Nós já passamos

Por Antonio de Oliveira Um total de 1.072 pessoas, sendo, entre elas, 81 generais, 384 coronéis e outros oficiais de patentes mais baixas, todos …

Por Antonio de Oliveira

Um total de 1.072 pessoas, sendo, entre elas, 81 generais, 384 coronéis e outros oficiais de patentes mais baixas, todos enfiados em seus pijamas, mais 392 civis e um desembargador, haviam assinado, até poucos dias, o texto ofensivo e provocador contra a autoridade da presidenta Dilma Rousseff (eleita pelo povo brasileiro) e duas de suas ministras. Os que divulgaram estes números pensando que são fortes, estão profundamente enganados. Significam pouco mais que nada. São lixo que a história varrerá.

Mas não foi só este abuso que estes generais e coronéis de pijama aprontaram. Um deles (torturador reconhecido) é tão covarde que se esconde atrás da mulher para mandar recados. E inclusive, sob suas ordens, ela tentou invadir o Palácio do Planalto. Fez isto e não foi presa, como deveria ter sido (imaginem se ela fizesse isto durante a ditadura militar em que seu marido era torturador), uma amostra de que o regime democrático, se não é o melhor, é bom, pois aceita que todos se manifestem publicamente. Inclusive estes golpistas. E a nossa grande mídia onde está? Escondida atrás destes pijamas velhos e sujos de sangue. Mas, como é muito "esperta", sabe que desta vez não será como 1964. 

Eu, que não apoiei o golpe nem a ditadura militar, conheço muitos que ficaram à sombra e se "deram bem" durante este período. E estão aí, posando de democratas, embora sentindo cócegas nos dedos para assinar o manifesto natimorto dos militares de pijama e suas viúvas. Mas contêm-se porque viveram a ditadura e hoje têm filhos na faixa dos 25/30 anos e não querem para estes o que outros viveram naqueles 21 anos de escuridão.

No ano passado, me emocionei muito ouvindo depoimentos de homens e mulheres que, durante a ditadura militar, tiveram seus pais, tios, sequestrados, torturados e mortos. Alguns deles, que acompanharam seus pais à prisão, pois foram levados juntos quando tinham seis, sete, oito anos de idade e chegaram a ouvir os seus gritos de dor sob a tortura. Ficaram marcados para todas as suas vidas. Nunca serão pessoas ditas normais.

Por tudo isso, a Comissão da Verdade tem que ser instalada imediatamente. É urgente. Assisti por duas vezes e muito me impressionei com o processo realizado pelo Governo da África do Sul, sob a orientação de Nelson Mandela, com os torturadores e assassinos do regime do apartheid. São cenas inesquecíveis. Estes oficiais de pijama que assinam o manifesto ofensivo à nossa Presidenta e suas ministras certamente também viram o filme e devem estar apavorados com a hipótese de virem a passar por cenas semelhantes.

E o exemplo de Mandela tem que ser seguido aqui. Ele sempre disse que não queria vingança, não queria usar a mesma arma usada pelo apartheid. Só queria o estabelecimento da verdade. E não há maneira melhor de estabelecer a verdade que convidar estes torturadores e assassinos a contarem seus crimes e dizerem à Nação onde estão os cadáveres produzidos pelo seu "projeto de sociedade" e encarar, olhos nos olhos, aqueles que conseguiram escapar das suas garras.

É urgente a instalação da Comissão da Verdade. E os jornalistas querem ver entre os seus integrantes o nome de Luiz Claudio Fontoura da Cunha. São ações que o Brasil não pode mais esperar.

Foi contra o regime democrático e as liberdades que estes torturadores, suas viúvas civis, da grande mídia, e agora até um desembargador, "lutaram" mais de duas décadas. Queriam nos manter no escuro para a eternidade. Mas foram vencidos. Então, está errado até o título do manifesto deles. Nós já passamos!!!. O povo brasileiro libertou-se das garras deles, desta minoria violenta e assassina, da qual ficou presa de 1964 a 1985. O primeiro de abril já acabou.

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