O parto das ideias

Por Felipe Basso Um das razões que me entusiasmam a permanecer no jornalismo é a possibilidade de conhecer pessoas de todas as áreas e …

Por Felipe Basso

Um das razões que me entusiasmam a permanecer no jornalismo é a possibilidade de conhecer pessoas de todas as áreas e poder aprender um pouco com elas. Momento assim ocorreu na segunda quinzena de dezembro de 2010, quando entrevistei o cantor, compositor e acordeonista Luiz Carlos Borges, após um show realizado em um shopping center de Porto Alegre.
Borges, para quem não sabe (e eu não sabia), começou a se apresentar publicamente aos sete anos de idade, em galpões de CTG. Com a composição "Tropa de Osso", venceu o festival Califórnia da Canção Nativa, um dos mais respeitados do Rio Grande do Sul, e hoje é um dos mais renomados músicos gaúchos, tendo já tocado com nomes como Belchior e Dominguinhos, entre outros. No final do ano, esteve no Rio de Janeiro gravando um CD com Yamandu Costa.
Em um momento da entrevista, Borges relembrou uma expressão que costumava ouvir de Aparício Silva Rillo, poeta gaúcho, autor de obras importantes em nossa literatura, como, por exemplo, Rapa de Tacho. Mas voltemos ao nosso assunto. Rillo costumava dizer sobre seu método de composição: "Eu engravido e tenho que parir". Ou seja, após a ideia para a poesia ser fecundada na cabeça do poeta, era preciso pari-la. Não lhe seria possível guardá-la para si, pois dessa forma a mesma não sobreviveria, como tampouco podemos prorrogar o nascimento de um filho por mais de nove meses, mesmo que se queira.
Mais do que a expressão, o método deveria ser utilizado pela gente para nossas questões pessoais, cotidianas. Quanta coisa não fica grávida dentro da gente, sem parirmos? Quantas coisas não ficam acumuladas, ocupando espaço e energia que poderiam ser utilizados por novas ideias? Parafraseando ridiculamente, é melhor parir uma ideia ruim do que ficar grávido de duas ideias boas.
E porque é importante parir nossas ideias? Para que elas virem ações. Para que possamos melhorá-las, aperfeiçoá-las, para que os demais possam colaborar e, quem sabe, participar, engajarem-se em nossas ideias. E veja que perfeição de método. O poeta mantinha-se um tempo grávido. Respeitava tanto a necessidade de parir sua poesia quanto de esperar que ela se formasse dentro de si. Não adiantaria lhe ocorrer a inspiração e imediatamente jogá-la para o papel. O resultado seria igualmente desastroso. É um conselho muito valioso em um era de blogs e redes sociais. Pensemos um pouco antes de publicar, mas não deixemos de publicar jamais.
Felipe Basso é jornalista.
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