O triunfo da mediocridade

Por Jorge Ghiorzi* O país está vivendo uma (mais uma!) onda moralista. Não há outra conclusão a partir das opções que o povo brasileiro …

Por Jorge Ghiorzi*
O país está vivendo uma (mais uma!) onda moralista. Não há outra conclusão a partir das opções que o povo brasileiro está fazendo nas votações do BBB5.
Mais uma vez está se expressando, de forma esmagadora, a opção pelo "coitadismo", pelo paternalismo aos mais "fracos", pela "boa índole" induzida por personagens que incrivelmente, e espertamente, estão jogando para a torcida. E pelos resultados até aqui estão ganhando de goleada.
Curiosamente, ou nem tanto, esta opção pelo mais fraco que posa de vítima de ardilosas tramóias dos adversários está conquistando os brasileiros. Nossa gente gosta de transformar a realidade em ficção. Adora o triunfo dos menos afortunados. Da vitória sofrida que consola e conforta os corações mais sensíveis. Incrivelmente a vitória por méritos não tem mérito.
Gente, não vamos transformar um mero programa de televisão no espelho de uma realidade distorcida. Vida é vida. Jogo é jogo. O que é o BBB? Um jogo, um entretenimento. Ele não existe para provar teses. Para exorcizar demônios de uma população reconhecidamente sofrida. E, como em qualquer jogo, a estratégia é sua sustentação. Nós, espectadores, ficamos espiando aqueles ratinhos de laboratório se movimentarem em meios a intrigas, banhos de ofurô e sessões de malhação. Essa é a graça do jogo, gente. Não é uma competição de valores morais, de comportamentos e de caráter.
Não há. Repito: não há como os participantes do BBB ignorarem as dezenas de câmeras que flagram 24 horas por dia o confinamento. O que acontece então? Bem, após várias edições do programa os participantes já sabem que devem "criar" seus próprios personagens ao entrarem na casa mais vigiada do país.
Alguns criam para si um personagem que claramente entra no jogo. Um personagem honesto que deixa claro seu objetivo. No entanto, existem aqueles que simulam um comportamento de neutralidade. Esses bradam aos quatro ventos que são autênticos, que não deixaram contaminar seu caráter pela perspectiva de ganhar 1 milhão de reais. O que nos leva a uma questão de fundo: o que estão fazendo lá se não estão em busca do prêmio? Seria apenas por vaidade? Neste caso, são infinitamente mais questionáveis de caráter do que aqueles que fazem um jogo franco e aberto. Ardilosamente, as supostas vítimas do BBB5 manipulam os espectadores alegando que são alvos de preconceito. Olha só, minha gente, querem me tirar do programa porque sou gay! Querem me tirar porque não suportam meu sotaque nordestino! Querem me tirar porque sou pobre! De novo, de novo e de novo surgem as mesmas ladainhas de sempre.
O que leva o povo brasileiro a achar que aqueles do primeiro grupo (os jogadores) são a expressão do Mal, e aqueles do segundo grupo (as vítimas, os "não-jogadores") representam o Bem? Não tenho a resposta. Mas tenho um final para essa história: a boa índole do brasileiro mais uma vez vai levar uma rasteira. Mais uma vez será ludibriada. Mais uma vez seremos espectadores do triunfo da mediocridade.
O destino desta quinta edição do BBB foi traçado já em sua primeira semana. Dois fatos, quase banais, determinaram o futuro do jogo. Quando houve a primeira votação da casa Pedro Bial comentou que Jean, o escolhido por votação na casa, havia recebido seis indicações de seus colegas. Logo em seguida, pego de surpresa pela "rejeição" de seus colegas de confinamento, Jean alegou que estava sendo vítima por sua condição de gay. Pronto. Acabou a lógica do programa. O encanto foi quebrado. A população se mobilizou. Elegeu na primeira semana seus preferidos e conduziu as votações com uma fúria nunca vista em outras edições.
Esta edição do BBB está se configurando a mais injusta de todas. E essa injustiça está nas mãos da população brasileira. Ela já decidiu quem será o(a) vencedor(a) do programa. A história toda perdeu a graça. A população está mobilizada como nunca. E é justamente aí que está a grande injustiça. É um jogo de cartas marcadas. Não há mais o voto espontâneo do público. Aquele inocente e volúvel votinho que a gente dava motivado pelas pequenezas comportamentais e pelos deslizes de caráter dos participantes que nos faziam mudar de idéia a cada semana. Ficou chato. Não há surpresas. A mobilização dos brasileiros matou o BBB5. Por mais que se odeie algum participante do programa (e é bem forte chamar de ódio!), não há outra maneira de explicar as avassaladoras votações negativas dos excluídos do programa. Índices de rejeição na casa dos 80 e 90% fogem a qualquer parâmetro. É uma luta inglória. Esse páreo está corrido. O jogo aberto e honesto perdeu. Vai vencer a manipulação e a dissimulação dos "não jogadores". E viva a boa índole dos brasileiros!
* Jorge Ghiorzi é jornalista, atualmente atuando como coordenador de Planejamento de Eventos da RBS.
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