Para que serve a pirâmide invertida?

Por Carlos Castilho* Um congresso sobre jornalismo na internet que tinha tudo para passar em brancas nuvens acabou se transformando no grande tititi acadêmico …

Por Carlos Castilho*
Um congresso sobre jornalismo na internet que tinha tudo para passar em brancas nuvens acabou se transformando no grande tititi acadêmico da virada do ano, quando professores se colocaram em pé de guerra por conta do uso ou não da tradicionalíssima pirâmide invertida nos textos noticiosos online.
O Congresso sobre Novos Meios de Comunicação, realizado em Santiago de Compostela, na Espanha, em 20 e 30 de novembro passado, reuniu a fina flor das faculdades de jornalismo no mundo ibero-americano para debater os problemas do jornalismo pela internet. Entre os participantes estavam especialistas latino-americanos, espanhóis, portugueses e dos Estados Unidos.
A pirâmide invertida nem estava na agenda, mas quando a professora Maria Cantalapiedra, da Universidade dos Países Bascos, fez uma apaixonada apologia do seu uso como fórmula obrigatória para qualquer texto jornalístico, os ânimos esquentaram. O seu colega Ramón Salaverria, da Universidade de Navarra, também na Espanha, considerou retrógrada a defesa incondicional da pirâmide, fazendo críticas duríssimas à professora.
O brasileiro Rosental Calmon Alves, da Universidade do Texas, Estados Unidos, procurou desanuviar o ambiente propondo a criação do Partido Pró-Pirâmide Invertida (PPPI), mas acabou colocando mais lenha na fogueira.
Os egos dos dois professores espanhóis contribuíram para alimentar a discussão, mas esta é bem mais importante do que isto porque teve o mérito de chamar a atenção para a necessidade de desenvolver um formato de texto específico para aplicação em sites de jornalismo online.
Dois argumentos
À medida que a web caminha para projetos multimídia em ambiente de convergência de meios, ficam mais evidentes as deficiências da transposição de textos impressos para a internet.
Como aplicar, por exemplo, o formato da pirâmide invertida em narrativas jornalísticas que envolvam sons, imagens e interatividade? Quase todos os jornalistas sabem usá-la com maior ou menor habilidade, em textos que seguem uma estrutura linear. Mas será que é possível usar o mesmo recurso numa narrativa não-linear, que é a que dá ao internauta a possibilidade de escolher como vai navegar por um tema?
As dúvidas teóricas são muitas e maior ainda a carência de pesquisas e experimentação na questão dos textos online. As experiências feitas até agora estão mais ligadas à preocupação com a ergonomia na leitura do conteúdo de uma página web do que com o estudo da relação entre formatos e transmissão de conteúdos.
O jornalismo, como quase tudo na web, é uma área da comunicação online que está sendo obrigada a criar seus próprios modelos e formatos a partir do zero. A ausência de paradigmas a serem seguidos só pode ser solucionada através da troca de idéias e da experimentação.

* Carlos Castilho é jornalista e pesquisador de mídia eletrônica. O artigo foi publicado originalmente no site www.observatoriodaimprensa.com.br.
http://www.novosmedios.org/congreso
http://www.ehu.es/csc
http://knightcenter.utexas.edu/index.php

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