Ô Paulo Márcio, por que tão cedo?

Por Glauco Fonseca Eu liguei para o PM na semana passada, convidando-o para almoçar. Como sempre, o cidadão estava tramando alguma no campo acadêmico …

Por Glauco Fonseca
Eu liguei para o PM na semana passada, convidando-o para almoçar. Como sempre, o cidadão estava tramando alguma no campo acadêmico e não podia naquela semana. Ficamos de nos falar na segunda e não deu. O PM já tinha ido embora.
Quem não teve o prazer de conhecer o Paulo, paciência. Se for de bom caráter e fizer as coisas direitinho por aqui, como ele, poderá ter uma segunda chance no céu, que certamente é o lugar para onde ele foi.
Aliás, quem conheceu o Paulo Márcio, sabia ou imaginava que o cara não era deste mundo. Era educado demais, inteligente demais, informado demais e bem humorado demais para ser deste mundo. É claro que, como todo mundo, tinha seus defeitos, muito pequenos ou até mesmo insignificantes diante de suas virtudes.
E ele era grandão, metro e noventa, sempre atento e antenado. Tinha tudo ao toque da mão. "Rockenbach over my shoulder" (era como eu o chamava), "tens alguma coisa sobre o segmento de móveis de plástico infláveis?" Ele esticava o braço e, do meio de uma pilha de Gazetas Mercantis, Valores Econômicos, revistas The Economist e centenas de outras, ele puxava coisas a ver com o que se precisava, devidamente pintadinhas com a caneta de ressaltar (sim, o cara lia tudo mesmo!) e entregava com comentários e sugestões. Entre ele e o Google ou o Yahoo, eu era mais o Paulo Márcio ponto com ponto bê erre.
O mais legal é que o cara tinha tudo para ser um chato, mas era exatamente o oposto. Sempre com algo cordial na ponta da língua, nunca reclamando de nada, a despeito das restrições impostas pela doença de merda que acabou tirando ele de perto de nós. Era um parceiro de todas as horas, um amigo pronto para ajudar. E por mais qualificado que ele fosse, sempre valorizava o trabalho de colegas, elogiando, apoiando, corrigindo, mas sempre, sempre de modo cortês, educado, amável.
É, o PM não era deste mundo mesmo. Era bom demais e valioso demais, daqueles que o mercado não está acostumado.
E se foi lá para onde ele chamaria de "penthouse", não sem antes passar no free shop e pegar algumas gravatas Hermès e um bom whisky, que ele gostava mas não podia beber.
É uma pena que o PM tenha ido embora.
Mas para mim, ele era como o Tistu, do livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon.
Um anjo que veio à Terra e que depois tiveram que vir buscá-lo, caso contrário não voltava.
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