O que faltou no congresso da ANJ

Por Milton Coelho da Graça Nos quase 50 anos de profissão, fui criando uma diretiva de trabalho e de chefia: a excelência deve ser …

Por Milton Coelho da Graça

Nos quase 50 anos de profissão, fui criando uma diretiva de trabalho e de chefia: a excelência deve ser implacavelmente perseguida, mas, além disso, o sucesso de uma revista ou jornal exige a conciliação de dois objetivos aparentemente contraditórios - o leitor deve sempre encontrar aquilo que espera e do jeito que já aprovou, mas ao mesmo tempo deve e quer sempre ser surpreendido por uma inovação.


Essa mesma regra de ouro foi enunciada agora como novidade, no 7° Congresso Brasileiro de Jornais, promovido pela Associação Nacional dos Jornais.


Eu não a inventei, fui aprendendo com (a ordem é aleatória) Samuel Wainer, Pompeu de Souza, Justino Martins, Alessandro Porro, Zuenir Ventura, Evandro Carlos de Andrade, Roberto Civita, Henrique Caban, Mino Carta, Roberto Muller, Roberto Marinho, Paulo Patarra, Múcio Borges da Fonseca, Moacir Werneck de Araújo, Luís Carta - enfim, um supertimaço de mestres que tive a sorte de ir acumulando. Também, é óbvio, buscando manter-me atualizado com os avanços na imprensa mundial, da mesma forma como outros nossos editores e chefes de redação, que trilharam o mesmo caminho de aprendizagem.


O que deixa qualquer um espantado é que tenham sido convidados para falar no Congresso o ministro Miguel Jorge, que há anos deixou a direção de redação do Estadão para se tornar executivo da Volkswagen e, portanto, uma presença só compreensível como caso explícito de relações públicas com o governo; John Wilpers, da empresa de consultoria Innovation, que veio nos explicar por que os blogueiros podem ser ser boas (e gratuitas) fontes de informação para os jornais (não era mais fácil chamar José Dirceu ou Cesar Maia?); Earl Wilkinson, em cuja palestra todos aprenderam que não devem oferecer páginas demais aos leitores (desde a década de 80 O GLOBO limita a 18 o número de páginas editoriais mais o segundo caderno) e a revista VEJA estabeleceu esse limite em 64 desde a década de 60; Javier Errea, grande designer é certo, mas não disse qualquer novidade aos editores de arte de nossos jornais.


Agora, acreditem: ninguém se lembrou de convidar para falar a seus companheiros donos de jornais o autor do maior sucesso editorial do Brasil nos últimos anos - Vittorio Medioli, dono do diário SUPERNOTÍCIA, que, com mais de 300 mil exemplares vendidos diariamente, briga hoje com FOLHA e EXTRA para ser o mais vendido do país.  E não tem circulação nacional, só em Minas.


Medioli, um italiano que chegou ao Brasil em 1972 com 25 anos, naturalizou-se e tornou-se um dos maiores empreendedores do país. Elegeu-se quatro vezes deputado federal (de 1990 a 2006) e, segundo ele mesmo declarou a Comunique-se, "cansado de ver os jornais locais dizerem inverdades", lançou o jornal O TEMPO, que nunca ameaçou a liderança do veterano ESTADO DE MINAS, mas, também segundo Medioli, "ajudou a melhorar muito o nível da imprensa mineira".


Aprendendo com os próprios erros e convencido de que o problema maior da nossa imprensa era o elitismo e de que havia um enorme público de renda baixa interessado em ter acesso a informação, lançou em 2002 o SUPERNOTÍCIA, a 25 centavos o exemplar. E, desde 2004, sob a direção de Teodomiro Braga, o jornal tornou-se um dos recentes fenômenos editoriais do mundo.


Medioli me disse que mantém as melhores relações com outros donos de jornais, mas pasmem: nunca nenhum dono ou diretor de jornal lhe pediu informações sobre esse fenômeno nem a ANJ pediu que ele falasse durante um de seus congressos.


Enquanto Medioli vem construindo seu vitorioso (sem trocadilho) império mineiro, agora com gráfica moderníssima - duas rotativas e capacidade para imprimir um milhão de exemplares por dia - foram muitas as bobagens cometidas por nossas empresas jornalísticas, com a "ajuda" de assessorias internacionais.


Só a  Infoglobo conseguiu fazer duas: o lançamento de ÉPOCA e a compra do DIÁRIO DE SÃO PAULO, enquanto FOLHA e ESTADÃO ainda patinam com seus filhotes populares. No caso de ÉPOCA, chamaram um time de  especialistas para formular um projeto copiado da revista alemã FOCUS, criada por empresários alemães que odeiam a SPIEGELO DIÁRIO DE SÃO PAULO também ainda está muito longe de suas metas iniciais.


Mesmo assim ninguém sentiu a ausência de Vittorio Medioli no 7º Congresso de Jornais Brasileiros.


*Milton Coelho da Graça é jornalista, com atuação em redações como O Globo, Realidade, IstoÉ, 4 Rodas e Placar. O artigo foi publicado originalmente no site WWW.Comunique-se.com.br

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