O papel social do design. Um desenho para a vida?

Por Andréa Fortes Esta semana eu tive a feliz oportunidade de mesclar trabalho com prazer e passar alguns dias em Buenos Aires, onde participei …

Por Andréa Fortes
Esta semana eu tive a feliz oportunidade de mesclar trabalho com prazer e passar alguns dias em Buenos Aires, onde participei como conferencista em um seminário de design e comunicação, na Universidade de Palermo. O encontro, anual, reúne estudantes de vários países latino-americanos e também espanhois. As palestras e os assuntos são variados e o público, totalmente eclético, interage, anota, faz perguntas. Uma delícia. Sim, isto existe. Alunos / pessoas interessadas e dispostas a trocar.
Bueno, a tal palestra de encerramento teve o auditório completamente lotado numa sexta chuvosa e fria na capital portenha. O palestrante, um dos convidados de honra do evento, sr. Norberto Chaves, é uma referência no chamado "papel social do desenho", ou design.
Com seus cabelos brancos e a calma de quem já viu muita coisa nesta vida, ele começou a conversa. Nada de power points, figurinhas saltitantes. Ele, um microfone e uma plateia atenta e ouvinte. Falou devagar, com firmeza e um tom levemente arrogante de quem tem autoridade para tanto. Mas falou de humildade, de crescimento e da necessidade de sermos seres incansáveis em busca da perfeição. Claro, o pano de fundo era o desenho, mas ele não estava ali provocando futuros profissionais. Estava cutucando pessoas. Com certa ironia, às vezes, baixou a bola dos chamados "estudiantes con complejo de estrella matutina", ou seja, aquelas criaturinhas que já querem brilhar e nem se deram conta de que a noite nem chegou ainda?
Ele questionou o papel dos profissionais e bateu forte na tecla de que as pessoas têm que saber reconhecer, antes de qualquer coisa, aquilo no que são boas. Quer descobrir como? Pergunte aos outros, disse ele. "La mirada el otro te reflete mejor que la tuya." Ou seja, os outros são o verdadeiro espelho da nossa alma. Sim, feedback faz bem. Falou na necessidade de crescermos rápido, de amadurecer e de pararmos de nos queixar com as coisas da vida. Sim, trabalharemos com profissionais / clientes medíocres, às vezes. É a vida.
Para crescer, tem que aceitar.
Ao final, contou, com sutileza e malícia aos futuros designers em sua frente que "existe vida além do design". "Se o espaço fora da nossa profissão está vazio, com o tempo, nossa profissão estará vazia também", completou.
Como ele falou de humildade e de uma necessidade absurda de sermos exigentes e de partir do princípio de que tudo o que fazemos está mal, pode melhorar (o êxito é tóxico), parei uns minutinhos para escrever estas mal traçadas linhas e compartilhar parte do que ouvi nesta manhã chuvosa (com a convicção de que poderia estar beeem melhor). Tomara que sirva para você, para o design, para a vida. Se pra mim, ficou alguma coisa de design? Não sei. ?Quisá? ??
Referências?
Norberto Chaves: http://imagem-papel-e-furia.com.br/?p=70
O encontro: http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2010/

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