O mundo precisa de gente

Por Dulce Ribeiro* Sabe do que a gente está precisando mesmo? De ser e dar exemplo. Aquela coisa de nem precisar dizer nada, que …

Por Dulce Ribeiro*
Sabe do que a gente está precisando mesmo? De ser e dar exemplo. Aquela coisa de nem precisar dizer nada, que "os gestos valem mais do que mil palavras", que o "olho no olho" substitui um longo discurso. Exemplo vivo de respeito, de confiança, de simplicidade, de humildade, de prazer, de desejo de orientar e de ajudar os outros a crescerem. Está faltando exemplo de gente que ama o que faz e que não tem medo ou vergonha de dizer que está feliz, sem reclamar.
Tenho me preocupado muito quando vejo equipes e pessoas querendo vencer, jogando um jogo onde, no final, poucos ganham e muitos saem destruídos.
Viver foi substituído por sobreviver, no lugar do ser colocamos o ter e a ansiedade passou a dirigir o dia-a-dia das pessoas. Esta inversão tem nos deixado tristes, assustados, defensivos e desconfiados.
No ambiente das empresas, mesmo naquelas onde os programas de qualidade fecundam e as premiações acontecem, existe dificuldade de viver de forma cooperativa. As competições acontecem em todos os níveis, um querendo ser melhor do que o outro. A concorrência está fora de lugar quando se localiza dentro das empresas, além de estar lá no mercado. Parece-me que ser gentil está afeto aos mais humildes, aos que possuem menos instrução ou àqueles que querem aparecer e "mostrar serviço". Chama a atenção quando alguém, por livre vontade, decide fazer um favor, oferecer-se para ajudar, para ensinar ou, até mesmo, ouvir com atenção o que o outro está dizendo. Aliás, atitudes como estas são até mesmo mal interpretadas e fica aquela crítica no ar: "Ele está se metendo na minha área" ou "porque que me olha desta maneira?"
Com esta cultura que estimula o individualismo nós não chegaremos a lugar nenhum daqui para frente, ao contrário, ficaremos a cada dia mais ansiosos e insatisfeitos, buscando fora de nós mesmos, através de compensações com o consumo, alguns momentos de felicidade.
É preciso uma profunda mudança de mentalidade para que possamos usufruir mais de nós mesmos, usando a nossa capacidade de perceber o mundo através de valores mais humanos e que levem ao desenvolvimento.
Em recente entrevista sobre o sentido da gentileza, a psicóloga Leila Cury Tardivo, professora livre docente do Instituto de Psicologia da USP, disse que dá muito prazer ser gentil e cooperar, quando se faz isto de maneira espontânea. "Significa que a pessoa está de bem com a vida e com ela mesma". Segundo a especialista, a capacidade de preocupar-se e se responsabilizar pelo outro indica maturidade. "A pessoa gentil não é santa nem perfeita, mas normal, madura. Não se sente roubada se der algo de si para o outro, já que o dar é, em si, a recompensa". Assim, é preciso compreender a maturidade como um processo de cooperação, de troca. Acontece que estamos precisando de muita gentileza, de líderes servidores e de equipes consistentes, apaixonadas, amigas, íntegras.
Precisamos ser exemplo de gente, de povo, de um país colorido, sincero, criativo e abundante. Vamos refletir sobre isto. Vale a pena acreditar, persistir e mudar. Está tudo dentro de nós, basta dar o devido valor.
* Dulce Ribeiro é especialista em gestão estratégica de recursos humanos, professora da ESPM e diretora da Equipe Dulce Ribeiro - Gestão para o Atendimento.
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