O papelão da propaganda na sociedade moderna

Por Glauco Fonseca Deixa eu ver se entendi direito: a Schincariol chama sua agência de propaganda, pede uma campanha para a Schin. A agência …

Por Glauco Fonseca
Deixa eu ver se entendi direito: a Schincariol chama sua agência de propaganda, pede uma campanha para a Schin. A agência tem a idéia de usar o Zeca Pagodinho - inveterado beberrão de Brahma - que topa receber uma baba para "experimentar" e trocar Brahma por Schin. Pouco tempo depois, o pobrezinho do Pagodinho, assediado pela "belga" e pelo baiano Nizan, alegando arrependimento e receio de ter de "beber escondido", volta ao ar, com direito a pagode, beijinho e tudo, comemorando o seu arrependimento com muito mais grana e, de quebra, com uma Brahma na mão.
Então, só pra entender, um cara assina um contrato e vem diante de todo o país mentir que experimentou, gostou e mudou a marca que ele sempre consumiu e depois "desmente" (ou mente novamente!), tudo isto, devidamente patrocinado pelos grandões da propaganda brasileira?
Espera um pouco, deixa eu retomar o raciocínio. É que foi complicado pra minha cabeça ver o Pagodinho cantando Brahma na TV depois de tanta pressão da Schin para que eu "experimentasse". Peço perdão, pois quero entender a "idéia brilhante", coisa que só pode ter saído da cabeça de um gênio nacional.
Então, pra arrematar: o que querem que eu entenda é que a Brahma é muito melhor do que a Schin porque o Zeca Pagodinho achou que estava enganado ao ter experimentado e depois trocado?

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São episódios tristes como este que fazem com que a gente reflita sobre o papel social e cultural da propaganda. Ao demonstrar que o mercantilismo não tem limite, a propaganda - e seus "gênios" - esfregam na cara das pessoas que é muito mais importante perder um amigo do que uma piada. A culpa não é do Zeca Pagodinho, que deve ter recebido uma enorme quantia para vender sua alma ao Guanaes. Ele próprio é uma caricatura de si mesmo: faz a apologia à malandragem e à bebida alcoólica. Nizan e os belgas agora devem estar pensando em qual a estratégia adotar se surgir a péssima notícia de que o pagodeiro contraiu uma cirrose hepática. Pelo andar da carruagem e pela ausência total de ética, é de se supor que a culpa será imediatamente atribuída a alguma marca que não a atendida pela agência, com depoimento do Pagodinho e tudo.
Humor negro à parte, longa vida ao pagode, à cerveja e ao Jessé Gomes da Silva Filho, esperto como sempre, rico como nunca. Como consumidor e brasileiro, vou ouvir menos o Pagodinho, porque não gosto de mentiroso remunerado e vou, finalmente, experimentar a Schin, por pura piedade.
Ao Nizan, parabéns. És um monstro - mesmo - da propaganda nacional.
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