O Esso prova: outra coisa é outra coisa

Por Milton Coelho da Graça* No dia seguinte (15.12) ao julgamento do Prêmio Esso, um diretor de minha faculdade (e também pai de uma …

Por Milton Coelho da Graça*
No dia seguinte (15.12) ao julgamento do Prêmio Esso, um diretor de minha faculdade (e também pai de uma jornalista) me fez duas interpelações: por que eu e os companheiros da comissão de julgamento havíamos dado o prêmio de reportagem a um repórter "que nunca dera certo, tendo sido demitido de várias redações", e - ainda mais - a uma matéria publicada por "um jornalzinho mensal que vende apenas 700 exemplares"?
Era uma festa de fim-de-ano, sem clima para discussão profissional. E imaginei que muitos teriam opiniões semelhantes. Por isso, a resposta deveria ser a mais ampla, se possível a todos os profissionais de jornalismo, como aqui no Comunique-se.
Folha, Estado e Veja contestaram os critérios de premiação do Esso ainda na fase seletiva, em que uma comissão escolheu os três finalistas de cada categoria. Eu e meus seis companheiros - Dora Kramer, Eduardo Ribeiro, Luiz Weis, Marcos de Sá Correia, Roberto Mugiatti e Moisés Rabinovitch - pegamos o rabo de foguete da indicação final dos premiados já com um debate público (a Folha fez matéria sobre essa crítica na sexta, 10/12, quatro dias antes do julgamento).
Dos prêmios Esso distribuídos, mais da metade exigiram muita argumentação e um longo processo de convencimento mútuo e formação de uma maioria. Mas umas poucas decisões foram unânimes ou por 6 a 1, com o Prêmio de Jornalismo e o de Reportagem entre eles. Ou seja, se algum de nós errou, errou bem acompanhado. E talvez o mais importante: nenhum de nós levantou como objeção a acidentada biografia do Renan (que ele mesmo se encarregou de descrever, sob fortes aplausos, na grande festa de premiação) e muito menos o tamanho ou importância do jornal em que a matéria foi publicada, porque essas "coisas" não estavam em julgamento. Como diz a sabedoria popular, outra coisa é outra coisa.
Seria interessante que a maioria dos companheiros lesse a matéria do Renan. Ninguém poderá negar o "faro", a construção da pauta, a tenacidade do repórter e a qualidade do texto. Faltam respostas, em alguns momentos o texto é demasiado, a dose de "mundo cão" é exagerada? É possível. Mas, como leitor, um pedaço do mundo em que vivo mas não conheço foi sendo revelado e dissecado, com distanciamento, precisão e frieza de uma autópsia, enquanto minha emoção aumentava a cada parágrafo.
Eu gostaria de um dia ter escrito essa reportagem. E você, leitor-companheiro?
* Milton Coelho da Graça é jornalista. O artigo foi publicado originalmente no site www.comunique-se.com.br.

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