O Golpe foi amanhã

Por Mario de Almeida* Enquanto os golpistas de 64 dizem que a “revolução” foi em 31 de março, os democratas afirmam que o golpe, …

Por Mario de Almeida*
Enquanto os golpistas de 64 dizem que a "revolução" foi em 31 de março, os democratas afirmam que o golpe, endossando o Dia da Mentira, foi em 1º de abril.
Peço licença para contrariar ambas as partes, em dois aspectos fundamentais: o golpe não foi militar e foi na madrugada do dia 2.
Antes, uma colocação semântica.
A História costuma considerar como revolução todo movimento armado, com o objetivo de derrubar o governo, seja ele legal ou não e ela, revolução, seja vitoriosa ou não. Costuma, ainda, datar as revoluções pelo seu confronto inicial, ou seja, a manifestação beligerante. Nossa história mais recente registra a revolução vitoriosa de 3 de outubro de 1930, que levou Vargas ao poder, e a Revolução Constitucionalista, não vitoriosa, iniciada em São Paulo em 9 de julho de 1932.
Já a palavra "golpe" é usada quando a deposição de um governo, legal ou não, é feita, ainda que apoiada por Forças Armadas, sem nenhum confronto bélico. Assim foi em 10 de novembro de 1937, quando Vargas proclamou o Estado Novo e se fez ditador. Assim foi, também, em 29 de outubro de 1945, quando militares defenestraram o ditador e criaram o Governo Provisório.
Voltemos a 1964: na madrugada de 2 de abril, na iminência do golpe militar, Auro Soares de Moura Andrade, da UDN paulista, como presidente do Senado, fingindo ignorar que o presidente João Goulart estava em território brasileiro - na Cristóvão Colombo, Porto Alegre, casa do Comandante Ladário Telles - declarou a vacância da Presidência da República e empossou Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara Federal, como o substituto constitucional de Jango. O golpe - civil - estava consumado naquele dia 2 e, apesar de golpe, com o poder entregue a Mazzilli, o Brasil navegava de novo em águas constitucionais. Durou pouco essa tentativa, pois dias depois os ministros militares faziam o país engolir o Ato Institucional nº 1 e, daí sim, houve um golpe militar. Dia 15, em "eleição indireta", o marechal Castello Branco seria o primeiro dos cinco ditadores militares.
O resto, bem ou mal contada, é a história que quem viveu, sofreu.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, de "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos).
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