais. Assim o Festival de Gramado, em convênio com o BID, cria o prêmio "Valorização da Terceira Idade". São os jovens universitários elaborando campanhas sobre o tema da exclusão social, através do sucateamento etário. O mundo é feito pelos jovens através dos mais velhos, diz nosso filósofo da Agência Matriz, Sérgio Furtado. Também o Fórum de Secretários de Comunicação vem conferir grandeza maior ao evento. Com a presença do ilustre ministro das Comunicações, Luiz Gushiken, e de secretários de Estado de todos quadrantes do país, anfitrionados pelo secretário Ibsen Pinheiro, do Rio Grande do Sul, estaremos discutindo a propaganda governamental. Ou seja, as verbas públicas endereçadas à sistematização dos projetos de governo, à informação, à prestação de contas, à transparência, para usar uma palavra em agonia.
9. Ao abrirmos o XIV Festival de Gramado, o bastão que esteve em mãos do D"Alessandro estará em mãos do Reinaldo. É um ritual em plena continuidade. Nenhum sentimento nos envaidece, mas sentimos orgulho quando percebemos a linha ascensional de nosso encontro. Constituir-se um dos maiores festivais da propaganda do mundo, acreditamos ser motivo de júbilo para todos os brasileiros.
10. No término, devemos estar conscientes de que nada está pronto num mundo em mutação permanente. A publicidade, cuja função é também atender às solicitações mais profundas das pessoas, pois elas pedem sonho, pedem fantasia, pedem a superação do real cotidiano pela inclusão da imaginação em seu dia-a-dia, terá refletido um pouco mais de si mesma. A publicidade realiza seu destino quando reúne pessoas inquietas, criativas, pulsantes, proponentes, indagativas, capazes de por um sorriso nos lábios, uma pergunta nas mentes, uma lágrima nos olhos das multidões. O Festival de Gramado é um feito, um fato, um fito, uma foto geral do que se faz no mundo da comunicação publicitária.
Bem-vindo a Gramado! Vinte países estão reunidos, mais de 4.000 pessoas ligadas ao setor aproximam-se no desejo de convívio e aprimoramento profissional.
* Presidente da Associação Latino Americana de Agências de Publicidade (Alap)

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