O que a sociedade precisa saber

Por Angelo de Souza Vai começar tudo de novo. Jornalistas conscientes da importância da regulamentação profissional voltam a protestar, em nome da responsabilidade social …

Por Angelo de Souza
Vai começar tudo de novo. Jornalistas conscientes da importância da regulamentação profissional voltam a protestar, em nome da responsabilidade social do jornalismo, dos direitos do público de ser bem informado etc. Outros, jornalistas ou não, que acreditam nas virtudes de um mercado onipotente, retomam ataques ao corporativismo, porque nocivo ao interesse público etc.
Mas o público, que tem passado ao largo da questão, vai continuar ausente dela?
Não se trata de defender uma lei gestada na ditadura; nem o diploma como garantia de qualidade profissional. Nem o diploma garante competência ou ética, nem o regime sob o qual se produziu tal lei a contamina. Mas o público precisa saber mais do que se tem dito.
Parece não ter limites a presunção, a audácia, a arrogância, a prepotência de certos membros do Judiciário e do Ministério Público que se pretendem donos da lei, não apenas seus intérpretes. O que, diga-se, é circunstancial, como são suas togas e o que elas permitem esconder.
Está claro que os itens constitucionais alegados por aquela juíza (liberdade de expressão etc) não se aplicam ao caso. É nítido que o direito que aquele juiz quer proteger (o de jornalistas sem registro, porque sem diploma) é espúrio. A decisão de uma desembargadora é afrontada sem novos fatos ou argumentos - quaisquer - que o justifiquem. O que falta, então?
Falta sabermos afinal quem paga a conta.
Artigos de luxo
Ainda que fôssemos 177 milhões de imbecis, alguém negaria que conhece pelo menos uma história de compra e venda de sentenças, pareceres, esses artigos de luxo de que as vestais do Judiciário detêm o monopólio inquebrável? Contas a receber.
Será que somos 177 milhões de idiotas a sustentar uma estrutura gigantesca, caríssima e pouco eficiente, crentes de que a democracia funciona melhor só porque tal estrutura existe? Contas a pagar.
Até quando seremos 177 milhões de alienados a assistir passivamente o desabamento da justiça sobre nossas próprias cabeças, sem sequer saber quem custeia a demolição? Contas em aberto?
Não vamos falar das prerrogativas dos magistrados que sequer podem ser criticadas porque incrustadas na Constituição - a mesma atropelada por esses personagens trêfegos quando humilham jornalistas cumpridores da lei e obrigam o governo a descumprir leis maiores para satisfazer seus egos mesquinhos.
Também não vamos mencionar os casos sempre atuais de envolvimento com o crime, que usualmente terminam em gordas aposentadorias. Não é o que está em jogo, embora certos fatos - e os jornalistas que os cobrem - possam incomodar a inocentes e culpados no fórum.
Vamos relativizar - são só uma ou duas laranjas podres. Mas não esqueçamos que as laranjas ruins estragam as boas. Talvez por isso a justiça seja lenta e falha, principalmente para os mais fracos, apesar de haver juízes decentes, atentos ao rigor da lei e sensíveis às situações em que a realidade impõe decisões de consciência.
O que está em jogo, então? Quem lucra com a desregulamentação da profissão? Quem investe no vaivém das decisões precárias, e por quê? O quê move os bastidores do teatro de bonecos montado no TRF e do MPF?
Quem paga a conta: desconfiamos, mas ainda não sabemos. Vamos perguntar a quem sabe.
* Ângelo de Souza é jornalista. O artigo foi publicado originalmente no site www.observatoriodaimprensa.com.br
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