Ombudsman por um dia

Por Pedro Lagomarcino Fechar a TVE? Como assim? Era só o que faltava. Eis o lead que proponho: – Onde? Por que? Como? E …

Por Pedro Lagomarcino
Fechar a TVE?
Como assim?
Era só o que faltava.
Eis o lead que proponho:
- Onde? Por que? Como? E quem deu espaço para se escrever isso?
A "coluna" de David Coimbra publicada no site da Zero Hora em 23-01-2015 desnuda um jornalista provinciano e macunaímico. Um jornalista anti-herói que em vez de exaltar a importância de um veículo de comunicação como a TVE, decide por se defenestrar do jornalismo, quando evidenciou que a TVE tanto não é importante, quanto se aproxima do supérfluo.
Ora essa, não importante.
Um veículo de comunicação como a TVE ser tratado como "a bola da vez", por quem revelou (e muito bem) desconhecer o que significa viver em uma sociedade da informação e do conhecimento.
É tão ridícula esta constatação quanto a de um médico que nunca foi apresentado a um estetoscópio ou, se o foi, não sabe manuseá-lo.
O que mais me espanta em pequenos jornalistas é a pretensão contida nas entrelinhas de suas expressões. Sim, nas entrelinhas ou do que escrevem, ou do que proferem verbalmente.
Grande parte destes jornalistas gosta de "se dizer" ou "tentar se vender" como "simples", mas nas suas entrelinhas está em destacado neon: a notória tentativa de se avocar a genialidade.
David Coimbra é uma referência nisso.
Nunca fui seu leitor.
Mas, quando um amigo me alcançou para ler a "coluna" a que me refiro, como se a jogasse a em cima da minha mesa me dizendo "tu viu isso!?", tive de lhe dar atenção.
Meu amigo? é algo inacreditável. E mais, mesmo eu, que nunca fui "leitor" de David Coimbra, constatei de forma inquestionável, um pensar, notadamente, pedestre. E isso que o "li" pela primeira e única vez.
Apenas um leitor acometido de uma mente de teletubbie não conseguiria ver, ou melhor, ler as entrelinhas das pretensões do "colunista", porque isso é o óbvio ululante.
Pelo que me contam, ele é "do tipo" que entende de tudo: futebol, política, história, geografia, economia, direito, química, física, literatura, relações conjugais. Enfim, absolutamente tudo.
Ao menos, é o que dizem.
Sempre tive os 2 pés atrás com pessoas que pensam entender de tudo, porque quem entende de tudo, na verdade, não sabe de nada, como revela a dantesca "coluna".
Sei, e é inegável, que todos temos nossas opiniões. Mas, escrevê-las é outra coisa. E fazer isso em um veículo de comunicação pode ser pior ainda.
Escrever em "bloquinho" nossos pensamentos e deixá-los numa gaveta é, confesso, recomendável, desde que ninguém tenha a chave da gaveta. Idem ao computador, desde que ninguém descubra a senha.
Se este "colunista" é "do tipo" que escreve sobre tudo, então estamos diante de um Oráculo de Delfos a ser reconhecido no RS, porque só no RS deve existir um "colunista", do tipo google ao vivo e a cores, com versão anda e fala, dando todas as respostas em uma coluna de jornal.
Em síntese: pobre do jornal. E sendo bem pragmático: pobre dos leitores.
Notadamente, pessoas que "entendem de tudo" têm a convicção que em suas mentes estão não só as ideias mais geniais, como as mais originais.
E como o Papa Francisco anda fazendo muitos avanços na Igreja Católica, certamente não há de escapar da Vossa Santidade, com tamanho sucesso, a canonização deste "colunista". Não bastasse isso, o atavismo que o guiou a escrever a "coluna", o coloriu com as tintas da dissimulação, ao tentar se travestir de um "homem simples", para pretender solucionar um problema estratosférico e de décadas no Estado do RS: a crise financeira que o Estado está imerso. Diga-se de passagem, uma crise que não se sabe onde e como começou, mas sabe-se de sua existência de há muito.
Mas, se para MacGayver um simples grampo de cabelo pode ser transformado em um submarino nuclear, para David Coimbra, a solução de tudo está em se traçar "pensamentos simples".
Ou o correto não seria dizer pensamentos simplistas?
Vamos falar a verdade: simplista. David Coimbra foi simplista e ridículo, com todas as letras, no que "sugeriu" em sua "coluna". Ademais, se todas as soluções de grandes problemas estivessem afetas a pensamentos simplistas, Deus, certamente, não haveria criado a complexidade.
E com o devido respeito, não precisa ser nenhum pouco iluminado para saber que reduzindo-se custos e "fechando torneiras" gasta-se menos, seja na gerência doméstica, seja no gerenciamento das finanças do Estado.
Mas daí a propor o fechamento de um veículo de comunicação, como a TVE, dissimulando simplicidade, através de palavras como não essencial, é dose.
A questão das finanças do Estado do RS perpassa, e muito, o pseudo-gerenciamento realizado através de cortes de gastos com supérfluos. Se fosse apenas isso, a genialidade Coimbriana seria digna de um Nobel. Mas não é, porque é fato que tanto não há recursos, diante dos sucessivos empréstimos contraídos pelo RS com a União, quanto os créditos que o Estado do RS têm com a União, ou não são satisfeitos, ou não conseguem ser, sequer, compensados, são ocasionados em razão da falta de uma urgente reforma tributária e de ajuste fiscal, bem como pela notória falta de gestão, destaco, capacidade, de governos anteriores. Todos, sem exceção, fizeram do Estado do RS uma sucursal do que foi a Prefeitura de Sucupira: muito discurso de obelisco e pouco planejamento e execução de ações coordenadas.
Ocorre que a corrupção que assola o Estado e compromete grande volume de recursos anda "dando em nada" há muito tempo.
O que fazer e a quem recorrer?
A nós mesmos.
Se cotejarmos os números com os nomes que os veículos de comunicação divulgam, iremos constatar que os processos de improbidade se arrastam, ou através de chicanas processuais ou como "tartarugas gordas" que são movidas de uma pilha de processos para outra, nos Cartórios Judiciais, ou para se festejar a prescrição, ou para chegar em lugar algum e, quando muito, a render uma pauta para uma que outra notícia.
Se a divulgação de quem recebe, quanto, como e de quem paga a corrupção não basta, é tempo de mudar o verbo e o método e, em vez de divulgar, representar.
Representar contra os corruptos e corruptores, pois a bem da verdade são todos "vinhos da mesma pipa" e, isso sim, nos deixa verdadeiramente "estarrecidos".
E, eis a cereja do bolo: terminar com a impunidade.
É muito? Sim. Mas é possível, pois tudo depende de nós mesmos. De nos posicionarmos e não nos omitirmos, porque se não nos posicionamos e nos omitimos, somos sim, quer queiramos ou não, corresponsáveis, porque vozes que calam são vozes coniventes. E não há nada mais repugnante quanto a covardia e a conivência.
Um veículo de comunicação ser considerado como não essencial e apenas importante é o mesmo que não entender a importância das veias do corpo humano. Ora, se o sangue representa ou a informação ou o conhecimento, as veias representam os próprios veículos de comunicação, por onde o sangue tem de fluir. E sem veias, todos sabemos, o sangue não circula.
Assim sendo, propor o fechamento da TVE é se deparar com as seguintes hipóteses:
1ª - A inexistência de produção de informação ou de conhecimento a ser compartilhado com todo o tecido social;
2ª - A trombose causada pela obstaculização de se compartilhar informação e conhecimento;
3ª - A autofagia informativa e cultural.
É? foi-se o tempo da Zero Hora ter grandes colunistas.
Bom, falando em foi-se, foi-se o tempo em que a Zero Hora atendia, ao menos, os requisitos da boa gramática e da obediência à norma culta. Aliás, não é raro acessarmos o site da ZH e nos depararmos com palavras escritas sabe-se lá como e por quem.
Das duas, uma. Ou a fome anda comendo até mesmo as letras, ou o veículo de comunicação adotou uma política de contratação aberta, em que a qualquer um é permitido sentar e escrever.
Foi-se o tempo que a Zero Hora produzia suas próprias matérias, na medida em que já se tornou praxe do site constar nos créditos das notícias, ora para como retiradas da EBC, ora do Estadão, ora da Reuters, etc.
É triste ver a Zero Hora como uma versão mais volumosa (em número de páginas) do Diário Gaúcho.
Vamos deixar a província e abrir jornais de maior expressão nacional, para vermos as diferenças?
Em São Paulo, que colunistas podemos ler?
Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar, Demétrio Magnoli, Eduardo Giannetti, Reinaldo Azevedo, Contardo Calligaris, Henrique Meirelles, Clóvis Rossi, J.P Cuenca, Janio de Freitas, Álvaro Pereira Júnior, Mario Sergio Conti, Hélio Swchartsman, Heloísa Negrão, Luiz Felipe Pondé, Dora Kramer.
E no Rio de Janeiro?
Marcos Lamoni, Leonardo Boff, Ilmar Franco, Merval Pereira, Ricardo Noblat, Arnaldo Jabor? acho que já podemos parar por aqui.
E a Zero Hora o que tem a oferecer?
Bom, tem David Coimbra e seu "alter ego" Paulo Sant?Ana.
E?
Eeee?
Eeeeeeee?
E nada mais, é isso.
É lamentável que a Zero Hora tenha decidido se tornar um jornal tão pequeno, permitindo que sejam divulgadas estas verdadeiras gaiatices como a que David Coimbra produziu ao falar da TVE.
A Zero Hora não precisa? tem de se (re)desenhar, se (re)inventar, se (re)inserir e se (re)estruturar, como jornal, quiçá logo. Não me refiro a se (re)layoutar, me refiro à consistência do que se escreve, tanto factual quanto de forma atemporal.
Dar espaço para este nível de "colunas Coimbrianas" é subestimar a capacidade e a intelectualidade de o povo gaúcho discernir, pensar e refletir.
Por fim, não é nada coerente, para um "colunista" que se diz pertencer à imprensa burguesa, propor o fechamento de um veículo de comunicação. Isso é próprio de governos nada burgueses, como a própria Venezuela, de Hugo Chavez, e a Argentina, de Cristina Kirchner, que estatizaram veículos de comunicação, da TV à imprensa escrita, "no canetaço". Tanto não é coerente, como é completamente contraditório.
É, meus caros, ser ombudsman por um dia é tarefa complexa e nada simplista. Apenas quem se permite com os olhos do outro e não com os do seu próprio umbigo, de modo a se permitir criticar e não ser dado a bajulações, é que bem concebe a importância e o papel de um ombudsman para um grande jornal.
Pedro Lagomarcino é advogado com 15 anos de atuação e concentra suas atividades em Direito da Propriedade Intelectual e Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica. Tem o blog www.pedrolagomarcino.wordpress.com.
[email protected]

Comentários